sábado, 13 de outubro de 2012

Bruno

Quando conheci o Bruno ele ainda não era um actor famoso, não aparecia nas novelas da TVI nem se deixava fotografar à noite, no Bairro, com miúdas fãs dos Morangos com Açúcar. Foi há mais de dez anos e vivíamos numa casa que mais parecia um chalé, ali para os lados da Morais Soares. As reuniões de condóminos eram de chorar, às vezes a rir, às vezes nem por isso. Cada um com a sua pancada, cada um a puxar para seu lado, o Bruno sempre calmo e divertido e simpático para toda a gente, a aturar sem se queixar as maluquices das velhotas do prédio. Eu vivia no primeiro direito, ele no segundo. Um dia convidou-me para ir à estreia de uma das suas peças. Não fui, já não me lembro porquê, se calhar porque nessa noite estava a fechar. Ou era Outubro e havia orçamento do Estado. Ou andava tão cansada por fazer milhentas coisas ao mesmo tempo, que pura e simplesmente só me apetecia dormir. Quantas coisas boas já deixei de fazer por isso. Quantas horas não estive com os meus filhos porque me atrasei a escrever um texto e cheguei a casa muito tarde. Quantas vezes me deprimi porque não consegui uma notícia, porque uma outra não me saiu como eu queria, porque o tempo não me chega para tudo, porque me chateei com uma merda qualquer sem a menor importância. Quanto stress, quanta correria.
Ontem, num dia de particular stress - ou não estivéssemos nós em Outubro -, fiquei a saber que o Bruno morreu. Deu-lhe um fanico, o coração falhou-lhe e morreu. Ainda há dias falei com ele. Tem o mesmo nome de um colega meu e liguei-lhe por engano a pedir o contacto de um deputado qualquer. Ainda nos rimos um bocado com isso.
Às vezes penso que me pode acontecer o mesmo. Acho que todos pensamos. Antes punha-me a pensar que era uma chatice se acontecesse e não tivesse as minhas coisas todas organizadas. Agora já não sou só eu mais as minhas coisas desorganizadas e penso é que não posso deixar que uma coisa dessas me aconteça. E que obrigar-me a ter mais alguma qualidade de vida é meio caminho andado para o evitar.

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