sexta-feira, 30 de julho de 2010

Filhos

Quando era miúda, costumava dizer que quando fosse crescida havia de trazer para casa meninos que nascessem sem pai nem mãe, daqueles que viviam em casas cheias de meninos sozinhos, à espera que alguém os fosse buscar. Durante muito tempo fui gozada na família, pela óbvia impossibilidade prática de alguém nascer sem pai nem mãe, mas a verdade é que a coisa nunca me saiu da cabeça. Anos mais tarde, já adulta, sem filhos e sem pai potencial à vista, muitas vezes pensei que havia de adoptar uma criança, mas a ideia manteve-se no ar, um daquele projectos de longo prazo, para os quais achamos sempre que ainda não estamos preparados. Com o nascimento da Madalena e, depois, do Pedro, o projecto ficou ainda mais adiado, pelas razões mais ou menos óbvias. Duas crianças já dão trabalho que chegue, a casa é pequena, precisamos de mais quartos, o dinheiro nunca dá para tudo e ainda menos para mais uma boca, e depois há os maus horários do trabalho, e a falta de tempo, e os argumentos vão por ai fora, todos muito óbvios, muito óbvios e muito egoístas e egocêntricos. Tudo isto me passou em flecha pela cabeça hoje à tarde, quando alguém que vai ter um bebé em Janeiro, me contou que se candidatou para adoptar uma criança, que está na fila de espera e que pode chegar a todo o momento, antes ou depois do seu filho biológico, não se sabe. Dei por mim a balbuciar umas desculpas merdosas por nunca ter tido a coragem de fazer o mesmo e por, diga-se a bem da verdade, não ter a certeza se alguma vez terei a generosidade suficiente para isso. Porque é preciso uma grande dose. Muito grande, mesmo.

Miss pizza

Adora pizza. Deêm-lhe pizza todos os dias e é uma rapariga feliz. Também podem ser salsichas, mas pizza é, de longe, a grande preferência. Se lhe dizemos que vamos jantar fora é a primeira palavra que diz, pelo que ultimamente conhecemos mais algumas novas pizzarias à conta dela. Hoje encomendei para o meu jantar, mas a ela dei-lhe, previamente, massa com peixe e legumes, que comeu e repetiu. Quando chegou a pizza já ela estava a sair da mesa, mas rapidamente regressou e quase jantou novamente. Para a convencer a parar disse-lhe que já não podiamos comer mais, que o resto era para o papá, que como sempre está a fazer serão. Dona Madalena, muito despachada, resolveu logo a coisa: não, papá não, papá sopa, pizza não, sentenciou, enquanto apontava para mais uma fatia. Tive de a arrastar da mesa e, escusado será dizer que já não houve espaço para sobremesa. E o pai bem me pode agradecer, senão não lhe restaria mesmo mais do que sopinha.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Gaja

Fomos as duas ao cabeleireiro. Ficou de pé na cadeira, para chegar ao espelho, e seguiu atentamente cada corte da tesoura. Muito direita, sem um queixume, com vários sorrisos para a sua própria imagem. E nem reclamou no final, quando a cabeleireira insistiu em lhe secar a franja com o secador, ela que sempre detestou tal coisa. Linda, mamã, linda, disse-me quando saímos. E estava realmente linda. Como sempre, claro.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Pequenos heróis

Farto de tantas vezes lhe ler os livros do Gui, o pai levou dona princesa à Bertrand, para renovar a biblioteca. E caiu no erro de lhe dizer que podia ser ela a escolher. Um erro, porque a rapariga mal poisou os olhos num livro da Kitty agarrou-se a ele e já nada a demoveu. Nada. Nem dois exemplares da colecção do Noddy, outro dos seus grandes amores. Escolhe, Madalena, levas um da Kitty ou dois do Noddy? Nem um sinal de dúvida: Um da Kitty. E pronto. Voltámos para casa com um manual para raparigas, em que a boneca japonesa explica coisas sobre moda, cores de baton, dicas para as amigas e receitas para piqueniques. Ou seja,um livro que não dá jeito nenhum, pois para lhe contar uma história a partir daquilo é o cabo dos trabalhos. E escusado será dizer que não quer mais nenhum antes de de dormir. O que eu não percebo é de onde lhe vem este amor pela irritante boneca japonesa, já que cá em casa os vestígios da Kitty se resumem a uma camisola que lhe deram nos anos (obrigada Carla!) que ama de paixão e que já tem provocado sérias birras matinais quando está para lavar e ela decide que a quer vestir. Ah, e temos também uma mala (obrigada Carla, mais uma vez), mas essa anda desaparecida em combate, suspeito que debaixo de algum móvel.
Suponho que isto só vem provar que não vale a pena eu jurar que cá em casa não vamos atrás de modas, que aqui não entram noddies, rucas, kitties, playstations e companhia (de resto só quem jurou fui eu, que o pai acha o máximo estas coisas). Pouco a pouco, todos vão entrando e os neurónios da rapariga, autênticas esponjas, não deixam passar nada. Mas eu não me resigno. Nunca. Jamais.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Reunião de pais

A escolha da escola da Madalena não foi um processo fácil. As dúvidas eram muitas, as opções nem por isso, e acabámos por nos decidir pela que seria aparentemente a hipótese mais improvável, uma IPSS de um centro social e paroquial aqui da zona. Não é a João de Deus com o seu método de ensino xpto, não é um daqueles colégios privados caríssimos - desses só sinto a falta da carrinha que leva e traz as crianças - é apenas uma escolinha de bairro, com educadoras bastante competentes e meninos de todas as cores e feitios, todos lindos que se farta e com pais muito simpáticos. O primeiro ano está a chegar ao fim, e o balanço não podia ser mais positivo. A princesa - como todos lhes chamam lá na escola - cresceu muito, aprendeu muitas coisas, tem amigos novos e ontem fomos à reunião de pais e trouxémos de lá uma pasta de trabalhos digna de qualquer aluno de pós graduação. E derretemo-nos de alegria, coramos de orgulho, saímos de lá cheios de saudades dela que estava já em casa à nossa espera. Obrigada Susana, obrigada Paula, por tudo o que dão à nossa filha e por nos terem feito acreditar que deixá-la convosco é quase tão bom como tê-la sempre ao pé de nós.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Música

Conhece de trás para a frente as canções do CD que saiu na caixa de farinha Cérelac. Até já lhe fizémos uma cópia para levar para a escola. Do "atirei o pau ao gato", às "pombinhas da catrina", "cavalinho de papel" a "loja do mestre André" ou a "falua de Belém", sabe-as todas, sempre muito afinadinha. E se falha na letra não se atrapalha e inventa. A sua preferida foi durante muito tempo "o balão do João", de tal forma que fizémos uma versão caseira, entoada até à exaustão à hora do jantar:

O papá está a chegar
o papá está quase aí
Madalena, muito linda
logo sorri
o papá quando chegar
põe a chave na porta
e depois, diz contente,
já cheguei filhota.

(Ok, não é propriamente um poema do Pessoa, mas não está mal. E fica aqui para nos lembrarmos mais tarde, quando dona princesa já for uma menina grande.)

sábado, 10 de julho de 2010

Mãos para que vos quero

O Pedro está a descobrir que tem mãos e que lhe pode dar vários usos. Dois, mais exactamente: enfiá-las todas na boca ou agarrar com elas o brinquedo que estiver à mão e metê-lo todo na boca. Também já consegue colocar a chucha sozinho, se bem que me parece que na maior parte das vezes a coisa ainda vai lá por acidente, depois de várias passagens pelo nariz, olhos e queixo. Fica que tempos nisto, entretido com ele próprio e em grandes conversações também com os seus botões. Quando olha para mim, o tom de voz sobe ligeiramente e só se cala quando lhe dou atenção. Nessa altura presenteia-me com um daqueles seus olhares apaixonados a transbordar de amor e largo imediatamente o que estou a fazer, seja lá o que for, para o atacar com uma sessão de beijinhos. Às vezes ainda me custa a acreditar que o tenho aqui e que fui abençoada com este privilégio tão grande que é ser mãe deste bebé.

Anjinho de volta

Não foi preciso palmada, nem vozes mais altas, nem nada. Depois de ter visto atentamente a nova série (blargh...) da Catarina Furtado - tão atentamente que de vez em quando repetia uma ou outra frase - foi calmamente para o quarto, com passagem pela casa de banho para lavar os dentes (já usa pasta e anda entusiasmadíssima com o processo). O pai leu-lhe pela 46ª vez o novo livro do Gui, meteu-a na cama dela e veio para a sala em bicos de pés, sempre à espera de a ouvir chamar. Mas não. Nada. Nem uma palavra. Dorme como um anjinho, agarrada à gatinha, ao ursinho e com o livro do Gui ao lado, também na cama. Só apetece enchê-la de beijinhos.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

ainda as birras

Tanto falei, tanto a elogiei, que a coisa acabou por dar para o torto: há vários dias que se recusa a ficar na sua cama e dormir sozinha, como faz praticamente desde que nasceu. E não há nada que a convença, nem palavrinhas doces nem frases mais bruscas. Nada. Se a deixo no quarto berra furiosamente e vem atrás de mim. Se fico lá com ela, quer que me deite ao seu lado na cama grande e logo a seguir, como me recuso, lá vem mais um dilúvio lacrimal. Se a ignoro e deixo simplesmente a chorar, fica num tal estado de nervos que quase perde a voz e quando chega a esse ponto, as minhas tentarivas de me armar em dura vão por água abaixo. Não aguento vê-la naquele estado, não há nada a fazer.
Recorro mais uma vez ao tio Brazelton, mas não chego a grandes conclusões. Ela tem de aprender a auto-controlar-se, diz o guru. É muito bonito, pois, mas e o que faço ao Pedro, que dorme no quarto ao lado e que, por sua vez, também já foi o cabo dos trabalhos para se deixar dormir? Além disso, dona princesa não é rapariga para se deixar ficar. Quando lhe dá para a birra, segue-me por toda a casa a gritar "mamã, mamã" e se for preciso fica assim a noite toda.
Se amanhã fizer outra fita do género - ontem foram duas horas nisto e hoje repetiu a gracinha - juro que lhe dou uma palmada no rabo. Talvez se me vir realmente zangada perceba que não é aos berros que resolve a vidinha dela. Que raio de rapariga, torta que se farta - e linda até mais não poder - que eu fui arranjar...

domingo, 4 de julho de 2010

ingenuidades

Que há blogues que ganham dinheiro à conta da publicidade já eu sabia, que não sou totalmente ingénua, agora que os houvesse, assinados por jornalistas e a ganhar à custa da dita publicidade, era coisa que não me passava pela cabeça. Não passava porque sou ingénua, naturalmente, mas isso agora é um pormenor de somenos importância. O facto é que, de repente, fez-se luz e percebi porque é que há quem tenha blogues onde escreve a sua vidinha tim-tim por tim-tim, sem omitir informações como o nome do restaurante onde vai jantar ou a marca das cuecas que compra para oferecer ao marido. E nós, leitores curiosos, que até nos rimos daquilo, mas de vez em quando lá vamos espreitar, com a curiosidade de quem no dentista folheia a última Caras, engrossamos a lista dos on-line ou dos que deixam comentários e ajudamos à coisa.
Como, perguntam vocês, ilustres leitores tão distraídos como eu. Pois bem, é fácil. Na verdade, é tudo obra dos nossos especialistas de marketing, que escolhem blogues muito frequentados e lhes propõem lá colocar os seus produtos - sob a forma, por exemplo, de passatempos -, num método de publicidade encapotada e, pelos vistos, muito eficiente.
Não tem nada de mal. Absolutamente. Se alguém que até escreve bem pode ser remunerado por isso, acho lindamente. Mas jornalistas? Não há uma norma qualquer, relacionada com a ética profissional, que proibe estas coisas? Há.

Pronto, foi só um à parte...

Bebé adormece mamã

Bebé não. Manena grande. Pedro bebé, esclarece logo dona princesa. É grande, grande, do tamanho das suas birras e quando mete uma coisa na cabeça, não há nada a fazer. Hoje decidiu que queria que eu dormisse com ela e recusou-se a adormecer na sua cama, como sempre fez sem qualquer problema. Foi um braço de ferro que durou quase duas horas e em que o choro chegou, seguramente, ao quarto andar. Acabou por adormecer no seu quarto, mas na cama grande e eu só não fiquei lá com ela porque não tinha conseguido jantar e estava cheia de fome, porque os olhos já se me estavam a fechar. Não me atrevi a deixá-la a chorar na cama de grades porque temi que no meio da fúria se atirasse de lá abaixo, mas se calhar fazer-lhe a vontade não foi a melhor solução. O Pedro, felizmente, ficou a dormir mal o coloquei no berço, depois de lhes ter lido pela enésima vez os livros do Gui. Ainda não está na idade das birras. Os dois ao mesmo tempo era uma dose para a qual não me sinto ainda preparada. Lá chegarei, suponho. Que remédio.

Mães que me lêem, digam-me, por favor, como é que é possível que o nosso anjinho se transforme de repente num diabinho e agora esteja ali, novamente a dormir, como se nada se tivesse passado?

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Quatro meses

O meu bebé tem o sorriso mais doce do mundo. A sério. E nem é por ser mãe dele, que digo isto, naturalmente. Tem um sorriso que é assim como uma luz que se acende e ilumina tudo à sua volta e não há a menor hipótese de não nos rirmos também, de tal maneira é contagiante. Consegue manter a boa disposição mesmo nos piores momentos. Quando vai às vacinas, por exemplo. Ou quando é dia de visitar a bruxa horrível, como hoje. Fomos à consulta dos quatro meses e o rapaz aguentou-se estoicamente, presenteando toda a gente com o sorriso número cinco (só vacilou no finalzinho, mas cheio de razão, porque já não comia havia para cima de três horas). Está lindo e recomenda-se: 6,300 kg e 63 centímetros só com maminha da mamã.
Já dorme seis ou sete horas seguidas por noite, está muito mais tempo acordado durante o dia e continua com o seu relógio suiço muito afinadinho. Tem imensa pachorra para mim, porque não lhe dou todo o colo que gostaria e que ele também queria, mas só se chateia mesmo quando está com sono. Aí abre a goela e chora a bandeiras despregadas, mas mal o deito na caminha adormece (tal qual o progenitor, mas sem ressonar) e não acorda nem com a Madalena a fazer uma birra das suas mesmo ali ao lado. Está um homenzinho, portanto. Mais um mês e começamos com as sopas. Mais um tempinho e o rapaz vai para a Universidade. Ai valha-me Deus...