terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Carta ao Pai Natal

Reparem na letra, tão bonita. E erros, zero. É Natal, por isso desculpem lá a demonstração do meu estado de mãe babada e cheia de orgulho na filha. Aqui está, pois, a bela carta ao Pai Natal escrita por dona Madalena depois de um aturado inquérito à família. A ideia inicial era que cada um escolhesse três coisas, mas descambou um bocadinho. Os dois acharam melhor dar várias hipóteses ao Pai Natal, não fosse alguma coisa correr mal. O Pai Natal que, já se sabe, é o avô Manuel. Mas só o que aparece em casa dos avós no Alentejo, que o outro, o verdadeiro, garante o Pedrinho que continua a cruzar os céus com o seu trenó e as suas renas.

[A publicidade dos canais infantis é tramada...]



terça-feira, 3 de novembro de 2015

Em Viena

Quatro dias os dois, numa cidade desconhecida, um mapa e um guia na mão, museus, jardins, ruas, lojas, cafés com bolos de reis e eu a sentir-me uma princesa, não digo rainha que me faltava por lá a prole. Este ano foi assim, em Viena, na Áustria, e foi muito bom. Uma viagem a dois pela primeira vez em sete anos, mas com a decisão de lá voltar com eles, porque na verdade é muito bom viajar a quatro e, apesar de a dois haver mais tempo para o namoro, sobra-me uma pontinha de tristeza por não os levar comigo.

Num dos passeios, uma passagem por  Hauptbahnhof, uma gigantesca estação de comboios onde se juntam e esperam refugiados sírios. Não sei há quanto tempo lá estão e são, seguramente, muito menos do que em Setembro ou Outubro, quando as Famíliascomo as Nossas lá foram e trouxeram uma família para Portugal. Mas continuam lá, a dormir no chão da estação, crianças pequeninas a correr por ali, rapazes sozinhos de mochila às costas e telemóvel na mão, famílias na fila na zona da alimentação, onde voluntários distribuem fatias de pão, fiambre e fruta. À espera de um bilhete para um futuro que demora em chegar.

Saímos dali rapidamente. Porque não tínhamos grande forma de ajudar, embora nos apetecesse muito, e porque não queríamos que se sentissem alvos da nossa curiosidade. Saí com um aperto no peito. Apetecia-me falar com eles, ouvir as suas histórias, aplaudir a sua coragem e encorajá-los um bocadinho, mas na verdade o que eles precisam agora – além de que os senhores que mandam na UE se decidam a despachar, em vez de passarem o tempo com conversetas – é de protecção para o frio que aí vem. Roupas quentes e, sobretudo, sacos-cama.

Entregámos a Mifi da Mada e o carrinho do Pedro a dois miúdos que corriam por ali e saímos com o coração apertadinho, a pensar neles e a pensar que podíamos ser nós, que podiam ser os nossos filhos a correr numa estação de comboios, sem uma casa e sem um porto de abrigo.

[As Famílias como as Nossas vão voltar a meter-se à estrada em direcção à Sérvia, Croácia, Eslovénia e Áustria e estão a fazer uma angariação de fundos e uma campanha de recolha de donativos. Uma ajuda pequena (eles são tantos, e precisam de tanto…), mas uma ajuda. ]


[A foto é da Visão, que fez belos trabalhos jornalísticos em Viena]

domingo, 11 de outubro de 2015

Uma bela manhã de Domingo

Domingo. Passa pouco das dez e os miúdos estão a brincar com os amigos em casa dos vizinhos. O pai saiu para fazer o seu exercício e eu estou sozinha em casa. A manhã à minha frente, só para mim. Ora deixa cá ver onde é que vou aproveitar este tempo precioso. Talvez possa arrumar as camas e os quartos. E depois podia pôr em orem algumas gavetas de roupa de Verão. Humm, não me apetece muito. Se calhar começo pela arrecadação, que nós combinámos que hoje era, finalmente, o dia para lhe dar uma volta. Ou talvez possa antes fazer um bolo, que é sempre uma coisa relaxante para mim. Ah, e tenho uma meias para dobrar também. Bom, se calhar vou é sentar-me no meu sofá, a ler um pouco do livro que comecei ontem, do Mário Vargas Llosa, de que estou a gostar tanto. Sim, é isso, que vou fazer. É uma óptima ideia, embora me sinta um bocadinho culpada. Ups, lá está o telefone a tocar, quem será. Pois. é a vizinha a avisar que Pedro acabou de vomitar no meio da sua sala. E que é melhor ir buscá-lo.

E foi assim que se e acabaram as dúvidas. O resto da manhã foi passada a dar banho a um miúdo mal cheiroso e a jogar damas e dominó de letras com ele, a ver se se distraia e não lhe dava para vomitar novamente.

E assim se passou a minha manhã de Domingo.
Pelo menos já não restam sinais de enjoos.

domingo, 20 de setembro de 2015

Fim de férias

Gosto tanto de os ver a brincar juntos. Hoje a casa é deles. Inventaram uma história de mistério, terrível, cheia de piratas e de pistas para encontrar e lá andam os dois, mergulhados numa aventura assustadora pela "terra do mapa" (não me perguntem onde é). Foi assim durante quase todo o tempo, nestas belas férias de Verão. Zangaram-se de vez em quando, claro, quase sempre por causa do comando da televisão, ou porque ele insiste em cantar mal as músicas da Violetta e ela não gosta, ou porque ele, coitado, já não aguenta mais músicas da Violetta. Zangaram-se, mas por pouco tempo, sempre cúmplices, sempre a unirem-se contra nós, os pais, quando alguma coisa corre mal a algum.

Amanhã regressam à escola. À escola a sério, com a Ruca e com a Albertina, cheia de coisa novas pela frente. Os livros estão prontos na mochila, os cadernos, as garrafas para a água, a roupa para mudar, os chapéus para o recreio. Ela acordou-me às 8:30 para vir tratar do que faltava (ele nem por isso) e agora está tudo preparado, junto da porta da entrada.

Foi um Verão comprido e Agosto um belo mês, três semanas entre o Alentejo e a casa mini-minorca de Cabanas onde o Pedro este ano conquistou uma cama só para ele que o deixou todo orgulhoso. Voltámos a encontrar a Beatriz, mais a Luisa e o Paulo, e as duas amigas, que só estão juntas duas semanas por ano, entenderam-se tão bem como sempre. Preguiçámos na relva e na piscina, depois de manhãs compridas na praia, e mal pegámos no carro, a não ser para a inevitável travessia até Espanha para jantar e comprar caramelos ou para visitar as salinas e (tentar) ver os flamingos.

Foi também o Verão em que a Madalena descobriu que gosta de ler livros na praia, em que ela e o Pai se meterem numa perigosa aventura até ao insuflável no meio do mar, em que Pedro se tornou especialista em mergulhos para a piscina e em que os dois se aventuraram (quase) sem medo em compridos banhos no mar. E foi o Verão dos jogos de xadrez e de dominó (com o avô Manel) e de uno.

Sinto falta de viajar, de chegar a uma cidade desconhecida e de a calcorrear, de mapa na mão, sem destino certo. E, no entanto, estas férias de Verão a quatro são tão boas, tão boas, que atenuam essas saudades. Para o ano é que é. Pedrinho e Madalena estão a ficar crescidos e autónomos e prontinhos, prontinhos para viajar sem stresses.

Madalena, o que gostaste mais nestas férias? "Da viagem de barco até à Ilha de Tavira". E tu, Pedro? "Foi do mesmo da Madalena. E da praia".

E do que gostaram menos? "Não sei, não me ocorre nada", diz ela, a palavra certa no momento certo. E tu, Pedrinho? "Não lembro-me".

sábado, 29 de agosto de 2015

Pedrinho e o nascimento do mundo

- Pedrinho, gostas de mim?
- Sim.
- Muito?
- Muito.
- Muito, muito, muito?
- Muuuiiitoooo.
- Até onde?
- Daqui até .... Deus. Podia dizer até aos macacos, mas digo até Deus, que é mais, não é, mãe? Era Deus, depois os dinossauros, depois morreram e vieram os macacos e os macacos transformaram-se nos homens, e foi assim.

E foi assim. Tudo da lavra dele nos seus belos cinco anos. E foi a melhor resposta de sempre ao meu jogo preferido de mimalhice, muita mimalhice.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Pedrinho disse um palavrão

Um dia, durante a semana que passaram com a avó Gracinha, chegaram a casa com uma preocupação: o Pedro disse um palavrão. Foi a Madalena que contou, mas ele confirmou, um bocadinho envergonhado com a coisa. E qual foi o palavrão? Ninguém se lembrava. Mas era muito forte, mãe, foi muito grave, garantiu ela. Foi, confirmou ele, cabisbaixo, mas com um ligeiro sorriso. E onde disseste o palavrão? Foi no parque, a umas “mininas”. Lá tivemos a habitual conversa, palavrões não se dizem, bla, bla, bla, e decidimos perguntar à avó qual tinha sido, afinal, o objecto do delito. Não sabia, não ouviu nada, ninguém a informou de nada. A conversa ficou por ali. Até ontem. Pedrinho, no Alentejo, repetiu a proeza, leia-se, o palavrão. E a mana, que nunca se esquece de nada e andava irritada por não se lembrar daquilo, correu a telefonar ao pai a contar. Estão preparados, queridos quatro leitores? Então aqui vai: “Totó”. Pedrinho disse “totó”. Desta vez, imagino, a destinatária foi a mana.  E foi isto.

[Estou aqui que não me aguento com saudades destes dois…]

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Pedrinho, o conciliador

Sexta-feira, cansaço, preguiça,pai que saiu muito cedo, muitas coisas para arrumar nas mochilas, a correria habitual e... atrasámo-nos. Chegámos à escola cinco minutos depois da hora de saída para uma das actividades de férias e o Pedro e a Madalena já não puderam ir. Ele ficou satisfeito, ela aborrecida, porque todas as amigas tinham ido e agora o que é que ela ia fazer uma manhã inteira sem elas? Pois é, Madalena, digo eu, toda chateada com o atraso, estás a ver porque é que te devias ter despachado mais depressa? Mãe, tu é que nunca mais paravas de arrumar coisa, responde logo ela, que tem sempre resposta para tudo. Fomos os três que demorámos, pronto, disse o Pedro, do alto dos seus cinco anos. E assim se acabou a discussão. Claro que, antes de entrar na escola, foi atacado com beijinhos.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Primeira semana de Algarve

 
E de repente já estamos em Julho e na nossa semana de Algarve, na casa mini-minorca tão boa, Cabanas com quase ninguém, o senhor Custódio dos barcos, os senhores das bolas de Berlim, espreguiçadeiras na piscina, conquilhas e amêijoas na Fábrica, tudo tão igual ao ano passado e no entanto já lá vai quase um ano.
Madalena nada que nem uma sereia (ainda não atinou bem com os mergulhos de salto, mas chega lá), Pedrinho também, mas com braçadeiras, que ele é um rapaz prudente. Passam o tempo enfiados dentro de água ou a brincar na areia e, com um olho no burro e outro no cigano, nós quase conseguimos ler o jornal ou, simplesmente, não fazer nada e ficar apenas a olhar para anteontem.
Apesar da crise da Grécia, que nos apanhou já encaminhados a Sul (quem se lembra de convocar um referendo numa altura destas?), fomo-nos inteirando das notícias o menos possível e a televisão só se ligou no dia em que houve Eusébio e Panteão (cromices).
Houve jogos de cartas a quatro pela primeira vez - Pedrinho e Madalena aprenderam a chamar os naipes pelos nomes e as regras do Kemps - e houve 31 de boca e histórias de países em cinco minutos. Digam lá um país que eu conto tudo sobre ele, dizia o pai. Argentina, pedia a Madalena (país da Violetta, para quem não sabe); China, pedia o Pedrinho, sem grande sorte, porque a Argentina é também a terra do Messi e pronto, está-se mesmo a ver como foram usados os cinco minutos.
Num dia, na praia, Pedrinho estendeu-se na toalha, suspirou e disse: Esta família é tão boa... E é que é mesmo.

(Em Agosto estamos de volta)

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Os sete anos de dona princesa

Acordou pouco depois das seis e meia da manhã, fresca que nem uma alface, prontinha para ver as prendas de anos para depois escolher o que haveria de vestir para levar para a escola. Resignámo-nos e ainda não eram sete estava toda a gente fora da cama. Não é todos os dias que se fazem sete anos, há festa na sala dela, é preciso tratar do bolo, dos sumos, tanta preocupação e os sapatos novos - uma das prendas - afinal não servem, que ela cresce, cresce, todos os dias um bocadinho mais e qualquer dia está da altura da mãe. Dona princesa faz sete anos e eu ainda estou a digerir a ideia de que tenho uma (quase) pré-adolescente em casa, que já lê livros sozinha antes de ir dormir, que me pede só mais uma página, mãe, só mais uma página, que está numa parte tão importante. E que quer, porque quer um tablet, e que já faz pesquisas no Google para trabalhos na escola, apesar de ainda só estar no 1º ano e que me faz perguntas difíceis, cada vez mais difíceis, porque quer saber tudo, quer aprender tudo. Não sei mais o que vos diga. É linda, é inteligente, é minha filha.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Dúvidas existenciais em período pascal

Páscoa em Lisboa. Madalena, ja quase a terminar o jantar, resolve colocar ao avô uma questão em relação à qual, explicou, tinha muita curiosidade: Avô, tu acreditas em Deus? O avô engasgou-se, demorou-se um pouco mais numa garfada de lasanha (de atum que hoje, já se sabe, não se come carne, como muito bem justificou dona princesa mal se sentou à mesa) e, um bocadinho titubeante, lá respondeu, à sua maneira, que não critica, mas que acreditar, acreditar, nem por isso. Ainda estou a pensar, concluiu. Eu também estou a pensar, mas não sei se acredito muito, disse a neta. A Alice [melhor amiga da escola] diz que não acredita nada nessas coisa, eu ainda estou a pensar.

[Continua a pensar, querida Madalena. O importante é que penses e reflictas sobre o assunto. Um dia, hás-de conhecer a (tua) verdade, seja ela qual for]

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Pedrinho, antes de ir dormir e depois de um jogo que consistiu na leitura de um livro, por dona princesa, e perguntas sobre o dito a toda a família, para testar os níveis de atenção: Eu também quero fazer uma pergunta a toda a gente, quem é que fez as coisas todas no mundo? Foi Deus, respondeu a avó, muito despachada. Não foi nada, foram os senhores das obras, corrigiu ele, a rir que nem um perdido. Ai é, e quem é que fez os senhores das obras? Foi Deus..., lá teve de admitir o nosso pequeno beato.

[Já deitado, antes de se pôr a dormir, ainda foi buscar um livro para "ler" sozinho: "75 Perguntas Fascinantes Sobre o Universo]

domingo, 22 de março de 2015

Ai a Cinderela, a Cinderela.

Lá fomos ver, para grande desgosto do Pedrinho, que preferia o Paddington, mas estava esgotada a última sessão da tarde dobrada em português. Mada gostou de tudo. Gostou do vestido azul, do príncipe de dentes muito direitinhos (se calhar é uma próteses, coitado, que até parece aquele apresentador da Benfica TV que agora não me lembro o nome), dos ratinhos, da abóbora, de tudo, de tudo. E quando o sapatinho finalmente enfiou no pé da sua legítima dona e já se estava mesmo a ver que o fim estava próximo, dona Mada perguntou: Está quase a acabar, mãe? eu quero continuar a ver, pelo menos mais uma hora.

Já o Pedro... bom, o Pedro não gostou assim muito, muito, porque aquilo era história de meninas e não se deixou impressionar nem sequer com os caçadores na floresta ou os cavalos da guarda real. Só achou graça à transformação da abóbora em carruagem, dos ratos em cavalos e dos lagartos e do ganso em gente verdadeira para conduzir aquela traquitana cheia de dourados. Saiu de lá a dizer, como se fosse um mantra: Paddington, Paddington, Paddington...

O filme não é a melhor coisa que a Disney já fez, mas, pelo menos, arranjaram uma explicação para o facto de à meia noite tudo se transformar e voltar ao que era dantes menos o belo do sapato de cristal. Madalena ficou satisfeita, porque lá teve resposta a uma das suas dúvidas existenciais, que vinha à baila sempre que líamos a história.

(Solução: na hora de verti a rapariga para o baile, a fada fez os sapatos, não se limitou a transformar os velhos e a pô-los bonitos. Fácil, pois, não sei é se é o que está na versão original do Charles Perrault).

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Cem anos, como a avó Graça

Acordou a rir a meio da noite, um sonho com grandes gargalhadas, e chamou. "Mãe, vem cá". E eu lá fui, tonta de sono, aconchegar-lhe os cobertores e ouvi-lo dizer "quero miminhos" e "as tuas mãos estão muito quentinhas" para logo voltar a dormir. De manhã, saltou da cama antes de toda a gente e passou por mim para ir à casa de banho, com cara de mau e aquele sorriso-de-quem-não-quer-sorrir, igualzinho ao do avô Manel, porque hoje faz cinco anos e portanto toda a gente tem de lhe dar beijinhos e prendas. E gostou de tudo, mesmo da roupa que, enfim, já se sabe, não é prenda. Saiu para a escola de farpela nova, óculos azuis espelhados (prenda da mana) e um bocadinho triste por não poder levar também o novo equipamento do Benfica (ai,ai, tio Rui...). Estava filosófico. No caminho perguntou-me "qual é a coisa mais 'impotatante' do mundo", uma questão difícil, já se sabe, com tanta resposta possível, e que para mim não tem dúvida nenhuma que não é uma, são duas, um menino e uma menina. "A coisa mais importante do mundo é não ficarmos doentes e sermos felizes, Pedrinho". E a Madalena ajudou: "Não ficar doente e não morrer. A Avó Graça está a conseguir as duas e já vai fazer 100 anos".
É o que te desejo, meu querido: 100 anos, como os da avó Graça.

domingo, 18 de janeiro de 2015

# Os nossos trabalhos - pregadeiras e pulseiras

Trabalhos de um fim-de-semana de gripe. Duas pregadeiras que serão duas prendas de anos.

E mais uma pulseira para a Inna - uma das aniversariantes -, esta feita por dona Mada. Está uma profissional do crochet.

O amor

No final da primeira semana na escola nova, voltámos à escola antiga para um lanche com os amigos. Pedrinho foi recebido com grande alarido, muitos abraços e beijinhos, e voltou a sentar-se no seu velho lugar no refeitório. Foi ai que contou tudo sobre a escola nova, perante os olhares de admiração dos amigos, que nem queriam acreditar que ele agora já não dorme a sesta e que a seguir ao almoço vai sempre para o recreio, onde até há um escorrega.

Também trouxe já para casa os trabalhos que tinha feito no primeiro período na escola antiga. Entre eles uma bela estrela, a dizer que "o Natal é amor". Fui eu que disse à Mariana, explicou-me. E porquê? Porque [no Natal] ia ficar com a mamã, com o papá, com a minha família... é o amor".

É mesmo, Pedrinho. É um amor muito grande.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Valente Pedrinho


 O Ano Novo trouxe-nos uma novidade: uma vaga no Jardim de Infância na escola da Madalena deixada por uma menina cujos pais emigraram para França. Pedrinho estava em primeiro lugar e a vaga era para ele, mas foi difícil tomar a decisão de o tirar da sua zona de conforto, a meio do ano, e mudá-lo para uma sala cheia de meninos desconhecidos e sem os professores que conhece desde os 18 meses. Na impossibilidade de pedirmos aos nossos próprios pais que nos resolvessem eles o imbróglio, lá nos enchemos de coragem. Pedrinho mudou mesmo de escola. Começou ontem, muito sério, corajoso, sem um queixume, a não ser a constatação de que “o Bernardo e o Pedro Santana vão ficar muito tristes”. À noite, em casa, não quis falar muito sobre o assunto. Sim, a escola foi boa. Sim, a professora também. No recreio brincou com a mana e com os amigos da mana. E os brinquedos “são fixes”, até há um camião do Faísca com o Faísca lá dentro. A sopa de abóbora e a massa também eram boas, agora a “laranja com casca” é que nem pensar. E foi o último a acabar porque esteve a falar com um amigo sobre as coisas que comiam. “O meu amigo come tubarões e eu uma baleia. É tudo faz de conta, mamã.” E como se chama o teu amigo? “Não sei.” E acabou ali a conversa.  
Esta manhã o acordar foi difícil. O pequeno-almoço lento. Queria a mamã. Depois queria o papá. Mas lá foi. Novamente sério, novamente corajoso, sem nenhuma queixa. Sem choros. Um menino valente, que está triste, mas não dá parte de fraco e que nos deixa com o coração ainda mais apertadinho.