lenga-lengas


Bico, bico, sarabico

Bico, bico, sarabico
Quem te pôs tamanho bico,
Foi a velha cascalheira,
Pôs os ovos, na ribeira
Para a filha da tendeira,
Varre, varre vassourinha
Varre, varre vassourão,
Tira a mão,
Que é de cão.



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Bichaninha gato

Bichaninha gato,
que foi que comeste
sopinhas de mel e azeite
estavam no olho da mó
tapadas com o rabo do gato

Chlap, chlap, chlap

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Sola sapato

Sola sapato
rei, rainha
foi ao mar
buscar sardinh
para a filha do juiz
que está presa,
pela pnta do nariz.
Salta a pulga
da balança
dá um pulo
até à França
As meninas, a correr
as meninas, a aprender
qual será a mais bonita,
faz favor de recolher.

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Padre nosso pequenino

Padre nosso pequenino,
tem a chave do menino
quem lha deu, quem lha daria
são Pedro, Santa Maria
cruz em monte, cruz em fonte
nem de dia nem de noite
nem à hora do meio dia.
Já os galos cantam,
já os anjinhos se levantam,
já o Senhor subiu à cruz,
para sempre amém, Jesus.

(este era o pai nosso que o avô Aniceto ensinava aos netos. Na minha hierarquia de orações antes de ir para a cama vinha em segundo lugar, logo a seguir ao Pai Nosso propriamente dito e antes da Avé Maria)


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Oração das trovoadas

São Jerónimo
se levantou
sua mão benta lavou
seu pé bento calçou
e a Virgem lhe pergunto:
Jerónimo, onde vais?
Vou espalhar as trovoadas
que por cima de nós andam armadas,
para que não caiam em beira,
nem raminho de figueira,
nem raminho de hortelã.
Vou salvar,
por todo o mundo cristão.

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Conto da Pega

Era uma vez duas comadres que andavam brincando, uma Pega e uma Zorra. Mas a Zorra rasgou o papo à Pega, esta ficou zangada e disse-lhe: agora tens que me coser o papo. Mas como, se não tenho linha?
Diz a Pega, vai pedir à Égua que te dê uma seda do rabo e assim já tens linha. A raposa lá foi: pediu à Égua que lhe desse uma seda para coser o papo à comadre Pega, responde a Égua Então dá-me erva, a Raposa foi pedir ao Vale, Vale dá-me erva para eu dar à Égua, para a Égua dar uma seda para eu coser o papo à comadre Pega, responde o Vale: então dá-me água. A Raposa foi pedir à Núvem, Núvem dá-me água, para eu dar ao Vale, para o Vale me dar erva para eu dar à Égua, para a Égua me dar uma seda para eu coser o papo à comadre Pega. Responde a Núvem: então dá-me uma borrega. A Raposa foi pedir ao Moiral, Moiral dá-me uma borrega, para eu dar à Núvem, para a Núvem dar água, para eu dar ao Vale, para o Vale dar erva, para eu dar à Égua, para a Égua dar uma seda, para eu coser o papo à comadre Pega. Responde o Moiral: então dá-me um cão, a Raposa foi pedir à Cadela, Cadela dá-me um cão, para eu dar ao Moiral, para o Moiral dar uma Borrega, para eu dar à Núvem, para a Núvem dar água, para eu dar ao Vale, para o Vale dar erva, para eu dar à Égua, para a Égua dar uma seda, para eu coser o papo à comadre Pega. Responde a Cadela: então dá-me um pão. Foi pedir à Padeira, Padeira dá-me um pão, para eu dar à Cadela, para a Cadela dar um cão, para eu dar ao Moiral, para o Moiral dar uma borrega, para eu dar à Núvem, para a Núvem dar água, para eu dar ao Vale, para o Vale dar erva, para eu dar à Égua, para a Égua dar uma seda, para eu coser o papo à comadre Pega.
A Padeira foi sua amiga: deu-lhe o pão, foi dá-lo à Cadela, a Cadela deu-lhe o cão, foi dá-lo ao Moiral, o Moiral deu-lhe a borrega, foi dá-la à Núvem, a Núvem deu-lhe água foi dá-la ao Vale, o Vale deu-lhe erva, foi dá-la à Égua, a Égua deu-lhe a seda e ela foi coser o papo à comadre Pega.

(Contribuição da avó Fátima, que costumava contar este conto à mamã e agora o rebuscou na memória com a ajuda do avô Manuel.)


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A menina Loló

Tinha a menina Loló

Uma sábia bonequita:
Aquilo bastava só
Puxar a gente uma guita
Que lhe pendia por trás,
Sob o vestido de lã,
Para abrir a boca, e zás!
Dizer papá e mamã!

Ora a Loló também tinha
Uma gata (era maltesa).
Essa, porém, coitadinha.
Era muda, com certeza.
Miava apenas ; mais nada.
De maneira que a pequena
Andava desanimada,
Até chorava com pena!

Um dia pensou: «Talvez
A doença tenha cura…».
(A doença era a mudez
Da citada criatura).
Se o mesmo fizer à gata
Que à mona, quem sabe lá
Se a língua se lhe desata
E diz mamã e papá.

Dito e feito. A pequerrucha,
Quando a bichana dormia
Puxou-lhe a cauda gorducha:
Dois saltos fenomenais.
Uma forte arranhadela.
E… quem chamou pelos pais
Não foi a gata. – foi ela!

Desde então Loló, se passa
Ao pé de um gato ou dum cão.
Não lhe toca nem por graça.
Pois lhe serviu de lição.
Não compreende, porém.
Qual venha a ser, afinal,
A serventia que tem
A cauda de um animal…


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A bela infanta


Estava a bela infanta
no seu jardim sentada
com um pente de ouro fino
seus cabelos penteava

Deitou os olhos ao mar,
viu vir uma grande armada
capitão que nela vinha
muito bem a governava

Dizei-me vos capitão
dessa tão formosa armada,
se vistes o meu marido,
na terra que Deus pisava

Anda tanto cavaleiro
naquel terra sagrada,
Dizei-me vos senhora
os sinais que ele levava.

Levava Cavalo branco,
Selim de prata dourada
na ponta da sua lança,
a cruz de Cristo levava

Com tais sinais senhora
tal cavaleiro não vi
mas quanto dareis vós
a quem o trouxer aqui?

Daria tanto dinheiro
que não tem conto, nem fim
e as tenhas do meu telhado
que são de ouro e de marfim

Guardai lá vosso dinheiro
e as telhas de ouro e marfim
vosso marido qui está,
reparai bem para mim

Este anel de sete pedras
que eu convosco reparti...
que é dela a outra metade?
pois a minha, vê-la aqui

Vinde cá oh minhas filhas
que o vosso pai é chegado
vamos dar graças a Deus,
Graças a Deus consagrado