terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Hoje fiz anos

Quantos anos fazes, mamã, pergunta ela, já fartinha de saber quantos são. Faço 40, respondo. Não fazes nada 40, mãe, não digas coisas que não são verdade. Ora, esta é a minha verdade, digo eu, a ver se a convenço. Não consigo, mas o Pedrinho, sempre aliado da mamã, declara: a tua verdade é a minha verdade, por isso fazes 40. 
E foi assim. E foi um dia muito bom, com uma caça ao tesouro para descobrir a prenda deles escondida na gaveta dos sapatos, um almoço a três, um lanche com sabor a chocolate (obrigada queridas amigas) e um jantar muito bom, com bolo e velas à sobremesa. Foi um sua que também teve muitas mensagens e mails de parabéns, telefonemas ainda melhores (alguns de amigos especiais que não vejo há muito tempo e de quem tenho muitas saudades) e muito, muito mimo. Hoje foi bom fazer anos.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Um dia chelente

Dona princesa, muito crescida, saiu e foi ao ballet no Teatro Camões com a tia Xanda e as primas Ana e Catarina ver "O Quebra Nozes". Pedrinho jantou com os pais, conversou, brincou, cantou e até dançou. Depois escolheu o livro para ler e quando finalmente se convenceu a ir dormir, anunciou: "hoje foi um dia chelente. Um dia de pai, mãe e fio. Mas eu não consigo domir sem a Mananena aqui..." Adormeceu daí a um minuto. 

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Carta ao Pai Natal

Finalmente ficou pronta a carta deste ano ao Pai Natal. Não foi uma tarefa fácil porque desta vez foi totalmente escrita por dona princesa e, como podem constatar, são muitas letras e palavras.

A selecção foi demorada. Pedrinho garantiu por várias vezes que não conseguia escolher e, de facto, está um bocadinho monotemático. Madalena só se lembrava da Carlota Cambalhota, uma boneca pavorosa, mas cujo anúncio tem uma música que fica no ouvido. Ela não queria a boneca, mas gosta da cantilena... Desistiu, vá lá. Já os anúncios da Playmobil, pelos vistos, também são irresistíveis. Menos mal.

(aviso aos possíveis interessados: por favor contactem os pais antes de qualquer aquisição, porque algumas destas belas ideias até já estão compradas.)

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Coisas de mãe

No Domingo mal estivemos juntos de manhã, antes de eu ter de sair para uma tarde de trabalho que se prolongou até tarde. Quando cheguei a casa, Mada estava muito cansada, mas recusava-se a dormir. Quando o Pedro adormecer, vou para a tua cama, que assim ele não fica triste, está bem, mãe? Combinámos que sim. Eu convencida que entretanto quem se deixava dormir era ela e ela decidida a cumprir o combinado. E cumpriu. E eu tive de a deixar ir para a minha cama, que estas promessas não se fazem em vão. Por isso deitei-me com ela, as duas muito aconchegadas, quentinhas, num abraço tão bom, e de repente era como se fosse eu pequenina, deitada na cama com a minha mãe, quando o pai ainda não tinha chegado a casa e ela fazia crochet ao meu lado para eu adormecer. Não faço ideia de quantos anos tinha, mas lembrei-me tão bem, tão bem, e tive a certeza de que nunca mais me voltei a sentir tão segura. Adormecemos ali as duas, eu e a Mada. Espero que daqui a muitos anos ela também se recorde de mim assim.

sábado, 22 de novembro de 2014

Que bela maneira de estragar um sábado

Meninos a caminho da piscina com o pai, eu de pijama no sofá, a beber chá e de livro na mão. Tenho duas horas só para mim pela frente, tanto tempo, tanto tempo para fazer o que me apetecer. Talvez fique por ali a ler. Ou, se calhar, podia aproveitar para, finalmente, tirar toda a roupa de verão das gavetas. Ou então, podia ir apanhar as folhas que já tapam a relva no jardim. Ná… fico mesmo pelo sofá, de livrinho na mão. Duas horas só para mim são coisa demasiado rara para não as aproveitar ao segundo. Mas, antes, vou só espreitar o Facebook, a ver se há novidades. Vou e pronto, foi o maior erro do meu sábado. "José Sócrates foi detido na sexta-feira à noite no aeroporto, quando chegava a Lisboa. Corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal". Lá se vai o fim-de-semana longo que tenho pela frente. Há folhas para apanhar, é preciso ir ao supermercado, pensar nas refeições da próxima semana, pôr a roupa na máquina, arrumar os quartos, os brinquedos, fazer o mais possível no menor tempo possível porque há trabalho pela frente. Quem me mandou a mim ir espreitar as notícias? Estava tão feliz na ignorância.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Filho querido de sua mãe


Pedrinho para a mamã, logo de manhã, depois de acordar e de saltar para a cama dos pais, como faz todos os dias: "mãe, eu só quero fazer tu feliz." Gramáticas à parte, este miúdo faz-se. Assim é fácil acordar, nem que seja de madrugada, como acontece de vez em quando graças à energia matinal dele.

domingo, 12 de outubro de 2014

Uma filha no primeiro ano

Dona princesa saiu de casa um bocadinho angustiada, mas nada de muito excessivo e, sobretudo, nada que não se compreendesse perfeitamente, ou não se desse o caso de aquele ser o seu primeiro dia de aulas, no primeiro ano, na sala do andar de cima e com a professora Ruca que, até aí, ela só conhecia dos corredores da escola.

À noite, já em casa, resumiu assim a coisa: “Hoje foi um dia bom. Gostei deste dia”. Era o que se queria, porque a expectativa tinha sido muita. A mochila com as meninas do Frozen, o estojo também, os lápis, as canetas, a capa, os cadernos, tudo novo, tudo à séria, tudo visto e revisto tantas vezes.

A turma manteve-se quase igual à do último ano do JI. A amiga Alice, sentada ao seu lado (ao fim de uns dias tiveram de ser separadas, porque falavam muito, agora estão juntas novamente, como meninas crescidas que são), a Lara, a Ema, a Carolina e todos outros meninos e meninas que já conhecia do ano anterior.

Desde aí, está nas suas sete quintas. Na escola corre sempre tudo bem. Que fizeste hoje? Nada de muito interessante, responde. Já lê com uma grande rapidez, faz as fichas de matemática com uma perna às costas e está sempre a dizer que fazer os trabalhos de casa “é uma seca”. Ainda assim, faz tudo perfeitinho. Tão perfeitinho, com tamanho perfeccionismo, que leva muito tempo e por isso lá vem a frase sacramental: “é uma seca”. Pois, percebe-se: escreve três letras e apaga duas, porque a perninha do “a” não está direita ou o “u” parece um “4”. Explica que Tem de “ter boas notas” e depois conta, muito orgulhosa, que a professora “disse que estava tudo bem”.

Felizmente (diz ela e digo eu, ainda que sem ela ouvir), só há trabalhos à terça e ao fim-de-semana. Pedrinho, sempre muito atento, também fica satisfeito, porque assim tem a mana mais vezes para brincar com ele.


Já lá vai mais de um mês desde o início das aulas, mas devíamos este post aos nossos quatro leitores fieis (ok, talvez cinco, já contando com as avós). 

sábado, 13 de setembro de 2014

Férias boas, boas, boas



Este ano a banda sonora mais ouvida das férias foi um CD da Adriana Calcanhoto, que lhes apresentámos e que se tornou um sucesso. Ouvimo-lo até à exaustão e aprenderam de cor todas as canções. Foram umas férias tão boas que combinaram na perfeição com a música da Adriana Calcanhoto. Férias com manhãs de praia e tardes de piscina. Sem carro, sem jornais, sem televisão, com livros da Alice Munro e do Mario Vargas Llosa. Com passeios pela ria e pela praia para apanhar conchas. E brincadeiras no relvado grande com a Beatriz, a amiga de sempre das férias. Com jantares no Ideal (ok, foi só um, afinal era Agosto) e a tradicional visita a Espanha, desta vez para comprar uma mochila nova para a escola. Foram umas férias muito boas, com Pedrinho e Madalena a brincar imenso um com o outro e a deixar os pais dormir a sesta. E depois, no Alentejo, os habituais miminhos da mãe e do pai (ou avó e avô, consoante a perspectiva). Até o regresso a Lisboa e à nossa casa cheia de gatos e a cheirar a gatos foi bom, depois de três semanas fora. No fim disse à Madalena e ao Pedro: mesmo quando vocês forem crescidos e forem de férias com os amigos, reservam sempre uma semana para virem com os pais, boa? Sim, mamã, respondeu o Pedrinho, entre beijinhos. Tenho de pensar, declarou dona Madalena.

sábado, 30 de agosto de 2014

O dia em que o bisavô saiu no jornal

No jornal Público
A propósito do centenário do início da Primeira Grande Guerra, o jornal Público tem feito um trabalho muito interessante de análise histórica do que aconteceu nos anos de 1914-1918. Uma das rubricas diárias chama-se Memórias de Família e conta pequenas histórias de soldados que fizerem a guerra e que continuam a ser lembrados pelas suas famílias.

A história de hoje é a do Avô Aniceto, Bisavô da Madalena e do Pedro, que nasceu há 120 anos, esteve na guerra da Flandres, foi feito prisioneiro pelos alemães e voltou ao seu monte alentejano quando já todos o davam como morto.
Fica aqui, para que os seus bisnetos também o recordem sempre:


As histórias do avô prisioneiro de guerra

Muitos anos depois de ter voltado, Aniceto José gostava de se sentar no canto da chaminé, na sua casa do monte alentejano, a beber chá e a contar histórias aos netos. Sabia muitas, e por vezes contava-nos também coisas do tempo da Grande Guerra. De como o frio apertava nas trincheiras e os soldados comiam sopa aguada dentro dos capacetes que usavam na cabeça. E dos alemães, que o fizeram prisioneiro na batalha de La Lys e que, no fim de contas, assim lhe salvaram a vida. Era o herói da família, este avô que nunca matou ninguém porque lhe deram a tarefa de maqueiro e que a família deu como morto, mas que conseguiu regressar são e salvo da maior aventura da sua vida.

Aniceto José nasceu em 1895 na aldeia da Trindade, entre Beja e Castro Verde, no coração do Alentejo. Era ainda adolescente quando lhe morreu o pai e habituou-se desde cedo a trabalhar na lavoura e a cuidar da mãe e das cinco irmãs. Tinha 20 anos quando foi chamado a fazer a tropa e 22 quando, num dia que nós imaginamos cinzento e chuvoso, partiu do monte da Caxia, onde então vivia, para o comboio que o haveria de levar a Lisboa para embarcar para a Flandres.

A partida esteve longe de ser pacífica. Houve quem desertasse e quem simplesmente lhe desse para andar pela cidade, onde, quase de certeza, a maioria nunca tinha estado. O avô contava que muitos embarcaram à força, “por ordem do Sidónio Pais, que os vendeu a todos aos ingleses por uma libra por cabeça”. Não era homem de ligar muito à política, mas do Sidónio Pais nunca gostou.

Os recrutas de Beja integraram o Regimento de Infantaria 17 do corpo Expedicionário Português (CEP), que embarcou para França a 21 de Agosto de 1917. Ninguém sabia muito bem o que iria encontrar, mas era certo que não seria bom e o avô Aniceto haveria de levar o coração na boca. Mesmo aos netos, que o consideravam um herói, reconheceu muitas vezes o medo que teve, que todos tinham, escondidos nas trincheiras à espera dos bombardeamentos alemães. Nunca matou ninguém, mas viu a morte de frente tantas vezes, que lhes perdeu a conta, porque, como maqueiro, tinha de recolher do campo de batalha os mortos e os feridos. Disso não gostava muito de falar. Preferia contar coisas sobre os alemães, que o fizeram prisioneiro a 9 de Abril de 1918, na histórica batalha de La Lys.

Esteve oito meses em Wesel, junto à fronteira com a Holanda onde, nas margens do Reno, ficava o campo de prisioneiros de guerra de Friedrichsfeld. Desse tempo sobreviveu um postal, enviado à mãe, Joaquina Maria: “Minha querida mãe, muito lhe desejo a sua saúde e bem e assim como as minhas manas e meus sobrinhos e toda a nossa família que me pertence, que este seu filho goza saúde. Minha mãe, peço que me diga as novidades. Sem mais, abrace muito as minhas manas e recomende a toda a nossa vizinhança. Aniceto José”

Aprendeu a ler na tropa, mas pedia a alguém que lhe escrevesse as cartas. E foi isso que deu origem a uma grande confusão, que levaria a família a dá-lo como morto: num outro postal que chegou ao Alentejo, lia-se que ele estava “na companhia do padrinho”, que também tinha ido para a guerra. Acontece que, pouco tempo antes, chegara a notícia de que o padrinho tinha morrido, pelo que a família pensou que aquela era uma forma de os colegas contornarem a censura que se fazia à correspondência dos prisioneiros e assim lhe dizerem que ele estava morto.

Aniceto regressou a Portugal a 18 de Janeiro de 1919, poucos dias depois de fazer 24 anos. Pediu a um compadre que fosse à frente, dar a notícia à mãe e às irmãs e assim evitar comoções, mas entre nós, os netos, imaginávamo-lo a chegar ao monte em apoteose, com as manas ainda de luto, a abraçá-lo e a desmaiarem de emoção.  

Voltou à sua vida de lavrador, casou com Bárbara da Lança Palma e tiveram seis filhos, 10 netos, 13 bisnetos e quatro trisnetos. Morreu tranquilamente, durante o sono, aos 88 anos.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Verdade ou consequência?

Em casa dos primos do Algarve, já metidos na cama, mas a lutarem contra o sono.

Pedro para o Ricardo: verdade ou consequência? Verdade. E o Pedrinho, inpiradossimo: É verdade que tu gostas da Madalena? Naooooo!!! Então vais ter de dar um beijinho no rabo da tua irmã. Aiiiii. Aqui já era a pobre da Ana, que, em desespero, tentava dormir, enquanto os outros três, Pedro, Ricardo e Madalena, prosseguiam imparáveis. Era quase uma da manhã quando, finalmente, adormeceram.

Eu jogava a estas coisas nas férias, mas tinha aí uns 12 ou 13 anos. Estes miúdos estão a começar um bocadinho cedo, não estão?

domingo, 17 de agosto de 2014

"Mãe, porque é que os 'senhores do vento' nunca mais chegam?"

E no primeiro dia de férias, auto-estrada do Sul, já no Alentejo, e pimpa, um furo. Assim, sem mais nem menos, um barulho que parecia um helicóptero a sobrevoar a viatura, toca de encostar à berma, e lá estava o pneu em baixo.
Vá de tirar toda a gente do carro e subir para o talude - coisa que, até esse dia, eu nem sabia que existia -, Pedrinho em choro, porque ia a dormir descansado da vida e o obrigaram a sair da sua cadeira, e nós os quatro ali, enquanto os carros passavam a 200 à hora e faziam estremecer tudo.
Para ajudar à festa, foi preciso chamar os senhores do seguro, porque faltava uma coisa simpática chamada porca de segurança, essencial para mudar o pneu e que os senhores da última garagem onde fomos resolveram guardar para si, vá-se lá saber porquê. Enquanto esperávamos pelo reboque, resolvemos chamar também os senhores da Brisa, para nos virem sinalizar o carro, benditos telemóveis com internet que nos dão estas informações todas.
E foi assim que assistimos ao pôr-do-sol na auto-estrada do Sul, sentados numa valeta, embrulhados nas toalhas de praia que era o que havia ali mais à mão para enganar o frio da bela noite de Agosto. E entretanto, nada de aparecer ninguém.
Madalena contou estrelas, quis saber qual era a do Zorbas e as das outras pessoas da família já transformadas em estrelinhas. Pedrinho choramingou e comeu bolachas. Mamã e papá, silenciosamente, chamaram vários nomes aos senhores da garagem onde fomos no ano passado, aos senhores do reboque que demoraram uma hora a vir e aos "senhores do vento", como dizia a Mada, que também demoraram mais de meia hora a dar o ar da sua graça.
O resto da viagem fez-se no reboque, o carro atrás e nós à frente, meninos no colo dos pais - "podem esperar por um táxi, mas ficamos aqui todos mais uma hora", avisou o moço do reboque, natural de Grândola -, com cintos de segurança que teimavam em não funcionar - "não vale a pena, que nós já vamos à multa de qualquer maneira" - e com um condutor que segurava o volante com os cotovelos enquanto ligava para meio mundo através dos seus dois telemóveis. Nunca ultrapassou os 80 quilómetros, vá lá, e, de castigo, ouviu o Pedro cantar o repertório completo da "Galinha Pintadinha". Comigo a ajudar.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Pedrinho, o despachado

A Tamara foi para a Ucrânia e decidimos mandar alguns brinquedos para a neta pequenina. A ideia foi boa, a concretização difícil. Pedrinho e Madalena aceitaram de bom grado, mas depois descobriam, repentinamente, que todas as sugestões que eu dava não podiam ser, porque eram, precisamente, os seus brinquedos favoritos. Mada lá desencantou um peluche, mas o Pedro não se conformava. Até que encontrou a solução ideal: levantou-se a correr e foi buscar o Noddy. O Noddy? Sim. Mas tu gostas tanto no Noddy. Gosto, mas tenho dois. E lá foi, feliz, à vidinha dele.

P.S Já não se aguenta com tanto boneco e peluche e carrinho e avião e winx, e sininho e afins, mais os jogos e os livros e os legos, que são a paixão do momento. Andamos há que tempos a arranjar coragem para deitar mãos à obra, mas não tem sido fácil. Destas férias não passa, fica aqui registado, para toda a gente saber.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Casamento

A Manuela e o Carlos cristalizaram algures na minha memória no dia do seu casamento. Foi o primeiro casamento a que fui e lembro-me perfeitamente dela, vestida de noiva, com um vestido branco tão bonito. E da cerimónia na igreja, do copo de água no monte dos pais dela e da romaria de convidados à casa onde os noivos iriam morar, toda a gente a entrar no quarto e a deixar notas em cima da cama de colcha cor-se-rosa. Eram presentes, mas era também para dar sorte e um futuro onde nunca faltasse o dinheiro. E lembro-me de nós os três na igreja, do meu vestido aos quadrados rosa salmão provavelmente feito pela mãe, das meias de renda até ao joelho feitas pela avó Teresa. E do Rui com o nariz partido – andava sempre com o nariz partido, o meu irmão pequeno –, da Zézinha de repente grande de mais, porque naquele ano tinha crescido tanto, tanto e estava muito mais alta do que eu.

No fim-de-semana encontrei-os no Alentejo. A Manuela e o Carlos, ambos de cabelos brancos, as minhas memórias a quebrarem-se em mil bocadinhos e eu sem ser capaz de fazer as contas aos anos que passaram entretanto.  

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Madalena nos avós

Quando a fui levar ao autocarro ia com uma lagriminha no canto do olho e o receio de que, no abraço da despedida, se arrependesse e ficasse por cá. Nada disso. Subiu animadíssima os degraus da camioneta, de mão dada com a avó, deixando-me cá em baixo encolhidinha e tristonha, e sentou-se no seu lugar à janela, para não perder pitada.
Madalena está de férias e foi passar uma semana ao Alentejo a casa dos avós. Foi a primeira vez que ficámos tantos dias longe dela e a preparação foi longa e demorada, mas a aventura tem corrido muito bem. Liga-nos várias vezes por dia, a contar o que anda a fazer e pelos relatos, está uma verdadeira princesa, com todos os seus desejos a serem imediatamente atendidos pela avó e pelo avô.
Só na quarta feira é que me disse ao telefone que estava com muitas, muitas saudades. E hoje foi a vez do mano, que ficou em Lisboa, anunciar, logo de manhã, que está com saudades da Madaiena ao ponto de ir buscar uma fotografia da mana para nos mostrar.
Quanto ao pai, hoje quase tivemos uma crise matrimonial só porque me esqueci de lhe mostrar uma foto dela que a avó mandou para o meu telemóvel, pelo que está tudo dito.
Sabemos que é bom para ela, para ficar mais independente, e bla, bla, e bla, bla, mas estamos cheios, cheios de saudadinhas da nossa pequena maravilha.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Pedrinho e as coisas que há na piscina

Pedrinho foi com a escola à piscina e voltou muito satisfeito. Gostou muito, brincou muito com os amigos, afundou e a Maiana foi salvá-lo. As piscinas a que eles vão são mesmo muito pequenas e eles tem sempre pé, por isso não nos preocupámos com o salvamento. Mas ainda perguntámos: "Então e as professoras vão com os meninos para dentro de água?". Resposta: "Sim, a Maiana vai. Ela tem fato de banho. E tem maminhas. Há meninas que não têm maminhas, mas a Maiana tem." E assim ficámos informados e o papá com um daqueles sorrisinhos parvos.



sábado, 12 de julho de 2014

A nossa matemática

Mada a ver televisão vem perguntar-nos o que significa "o dobro". Lá lhe explicamos e depois fazemos um teste: então e agora diz lá qual é o dobro de dois? Quatro. E de quatro? Oito. E de oito? 16. E de 16? 32. E nós, já de boca aberta: E o dobro de 32? 64. E de 64???? É cem e qualquer coisa, já não me lembro bem... E como é que tu sabes isso tudo, perguntamos nós, eu e o pai, já com a certeza de que estamos mesmo perante um verdadeiro génio matemático, que nos responde do alto dos seus seis anos. E ela: Sei por causa do 2048, claro. Sim, claro. O jogo que ela e o pai andaram a jogar furiosamente no meu telemóvel durante as férias em Cabanas, o que mais havia de ser ?...

terça-feira, 24 de junho de 2014

Querida tia Júlia

Os primos estavam todos ali, no álbum de fotografias da tia Júlia. Naquele tempo éramos pequenos, viamo-nos muitas vezes nas férias e a Macheira era uma visita obrigatória, mesmo para os que vinham de França ou da Alemanha. Crescemos e foi cada um para seu lado, mas a tia manteve-nos ali a todos, por isso espreitar agora o álbum dela foi também um regresso muito bom àquelas férias. Foi um regresso triste, porque não a voltaremos a ver a acenar-nos no seu pátio cheio de vasos de flores, mas as lembranças são muito boas. As lembranças do terraço dela, de onde se via a serra, dos figos secos e do folar algarvio e das brincadeiras com as meninas da Macheira que também só voltei a ver agora, passados mais de trinta anos. As lembranças das quadras sobre a família que escrevia para o Campaniço e para o jornal de Alte, dos livros que me deu e que ainda guardo lá em casa,  do saco do Algarve e do vestido bordado para a pequena Madalena, que ela via tão poucas vezes, mas de quem falava como se a visse a crescer todos os dias. E, também, as memórias das suas visitas ao Alentejo na Feira de Castro, com a sua filha tão bonita, loirinha e de olhos azuis, e das cartas que trocava com a minha mãe, nos tempos em que ainda se escreviam cartas, querida irmã, como tens passado, eu cá vou como Deus quer, na apanha do figo, da alfarroba, do que fosse, que era preciso ganhar a vida para criar a filha. Uma vida de canseiras, um amor encontrado tarde e perdido cedo. Era uma das minhas tias mais queridas e é lá, no seu pátio cheio de flores, a acenar-me, que a quero recordar sempre.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Pequenas constatações

Eis as novidades das nossas férias de Junho enunciadas por ordem aleatória:

A mini-casa-da-praia continua óptima.
O Pedro já tem pé na piscina dos crescidos e a Madalena já nada por lá sem braçadeiras.
A Praia de Cabanas foi atacada pelo mar e está mais pequena. Se continuar assim, é certinho que em Agosto não cabe lá toda a gente.
As bolas de Berlim continuam a 1,20 euros (são indicadores importantes, há que admitir).
O Pedro está a falar cada vez melhor, mas dragões continuam a ser “gagões” e os tubarões “balaiões”.
A Madalena está fã do Mundial do Brasil e conhece de cor os cromos que já tem na caderneta e as bandeiras dos países.
O Pedro brinca sozinho e inventa bonecos e passos de dança com os dedos (onde é que já ouvi uma coisa parecida?).
A praia está cheia de conquilhas e quem vier em Julho bem pode apanhá-las, que já estarão óptimas. Temos feito grandes petiscos, por isso, se há algum alerta sobre o consumo de bivalves, por favor não nos contem.
A Madalena está uma grande jogadora de “2048”, só ultrapassada pelo pai (eu não tenho treinado, porque não me dão oportunidade).
A praia do Cabeço continua a ser um segredo muito bem guardado. 
A brincadeira deste início de Verão é o “Pedro beijocas”, com o dito a correr atras da mana a gritar “anda mor, anda mor”.
A tareia de Portugal no Mundial foi ligeiramente desagradável, mas só o pai é que viu o jogo, enquanto o resto da família aproveitava a piscina vazia. À noite compensámos com gelado de chocolate e figo em frente à ria.
Não temos lido jornais (só o Record, mas esse não conta).
Ainda não fomos ao Ideal, mas vamos.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Neste blogue também se faz crítica de restauração...

... por isso vamos lá falar do novo Mercado da Ribeira:

Eu, que só queria era comer umas sardinhas assadas, dei por mim neste sítio da moda, cheio de marcas da moda, muito giro e  muito bem decorado, mas, naturalmente, sem sardinhas assadas. Tinha, pelo contrário, uma multidão de gente. Filas enormes para tudo. Empregados suados e mal dispostos à beira de ataques de nervos, provavelmente de pé há horas e a tentar ser chiques, porque o sitio é chique. E tinha, também, gente a discutir por causa de uma cantinho numa mesa corrida, senhoras loiras e com malas carérrimas quase a arrancar cabelos umas às outras por causa de duas cadeiras que cada uma delas jurava que tinha visto primeiro. E turistas sentados no chão, com fatias de pizza e hambúrgueres de peixe, que provavelmente tinham desistido de esperar por um lugar e fizeram eles muito bem.
Tudo isto para dizer que o novo Mercado da Ribeira não me encheu as medidas. A comida é boa, sim senhor, mas cara e longe de compensar as filas e os apertões e o tempo de espera. O conceito é muito giro, o local está muito engraçado, e espero que os senhores do mercado propriamente dito, que continuam por lá, estejam também a ganhar  alguma coisa com aquilo.
Quanto a mim, não digo que não volto, mas daqui a uns bons tempos, quando a coisa tiver passado de moda. Tão cedo não me apanham por lá.

(foto daqui)

segunda-feira, 19 de maio de 2014

"Lichta" de aniversário

Farta de toda a gente lhe perguntar o que gostaria de receber como prenda de aniversário na festa dos seus seis anos, dona Madalena meteu mãos à obra e decidiu fazer pela vidinha dela, apresentando algumas propostas.

Aqui fica a "lichta", preparada pela própria e que achámos que merecia ser guardada para a posteridade.




segunda-feira, 12 de maio de 2014

Um bocadinho de baba, se não se importam...

Pedrinho fez ontem um desenho para oferecer à mamã. E ali estamos eu (a que tem mais cabelo) e o pai, muito lindos, de mão dada, a segurar um balão. Em baixo, a assinatura do artista, feita pelo próprio, sem ajuda de ninguém e repetida, já na minha frente, para comprovar que sim senhor, tinha sido ele sozinho o autor e não a mana.
(E eu não lhe ensinei tal coisa, aliás, nem fazia a menor ideia que ele era capaz desta proeza, o meu menino de quatro anos, lindo e maravilhoso)

domingo, 20 de abril de 2014

Páscoa na Luz

 E lá fomos nós ver o jogo do título, que o mesmo é dizer, neste caso, ver o Benfica no Estádio da Luz a levar mais uma taça - a número 33 - de campeão nacional. A última tinha sido há exactamente quatro anos, tinha o Pedrinho acabado de nascer e eu não me lembro nada (as hormonas fazem destas coisas), mas garantem-me que também lá estive.
Estranhamente, hoje foi também dia de Páscoa, uma Páscoa passada longe do Alentejo e da família do Alentejo e, por isso mesmo, uma Páscoa um bocado coxa. À tarde estivemos na Luz, mas de manhã fomos à missa, porque sem isso então é que não era mesmo Páscoa. E nestas idas e vindas, que tornaram o dia tão pequeno, o melhor de tudo foi estarmos os quatro, a nossa pequena família maravilha.
Que venham muitas Páscoas e, já agora, muitos campeonatos.

terça-feira, 11 de março de 2014

Blogue em banho-maria e uma história de fraldas

É assim que tem estado este blogue: em banho-maria. E não é por falta de material de qualidade, nem pouco mais ou menos, porque ao longo destes três meses muita coisa boa aconteceu, muita coisa gira, houve meninos a crescer e a fazer maluquices e a aprender e a surpreender. O que não tem havido é tempo, porque a dona deste blogue tem andado a escrever de vez em quando para outros lados - aqui, mais exactamente - e os meninos pedem cada vez mais tempo e mais brincadeira e as horas não esticam, que é como quem diz, quando eles vão para a cama eu estou tão cansada que só me apetece ir também.

Dadas as explicações, vamos ao que me fez voltar hoje ao Blogue da Madalena e do Pedro: Uma história de fraldas. Ou, mais exactamente, de ausência de fraldas. Pedrinho, quatro anos acabados de fazer, deixou de dormir com fralda. E deixou de beber o leite da noite com o seu amado biberão. Num caso e noutro foi um grande sacrifício. No caso das fraldas houve muitos "não consigo" e algumas lágrimas, mas lá se decidiu. No caso do biberão houve noites sem leite, porque na caneca não dá jeito nenhum. Agora, porém, tudo corre pelo melhor, apenas com alguns lençóis molhados uma vez por outra.

Foi assim que se acabaram as fraldas cá em casa. Quase seis anos depois da primeira bebé ter chegado. E agora sou eu que vou ali choramingar um bocadinho.