quinta-feira, 30 de junho de 2011

Sua real majestade dos tempos modernos

Hoje de manhã foi restaurada a monarquia lá em casa. Um rei, uma rainha, um prícipe muito bem pronunciado (e olhem que não é das palavras mais fáceis) e, naturalmente, uma princesa: "Olha, rainha, eu sou uma princesa. E tenho uma varinha mágica [a chucha]." "E o que vais fazer com ela?" Uma pequena hesitação e, depois, a resposta óbvia: "Vou fazer uma sopinha".

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Conservadora

Rapariga que é rapariga, gosta de uma roupita nova, não se chateia nada de experimentar, verificar o que é que combina com o quê, enfim, essas coisas perfeitamente normais. Já o mano, até para se vestir de manhã reclama, achando, provavelmente, que é uma pura perda de tempo e que bem podia andar de pijama o dia todo que dava no mesmo. Enfim, hoje à tarde metemo-lo na cama a dormir a sesta e tratámos de ir pintar as unhas e experimentar a nossa roupa de praia do ano passado, a antecipar a ida até aos Algarves na próxima semana. E estávamos nisto, quando eu resolvo vestir o meu biquíni preferido, agora que, passados três anos, consigo enfiar-me novamente dentro dele. O comentário de dona princesa foi directo e sem papas na língua, como sempre: É tão pequenino, mamã, se calhar é para mim...
E pronto, o biquíni preferido fica na gaveta por mais uma Verão. Para o ano logo se vê.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Dúvidas existenciais

A Madalena descobriu hoje o livro que a tia ofereceu no Natal, cheio de fotografias do avô António com os seus netos. E o livro, naturalmente, foi a leitura da hora do jantar. Ela sabe muito bem identificar o avô nas fotos, mas não consigo perceber o que vai naquela cabecinha. "Eu não conheço o meu avô António, mamã", dizia-me hoje. Já lhe expliquei uma vez que o avô teve de se ir embora, que não está cá connosco, mas que gostamos muito dele, mas depois não sei o que mais lhe hei-de dizer e fico apenas a torcer para que não faça mais perguntas.
Não faz, porque, afinal, tem apenas três anos, mas desconfio que ela sabe que há aqui qualquer coisa estranha, só que não sabe bem o que é.
Um pouco como aconteceu com o Zorbas, que estava muito doente, "foi ao médico dos animais", e não voltou. Ontem disse-me que agora só tem um gatinho, o Calvin. Não fala no Zorbas, mas eu sei muito bem que ela se lembra dele.
Como é que se explicam estas coisas a uma bebé?

terça-feira, 21 de junho de 2011

Na hora da caminha

Pedro e Madalena, pijamas vestidos, história contada, preparam-se para dormir. Apaga-se a luz, fecha-se a porta e ficam os dois sozinhos. Pedro reclama. Choraminga. Quer mais um bocadinho de colo, mas os pais mantêm-se irredutíveis. Madalena, coitada, vê-se obrigada a resolver o problema: "Pedro, não chores que a mamã vem já", começa por dizer. Não chega. É preciso dourar a pílula. E lá vai ela: "Não chores. O papá e a mamã foram passear no Alentejo e nós ficámos os dois aqui". Ele, já mais calmo, perante tal exposição dos factos, ainda choraminga, mas é definitivamente calado com a belíssima interpretação de um medley, que inclui As pombinhas da Catarina e Eu perdi o Dó da Minha Viola. Pedrinho não resiste e adormece mesmo.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Vicente

O mano da Laurinha já saiu da barriga da mamã. É giro que se farta e hoje ele e a mana deixaram-me com uma lagriminha no olho e cara de parva a olhar para o computador só de os ver num belo vídeo feito pelo pai deles. Fico assim quando vejo bebés. Dá-me logo a vontade de ter outro, o que é perigosíssimo...


Livro de cabeceira

(prenda do papá, que tem olho para literatura infantil.)

A gramática perfeita de dona Princesa

De manhã, na caminha dos papás, ela e o mano a beber leitinho, mamã a curtir a calma, papá ainda virado para o outro lado a ver se dorme mais uns segunditos:
- O papá hoje não quer saber de nós, digo eu. E ela, armada em mandona e sempre a apoiar a mãe: - papá, sabe de nós!
Se ele ainda tinha esperanças de dormitar, perante uma ordem destas, claro que as perdeu imediatamente.

sábado, 4 de junho de 2011

Eu quero

Se ele tem alguma coisa na mão, é certinho, certinho, que dona Madalena há-de querer brincar com aquilo, seja lá o que for. E se ela resolve brincar com um determinado brinquedo, um livro, alguma coisa que trouxe da cozinha, onde há sempre muitas preciosidades, senhor Pedro há-de tentar tirar-lha. E, apesar de ainda ser bem mais pequeno, não se fica. Empurra a mana, a mana empurra-o a ele, gritam um bocadinho um com o outro, ele, se consegue escapulir-se, gatinha para bem longe, ela vem fazer queixinhas à mamã. Ou então vem ele, a chorar furiosamente, em tom de grande drama. E são assim os nossos dias. "Eu quero" é a expressão que mais se ouve nesta casa. Depois, volta e meia há birras, ele porque está quase a entrar no tempo delas - o período que os pediatras, oficialmente consagram às birras é entre os 18 meses e os três anos - ela porque está quase a sair, ou pelo menos assim o esperamos nós, que começamos a perder a paciência para amuos e choros.
Hoje à noite a coisa foi de tal calibre que suspeito que os vizinhos do quarto andar hão-de ter pensado que alguém estava a ser torturado aqui no rés-do-chão. São dez e meia da noite e finalmente conseguimos enfiar os dois na cama. Agora vamos ali enfiar-nos no sofá a ver um filme e se algum se atreve a chorar mais uma lagriminha que seja, vamos ter sarilho. Ai vamos, vamos.