terça-feira, 24 de junho de 2014

Querida tia Júlia

Os primos estavam todos ali, no álbum de fotografias da tia Júlia. Naquele tempo éramos pequenos, viamo-nos muitas vezes nas férias e a Macheira era uma visita obrigatória, mesmo para os que vinham de França ou da Alemanha. Crescemos e foi cada um para seu lado, mas a tia manteve-nos ali a todos, por isso espreitar agora o álbum dela foi também um regresso muito bom àquelas férias. Foi um regresso triste, porque não a voltaremos a ver a acenar-nos no seu pátio cheio de vasos de flores, mas as lembranças são muito boas. As lembranças do terraço dela, de onde se via a serra, dos figos secos e do folar algarvio e das brincadeiras com as meninas da Macheira que também só voltei a ver agora, passados mais de trinta anos. As lembranças das quadras sobre a família que escrevia para o Campaniço e para o jornal de Alte, dos livros que me deu e que ainda guardo lá em casa,  do saco do Algarve e do vestido bordado para a pequena Madalena, que ela via tão poucas vezes, mas de quem falava como se a visse a crescer todos os dias. E, também, as memórias das suas visitas ao Alentejo na Feira de Castro, com a sua filha tão bonita, loirinha e de olhos azuis, e das cartas que trocava com a minha mãe, nos tempos em que ainda se escreviam cartas, querida irmã, como tens passado, eu cá vou como Deus quer, na apanha do figo, da alfarroba, do que fosse, que era preciso ganhar a vida para criar a filha. Uma vida de canseiras, um amor encontrado tarde e perdido cedo. Era uma das minhas tias mais queridas e é lá, no seu pátio cheio de flores, a acenar-me, que a quero recordar sempre.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Pequenas constatações

Eis as novidades das nossas férias de Junho enunciadas por ordem aleatória:

A mini-casa-da-praia continua óptima.
O Pedro já tem pé na piscina dos crescidos e a Madalena já nada por lá sem braçadeiras.
A Praia de Cabanas foi atacada pelo mar e está mais pequena. Se continuar assim, é certinho que em Agosto não cabe lá toda a gente.
As bolas de Berlim continuam a 1,20 euros (são indicadores importantes, há que admitir).
O Pedro está a falar cada vez melhor, mas dragões continuam a ser “gagões” e os tubarões “balaiões”.
A Madalena está fã do Mundial do Brasil e conhece de cor os cromos que já tem na caderneta e as bandeiras dos países.
O Pedro brinca sozinho e inventa bonecos e passos de dança com os dedos (onde é que já ouvi uma coisa parecida?).
A praia está cheia de conquilhas e quem vier em Julho bem pode apanhá-las, que já estarão óptimas. Temos feito grandes petiscos, por isso, se há algum alerta sobre o consumo de bivalves, por favor não nos contem.
A Madalena está uma grande jogadora de “2048”, só ultrapassada pelo pai (eu não tenho treinado, porque não me dão oportunidade).
A praia do Cabeço continua a ser um segredo muito bem guardado. 
A brincadeira deste início de Verão é o “Pedro beijocas”, com o dito a correr atras da mana a gritar “anda mor, anda mor”.
A tareia de Portugal no Mundial foi ligeiramente desagradável, mas só o pai é que viu o jogo, enquanto o resto da família aproveitava a piscina vazia. À noite compensámos com gelado de chocolate e figo em frente à ria.
Não temos lido jornais (só o Record, mas esse não conta).
Ainda não fomos ao Ideal, mas vamos.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Neste blogue também se faz crítica de restauração...

... por isso vamos lá falar do novo Mercado da Ribeira:

Eu, que só queria era comer umas sardinhas assadas, dei por mim neste sítio da moda, cheio de marcas da moda, muito giro e  muito bem decorado, mas, naturalmente, sem sardinhas assadas. Tinha, pelo contrário, uma multidão de gente. Filas enormes para tudo. Empregados suados e mal dispostos à beira de ataques de nervos, provavelmente de pé há horas e a tentar ser chiques, porque o sitio é chique. E tinha, também, gente a discutir por causa de uma cantinho numa mesa corrida, senhoras loiras e com malas carérrimas quase a arrancar cabelos umas às outras por causa de duas cadeiras que cada uma delas jurava que tinha visto primeiro. E turistas sentados no chão, com fatias de pizza e hambúrgueres de peixe, que provavelmente tinham desistido de esperar por um lugar e fizeram eles muito bem.
Tudo isto para dizer que o novo Mercado da Ribeira não me encheu as medidas. A comida é boa, sim senhor, mas cara e longe de compensar as filas e os apertões e o tempo de espera. O conceito é muito giro, o local está muito engraçado, e espero que os senhores do mercado propriamente dito, que continuam por lá, estejam também a ganhar  alguma coisa com aquilo.
Quanto a mim, não digo que não volto, mas daqui a uns bons tempos, quando a coisa tiver passado de moda. Tão cedo não me apanham por lá.

(foto daqui)