domingo, 30 de setembro de 2007

sono

... muito sono. Durmo doze horas seguidas e ainda me apetece uma sesta a seguir ao almoço. Deve ser uma artimanha qualquer da natureza, para nos manter ocupadas e não nos pormos a pensar demasiado.
"Quando engravidas, desligas o complicómetro", disse-me uma vez a Raquel, que, quando quer, consegue complicar tudo até à exaustão. Começo a acreditar que ela tinha alguma razão. Desde que fiz o belo do teste, há pouco mais de uma semana, parece que fui atingida por uma estranha tranquilidade. Estou calma e, ao contrário do que costumo fazer - tenho, aliás, uma longa prática - desta vez não penso em desgraças.
Claro que tenho medo. E se alguma coisa corre mal? Uma gravidez só se confirma às doze semanas, não é o que diz a médica? e mesmo depois disso, tudo pode acontecer, não é?
"Se acontecer, nós resolvemos", disse o Sérgio, num dia em que não lhe faltavam as palavras, e a frase foi tão mágica para mim que a trago sempre comigo.
Por agora, deve ser do sono que me traz tão descansada, não sei, mas recuso-me (quase sempre) a pensar em coisas más.
Às vezes, claro, não dá para evitar. Como na sexta-feira, em que fiquei perto de doze horas seguidas no trabalho e de repente comecei com dores de barriga e entrei em pânico. Com o Orçamento do Estado à porta, vêm aí mais dias difíceis e pelo menos isso convém ir pensando em qual será a melhor maneira de resolver...

gatinhos

Enquanto eu e o Sérgio vamos saltitando (mais eu) e olhando um para o outro com sorrisos parvos na cara (também mais eu), volta e meia a voltar ao assunto (eu, quase sempre, que a ele, diz, "faltam as palavras"), os gatinhos andam um bocado de crista em baixo.
Foram expulsos do quarto, são constantemente enxotados do sofá e estranham a falta das habituais sessões de festinhas. Mais o Zorbas e a Mafalda, claro, que o Calvin, como de costume, está-se nas tintas. A Mafalda parte-me o coração: desde que a trouxeram para minha casa, quase recém-nascida, segue-me para todo o lado e sempre a deixei adormecer no meu quarto.
Vá-se lá saber como, apesar destes quase 12 anos de convivência com a espécie felina, continuo a não estar imune à toxoplasmose. No início foi o pânico. Depois, a Alice sossegou-me um pouco: "se não apanhou até agora, porque é que há-de apanhar nos próximos meses?". Gravidez não é doença, é fazer a vida de todos os dias, como até agora, só que "com cuidados redobrados", disse-me ela, já irritada com a lista de perguntas que levei para a primeira consulta.
Também telefonámos para o veterinário dos gatinhos, que me descansou bastante: nada de mudar a areia, limpar todos os dias os cocós (tarefa do Sérgio, claro, coitadinho...), evitar as festinhas e lavar as mãos e a cozinha com frequência.
Conclusão: nunca se lavou tanto as mãos nesta casa e até me parece estranho não ter pelos de gato na cama...

seis semanas

Lá estava, uma bolinha escura, saltitante, bem visível, coladinha às paredes do útero. A prova de que havia mesmo um bebé a crescer na minha barriga, muito embora a Alice tenha garantido que era apenas um saco com células lá dentro, que estava apenas nas cinco semanas.
Fui à médica logo na terça-feira seguinte e ri, bati palmas e chorei, tudo ao mesmo tempo, a olhar para o ecrã da maquineta que ela lá tem, as novas tecnologias ao serviços das grávidas ansiosas, que agora já não precisam de fazer o teste se sangue para comprovar a coisa.
A Alice, muito cuidadosa, avisou que "não se confirma uma gravidez até às doze semanas" e mandou-me lá voltar daí a um mês, já com uma ecografia feita.
Saí do consultório mortinha para falar com o Sérgio e por contar ao mundo a minha novidade. Queria telefonar à minha mãe e ao meu pai, às minhas amigas, ao meu irmão...
Não contei, mas não sei se aguento esperar até Novembro, que é quando acabam as 12 semanas. Por agora, passaram apenas seis...

sábado, 29 de setembro de 2007

o teste

Quando tirámos a fotografia que está lá em cima, ainda nada disto nos passava pela cabeça. Estávamos em Paris, era o dia 3 de Setembro e tinhamos acabado de nos sentar para almoçar num café algures entre as Tulheries e o Louvre. Foi uma semana muito feliz, em que aconteceram muitas coisas que agora não interessam e em que nos sentimos completamente livres das habituais preocupações e chatices do trabalho e da vidinha de todos os dias.
Deve ter sido por isso que, quando o meu período começou a atrasar, nem sequer stressámos muito. Eram só uns dias, coisa normal, havia de vir na manhã seguinte, de certeza.
Mas não veio. E quando já estava atrasado quase uma semana, o Sérgio cansou-se de me aturar e foi comprar o teste à farmácia - estou mesmo a ver o ar dele, muito sério, como se estivesse a pedir uma caixa de aspirinas...
Experimentámos a coisa no sábado de manhã, depois de eu ter acordado cedíssimo e de ter sonhado que tinha dado negativo. Só que não deu. Ao fim dos cinco minutos que é preciso esperar, e que nós contámos atentamente pelo relógio da mesa de cabeceira, incapazes de falar sequer um com o outro, lá estavam as duas riscas cor-de-rosa, muito nítidas, a certeza de que daí para a frente nada iria ser como dantes.
E não foi.