quarta-feira, 28 de abril de 2010

Quem é, quem é?

Eu - Madalena, olha lá, quem é este aqui na fotografia?
Ela, sem hesitar - Pedinho.

(Sérgio, Maio de 1975)

Generosidade de mana

Olho para o miudo e há ali qualquer coisa que não bate certo. Olho com mais atenção e descubro: está com a chucha da mana na boca e, aparentemente, isso explica por que razão parou com o berreiro. Venho a correr da cozinha, obviamente já tarde demais. "Madalena, esta chucha é a tua, não é a do mano", digo-lhe. "Pedinho chorar, chucha Pedinho", explica ela, continuando a fazer-lhe festinhas na cabeça para ele não recomeçar a chorar. E o que é certo é que ele se calou. Está feito, não vale a pena pensar mais no assunto e que a chucha dela não é esterilizada há que tempos, que ela está constipada e que ele só tem dois meses e é suposto ter cuidado com estas coisas. Não há-de ser nada.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Mamã cansada e a precisar de dormir

Acabo de lhe dar banho, respiro fundo e sento-me no tapete a fazer um intervalinho. Ela olha para mim, com um ar muito sério e diz: "cansada, mamã. Caminha, mamã". Fecho a porta do chuveiro para ela fazer splash, splash, mas desta vez não me livro dos pingos, porque a abro logo a seguir só para encher de beijinhos a minha filha linda e maravilhosa que acabou de me mandar descansar. Coisa mais linda...

Dois meses cheios de sorrisos

Sobretudo para a mana, mas não só. Se está bem disposto, abre a carinha toda e distribui sorrisos à esquerda e à direita, qual estrela de cinema a desfilar, coisa que dona princesa nunca fez, sempre muito forreta nestas coisas do social, e que por isso me deixa ainda mais eufórica (parece que há estudos que provam a influência dos risos das crias nas hormonas já de si desconjuntadas das mães).
O Pedro faz hoje dois meses (dois??!!) e está um rapaz crescido, que se porta lindamente nas minhas aulas de pós-parto - fica muito calminho na sala dos bebés e não entra nos coros de choros que fazem as mães interromperem os exercícios e irem a correr.
Continua a acordar uma a duas vezes durante a noite, para um petiscozito, mas em regra adormece quase de seguida e eu também, porque as cólicas aparentemente estão muito mais calmas.
Continua pequenino e miudinho, sobretudo quando comparado com os amiguinhos das aulas, quase todos com cara de lua cheia e já lançados no belo do biberon. Cá em casa não há dessas coisas, há maminha da mãe e é aproveitar que é muito bom. Ele não se queixa e eu gostaria que fosse como a irmã, que até aos cinco meses não quis outra coisa.
Dois meses? Mas como, quando?

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A mãe de todas as birras

O tio Brazelton já nos tinha avisado que a coisa chegava lá pelos dois anos e que de repente o nosso anjinho havia de se transformar num diabinho e que só nos ia apetecer pregar-lhe uma bela palmada no rabo. Dona princesa resolveu adiantar-se e um nadinha antes do segundo aniversário presenteou-nos com a maior birra de que há memória cá em casa e que consistiu, basicamente, em dez ou quinze minutos (perdemos-lhe a conta) a berrar furiosamente. Não dizia porquê, não dizia o que queria, não queria o pai, não queria a mãe, não queria a chucha e a única coisa que lhe saía era "nã quéio, nã quéio". E eu,que nunca a tinha visto assim (o Brazelton sabe mesmo destas coisas), quase temi que lhe tivesse dado algum peripapo. Nada disso. Foi apenas a birra mor, a mãe de todas as birras, e logo no fim-de-semana em que fomos para o Alentejo, com mais uma data de gente em boa idade para procriar e que com esta fita toda vão de certeza pensar duas vezes (ou mais) antes de se meter numa destas. Não sabem o que perdem, claro, que, finda a birra, a Madalena continuou linda e maravilhosa como sempre, com uns pais orgulhosissímos do rebento e deles próprios: é que conseguimos manter a calma e deixámo-la resolver a coisa sózinha e sem grandes dramas (nem palmadas). Terminada a birra, jantou lindamente, como se não fosse nada, e foi tranquilamente para a cama, como de costume.

domingo, 25 de abril de 2010

25 de Abril sempre

A bisavó da Madalena e do Pedro tem 94 anos e só desde o ano passado é que não vai à Avenida da Liberdade no 25 de Abril. Dantes ia sempre, diz ela. Ia e de vez em quando aproveitava para gritar "viva a república", que afinal o desfile dá para tudo e para todos e para o que cada um quiser. Este ano a avó Graça não foi, mas o Pedro e a Madalena lá estiveram. Ele a dormir, embalado pela Grandola Vila Morena, ela a olhar para tudo e para todos com aqueles olhos dela sempre tão curiosos com o mundo. Cada um no seu carrinho, o pai com um, eu com o outro, a nossa família de quatro lá desceu até ao Rossio, ao lado do carro da junta de freguesia de Corroios, que ia distribuindo cravos vermelhos acompanhados de Zeca Afonso em altas doses de decibéis. E eu, que agora me comovo por tudo e por nada (o baby blues não perdoa), dei por mim à beira das lágrimas só de pensar em como a minha vida mudou para melhor nos últimos dois anos e em como me sinto feliz, feliz, como nunca antes me senti, apesar das noites mal dormidas, das olheiras até ao umbigo e das doses de ansiedade quando me ponho a antecipar como é que isto vai ser quando voltar ao trabalho. Gostava de chegar aos 94 como a avó Graça e de todos os anos lá ir, descer a Avenida de cravo vermelho na mão.

p.s.: no ano passado foi assim.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Um sorriso para ti, um sorriso pra mim...

Eu passo horas a dar-lhe de mamar, limpo-lhe o rabiosque, acordo de noite de três em três horas e fico na conversa com ele até que lhe dá novamente vontade de dormir, não como chocolate por causa das cólicas, não bebo café por causa das cólicas, não bebo vinho porque não, em suma, a minha vida gira (quase) toda à volta dele e depois, veja-se só o descaramento, o primeiro sorriso para quem foi, para quem foi? Exactamente, acertaram: foi para o papá. Um papá ensonadissimo, que tentava, sem sucesso, convencê-lo que eram cinco da manhã, que estava acordado há mais de duas horas e que estava na altura de voltar a dormir. E mesmo assim levou com um sorriso. É verdade que a partir daí só eu é que fui presenteada, o que talvez tenha tido a ver com o facto de ter arrebatado a criança ao progenitor e ter ficado avidamente à espera que ela repetisse o sorriso. Repetiu e voltou a faze-lo várias vezes já desde aí. Tem um sorriso lindo e faz acender luzinhas dentro de mim, qualquer coisa relacionada com as hormonas, segundo li algures, e que tem um efeito próximo de uma droga, fazendo tilintar milhares de campainhas no cérebro das mães, deixando-as cheias de energia. Desconfio que é uma artimanha da natureza para nos ajudar a resolver o problema das noites mal dormidas.

p.s.: o primeiro sorriso do Pedro foi neste fim de semana, em que o levámos a conhecer a casa da Várzea. Gostou muito, está visto.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Breve dicionário de madalenês

Todos os dias junta uma palavra nova à colecção. Ou uma frase, porque agora já começa a compô-las. Ontem chegou da escola com o nã quéio na ponta da língua. Madalena, vamos para a cama que está na hora. Nã quéio. Sim. Não. Sim não, conclui, antes de nos virar as costas, dando o assunto por encerrado. Tenho de me esforçar por não me rir, porque esta miúda está cada vez mais deliciosa. E faladora. Para a posteridade, aqui fica um pequeno glossário, sujeito a actualizações.

A Família:
Manena
Papá Séio
Mamã Mena
Pedinho (o diminuitivo é da lavra dela)
Vovó Gacinha
Vovó Tatinha
Vovô Nanel
Gui
Nana
Cata
Ago
Tia Xana
Tia Fia
Tio Buno
Janinha

Pequenas pérolas (estas a requererem tradução):
Quenquica - Benfica
Chaguega - escorrega
Xanana - Laranja (ou Susana)
Camaco - Macaco
Kimkey - Mikey
Cago - carro
Sanho - desenho
Ganho - ranho
Gute - iogurte (também serve para frigorífico)

(post em actualização permanente)

Pequeno almoço em família

O segredo está em ignorar olimpicamente a banda sonora de fundo e cá em casa estamos a ficar peritos nesta estratégia. Ora vejamos: o primeiro a começar é ele, apesar de estar muito bem instalado no colo da mãe, que ao mesmo tempo vai fazendo as torradas e aquecendo o leite. Ela, que estava sentada no chão às voltas com um dos seus puzzles, decide que também quer colo. O da mãe, claro. Como não é possível, abre também a goela. Nessa altura, é quase certo que os vizinhos do quarto andar já se estão a perguntar o que raio está a suceder no rés-do-chão, mas os progenitores iniciam impassíveis o ataque às torradinhas com manteiga e doce do Alentejo. Ele continua aos berros, mesmo depois de ser mudado várias vezes de posição, porque não está a conseguir fazer cocó e teve um ataque de refluxos. Ela decide virar-se para o pai e começa a subir-lhe pelas pernas acima até que consegue que ele, no meio de um gole de sumo de pessego, lhe pegue ao colo. Mesmo assim continua a reclamar, enquento os pais decidem, com grande calma, programar o resto do dia, como tentam fazer sempre ao pequeno almoço. Acabam-se as torradas, o leite, o sumo, Madalena é informada que está na hora de ir para a escola e decide que não lhe apetece. Bebé casa, mamã, informa muito determinada. Nova crise de choro para a conseguir sentar no carrinho e sair porta fora com o pai, já atrasadissimo para a reunião da manhã. Em casa ficam o Pedro com a mãe e uma fralda malcheirosa, porque o rapaz lá conseguiu tratar do assunto. Só depois de limpinho e fresquinho e de roupa mudada se instala finalmente o silêncio na casa. são 11 da manhã e o Calvin e o Zorbas, sentados no sofá da janela a apanhar sol, enfiam a cabeça entre as patas e suspiram de alívio. A mãe pega na revista Ler que comprou há quase um mês e ao fim da primeira página adormece também.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Coisas mais lindas

Mãezinha, beijinho, diz ela. Depois põe os braços à volta do meu pescoço e abraça-me com força. É a coisa melhor do mundo e dá-me alento nesta minha aventura de ser mãe de dois, sendo que um deles insiste em não me deixar dormir à noite - ontem ficámos os dois à conversa entre as 3 e as 5 da manhã - e ando com umas olheiras como nunca tive. Estes beijinhos dizem-me que vale a pena, que tudo vale a pena por estas pequenas maravilhas, absolutamente dependentes de nós. E, por falar nisso, este post termina aqui, porque o rebento mais novo acabou de abrir a goela, entediado por estar sozinho no quarto, onde o deixei às escuras, esperançada em que adormecesse tranquilo. Aparentemente, a estratégia não funcionou.

O regresso dos 80's

Eu já vi aquilo tudo antes. Já usei, aliás. As calças de ganga daquele azul, as camisolas largas e de mangas grandes com decote à barco, os amarelos, rosas, verdes, azuis, tudo a dar para o choque, as camisas compridas com cintos largos na cintura, botões à tropa e até, coisa que nunca pensei voltar a ver, os famigerados chumaços, caidos em desgraça e agora reabilitados. Os anos 80 estão de volta e eu, que hoje fui ali a correr espreitar umas lojas a ver se desopilava, voltei para casa em estado de choque. Recuso-me a usar de novo estas coisas. Se por acaso me virem com um casaco estilo militar e cheio de chumaços, por favor levem-me às urgências.