quinta-feira, 26 de julho de 2012

Um passeio de autocarro


- Estou? Daqui fala o motorista da carreira 74 da Carris.
Momento de silêncio do lado de cá. Que raio me queria o motorista da carreira 74 da Carris, eu que há anos não ando de autocarro?
- Tenho aqui um gato...
E o pano a levantar-se.
- ... tenho aqui um gato perdido que tem o seu número de telefone.
- Pois, é meu. Deve ser o Calvin.
- Anda aqui no terminal, a esconder-se debaixo dos carros. Está assustado. Tem de o vir buscar.
Sabia eu perfeitamente que o senhor Calvin não estava nada assustado, que podia voltar para casa se lhe apetecesse, mas que o que queria mesmo era que lhe dessem comida. Este telefonema insólito aconteceu nas nossas férias e foi apenas mais um de vários outros que nos foram mantendo a par dos percursos turísticos do nosso gato que, mais uma vez, andava desaparecido.
- Vou ver se consigo pedir a alguém que aí vá, que eu não estou em Lisboa, mas se calhar vai demorar um bocadinho.
- Não faz mal. Eu agora levo-o comigo, a fazer a volta do autocarro, e daqui a uma hora, mais ou menos, estou aqui novamente.
E foi assim que o gato lá de casa, que em regra anda pela zona do Marquês, deu uma bela volta pela cidade, com passagens pela Madragoa, Cais do Sodré, Campo de Ourique e Bica. De regresso à Gomes Freire foi resgatado pelo Rui e pudemos finalmente ter umas férias descansadas, sem telefonemas de senhoras aflitas com um gatinho perdido encontrado na rua.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Post um bocadinho escatológico

Ficam já avisados os estimados cinco leitores deste blog que o post que se segue pode ferir as mentes mais sensíveis, já que tem por tema as necessidades fisiológicas do Pedrinho. Simplificando a coisa, o objectivo é registar aqui que o meu homem pequenino já vai ao bacio fazer chichi. Aliás, não só vai, como vai sozinho, baixa a sua bela boxer, faz o que tem a fazer, despeja na sanita (quase) sem sujar o chão e puxa orgulhosamente o autoclismo. Com dois anos e cinco meses, faz estas coisas todas e só ainda se esquece de avisar quando tem vontade, o que, enfim, é compreensível, dado que a habilidade ainda é recente. Já fazer cocó no penico é que é mais complicado. Da única vez que aconteceu chorou tanto, tanto quando contemplou a sua obra, que tratámos de a fazer desaparecer rapidamente, o que só agravou ainda mais o choro. Problemas de habituação, digo eu e diz o tio Brazelton. Estou confiante que quando o verão chegar ao fim temos o rapaz desfraldado.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Prémio Mãe Blogger

Não, não ganhámos, mas entre mais de 150 blogues concorrentes conseguimos um honroso 34º lugar. Obrigadinha por se terem dado ao trabalho de ir lá clicar.
Os vencedores estão aqui. O meu preferido não ganhou, mas teve direito a menção honrosa: panados e arroz de tomate

domingo, 22 de julho de 2012

Balanço do fim-de-semana

Então foi assim: no primeiro dia, baptizado do Miguel de manhã, levantar cedo, preparar para sair, medir a temperatura ao mais novo que passou a noite anterior com febre e não me neixou dormir. Igreja, depois festa de baptizado, depois regresso a casa com fila na ponte e Pedro novamente com febre.
 Segundo dia: miúdo sem febre, mas depois de uma noite a acordar de duas em duas horas por causa do nariz entupido, família ruma a Odivelas para tratar de assunto inadiavel e com elevados níveis de adrenalina envolvidos - para mim, que com os restantes elementos estava tudo tranquilo. Problema resolvido, fomos celebrar a três para o McDonald's, pois o pai esteve de serviço nos dois dias. Regresso a casa, uma hora de descanso antes de ir preparar o jantar, porque a seguir havia festa de anos da Matilde nos insufláveis de Monsanto. Sobre esta parte, é fácil imaginar os pormenores, por isso adiante. Regresso a casa, banhos, jantar, aerossol, história, xixi-cama e, de repente, são quase onze da noite.
Se não estivesse já a antecipar mais uma semana complicadinha pela frente, quase que era caso para dizer "que venha a segunda-feira para conseguir descansar deste fim-de-semana..."

Os barqueiros também têm cortes salariais

[Restos das férias em Cabanas. Porque a mamã não escreve sempre sobre coisas chatas]
A ria Formosa há muito que deixou de ter segredos para ele. Já a cruzou tantas vezes que se fosse preciso era capaz de o fazer de olhos fechados. Custódio Guerreiro, 68 anos, nasceu ali ao lado, em Cabanas de Tavira, e fez da ria a sua casa. Fez-se pescador, fez-se ao mar alto, foi trabalhar para Marrocos quando foi preciso ganhar mais dinheiro, mas foi sempre ali, na ria Formosa, que se sentiu em casa. Vai para oito anos que, nos meses de Verão transporta os turistas do aldeamento das Pedras da Rainha entre as duas margens. A viagem dura pouco mais de um minuto. Se for preciso, faz-se apenas em 47 segundos, o pequeno barco em alta velocidade, a rasgar o azul da ria. 

Apesar da beleza da paisagem, não se pense que é um trabalho fácil. A praia de Cabanas é um dos últimos tesouros do litoral algarvio, procurado todos os anos por muitos turistas. Cada vez mais, aliás, obrigando também a um crescente número de travessias, para transportar toda a gente para o areal do lado de lá e, depois, para trazer novamente os banhistas para a aldeia. O senhor Custódio trabalha apenas uma parte do ano, normalmente a partir de Abril ou Maio, às vezes antes, dependendo do calendário da Páscoa, que costuma ser o tiro de partida para o turismo algarvio. 

Este ano, o aldeamento das Pedras da Rainha, dono do pequeno barco, voltou a chamá-lo, para o seu habitual emprego de Verão, mas apresentou-lhe uma novidade: o salário ia ter de baixar, que os tempos são de crise e não se sabe como vai correr o Verão. Em vez dos mil euros que tinham pago nos últimos anos, desta vez o ordenado não poderia ir além dos 750 euros. Um corte de 25%, mas era pegar ou largar, que certamente muita gente haveria para contratar. E o velho mestre aceitou. 

Custódio Rodrigues é filho de pescador e dedicou toda a sua vida ao mar. Começou na faina aos 12 anos e aos 60 tratou da reforma, que já era tempo de se pôr em descanso. Contas feitas, trazia para casa pouco mais de 400 euros, mesmo assim, mais do que muitos dos seus colegas que nunca saíram da pesca artesanal e que vivem agora com pensões que andam pelos 300 e picos. O emprego sazonal nas Pedras da Rainha veio mesmo a calhar, até porque, sendo tudo legal e com os devidos descontos para a Segurança Social, a reforma tem vindo também a aumentar um bocadinho todos os anos. Assim sendo, nem pensar fazer finca-pé e recusar o corte salarial, que 750 euros sempre são muito melhor do que nada.

O dia de trabalho começa às oito da manhã e termina às sete da tarde, com uma hora de intervalo para o almoço. Às vezes, porque se reveza com outro colega, também antigo pescador, pega às nove e sai às oito. Num caso ou no outro, são dez horas de trabalho que se vêem na pele marcada pelo sol do velho pescador. E se o dinheiro dá jeito, trabalhar com os turistas também não é mau. "Não tenho nada a dizer deles", diz. "Tenho-me dado muito bem, no aldeamento gostam de mim, já os conheço há muito tempo, somos quase como família". 

Ao dia de folga, normalmente à sexta-feira, o mestre barqueiro, que agora vive ali a poucos quilómetros, em Tavira, pega na sua bicicleta e vem mais uma vez para Cabanas. Tem uma pequena barraca de madeira no extremo da marina, no mesmo sítio onde os pescadores guardam os barcos e o material para a faina, e aí passa o seu dia livre. "A matar saudades" dos velhos tempos. Às vezes ainda sai para o mar, no último barco que lhe restou, mas na maior parte das vezes fica por ali, a fazer redes de pesca, uma arte que aprendeu com o pai e que lhe rende mais algum dinheiro. O trabalho é minucioso, uma agulha de madeira a desenhar pequenos quadrados de corda onde os peixes ficarão presos. "São redes para besugos, na costa aqui à frente", explica. Por cada uma que faz cobra dez euros, fora o material, e a média são duas por dia. É um complemento, mais pelo prazer de estar entretido, ali mesmo, ao pé da ria. 

O senhor Custódio casou aos 18 anos, teve nove filhos, entre netos e bisnetos já conta mais 32 descendentes, mas até hoje nenhum lhe seguiu as pisadas. Tem um filho pedreiro, outro motorista de longo curso, outros ainda que trabalham no turismo, mas nenhum que quisesse ser pescador e, muito menos, aprender a fazer redes de pesca. "Os tempos são outros. E eu comecei aqui, com o meu pai, e foi a vida toda. E será até morrer."


[Publicado aqui]

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Ora bolas!


 
Ora bolas!
[para destacar ao início] A partir de Julho, que é quando os turistas chegam em força, vendem-se, em média, 4.000 por dia. Em Agosto, o número dispara para as 7.000. Juntando os restantes meses do Verão, são 465.000 bolas por ano, mais coisa menos coisa. O que dará um simpático volume de facturação na ordem dos 550 mil euros.
Há 40 anos um jovem casal de uma aldeia piscatória da costa algarvia, onde ainda mal começavam a chegar os turistas, fundou um pequeno e inovador negócio de bolas de berlim. Com creme e sem creme, que nessa altura a ASAE ainda não palmilhava ainda os areais. O negócio foi crescendo, ao mesmo ritmo a que todos os anos iam chegando os banhistas, e as bolas de berlim, que começaram por povoar o sotavento algarvio, estenderam-se ao barlavento e depois ao resto do país e acabaram por se tornar num símbolo dos verões portugueses.
Quanto ao jovem casal, lá foi fazendo as suas bolas, de Abril a Outubro e, adaptando-se às novas formalidades legais, garantiu a concessão para três extensos areais.
Tiveram dois filhos, um rapaz e uma rapariga, e trataram de lhes ensinar a sua arte. Depois vieram os netos, que apesar de ainda jovens, se juntaram também já ao negócio.
A receita é simples. Ovos, farinha, manteiga, açúcar (muito), óleo para fritar. E todos os dias, a partir das duas da manhã, lá está a família a preparar as bolas que, na manhã seguinte, serão distribuídas pelos turistas. Distribuídas, é como quem diz, que este ano cada uma custa 1,20 euros. 
São mais 20 cêntimos que no ano passado, mas isso não desencoraja os banhistas. As contas são simples e têm muitos dígitos: A partir de Julho, que é quando os turistas chegam em força, vendem-se, em média, 4.000 por dia. Em Agosto, o número dispara para as 7.000. Juntando os restantes meses do Verão, são 465.000 bolas por ano, mais coisa menos coisa. O que dará um simpático volume de facturação na ordem dos 550 mil euros. 
O avô e a avó já não trabalham, mas ainda supervisionam as bolas. Quanto ao resto da família, passa agradáveis e amenos Invernos, que o trabalho de Verão é duro. Duro, mas rentável.
Há 40 anos um jovem casal de uma aldeia piscatória da costa algarvia, onde ainda mal começavam a chegar os turistas, fundou um pequeno e inovador negócio de bolas de berlim. Com creme e sem creme, que nessa altura a ASAE não palmilhava ainda os areais. 

O negócio foi crescendo, ao mesmo ritmo a que todos os anos iam chegando os banhistas, e as bolas de berlim, que começaram por povoar o sotavento algarvio, estenderam-se ao barlavento e depois ao resto do país e acabaram por se tornar num símbolo dos Verões portugueses.

Quanto ao jovem casal, lá foi fazendo as suas bolas, de Abril a Outubro e, adaptando-se às novas formalidades legais, garantiu a concessão para três extensos areais.Tiveram dois filhos, um rapaz e uma rapariga, e trataram de lhes ensinar a sua arte. Depois vieram os netos, que apesar de ainda jovens, se juntaram também já ao negócio.

A receita é simples. Ovos, farinha, manteiga, açúcar (muito), óleo para fritar. E todos os dias, a partir das duas da manhã, lá está a família a preparar as bolas que, na manhã seguinte, serão distribuídas pelos turistas. Distribuídas, é como quem diz, que este ano cada uma custa 1,20 euros. São mais 20 cêntimos que no ano passado, mas isso não desencoraja os banhistas.

As contas também são simples e têm muitos dígitos: A partir de Julho, que é quando os turistas chegam em força, vendem-se, em média, 4.000 por dia. Em Agosto, o número dispara para as 7.000. Juntando os restantes meses do Verão, são 465.000 bolas por ano, mais coisa menos coisa. O que dará um simpático volume de facturação na ordem dos 550 mil euros. O avô e a avó já não trabalham, mas ainda supervisionam as bolas. Quanto ao resto da família, passa agradáveis e amenos Invernos, que o trabalho de Verão é duro. Duro, mas rentável.

(Texto publicado aqui)

sábado, 14 de julho de 2012

Last day in Cabanas

Madalena vê as Winx no iPhone, Pedro e Sérgio brincam com os carrinhos na relva, são quase oito da noite e estão uns trinta graus de temperatura, mais coisa menos coisa. Há imensa gente dentro da piscina, outros tantos cá fora, e ninguém tem vontade de arredar pé. Muito menos nós, que amanhã rumamos a lisboa depois de uma semana preciosa de sol, banhos, comida saudável (descontando as bolas de berlim e os gelados diários) e bastante exercício, sobretudo para os pais, desabituados que estão de correr o dia todo atrás de dois seres cheios, cheios de energia. Chegamos à noite e só pensamos em ir para a cama, mas é um cansaço bom, daquele que tira as olheiras ao pai e acaba com os stresses da mãe. Em Agosto estamos de volta, prometemos hoje ao senhor do barco, que nos trouxe só a nós quando regressámos da praia e em vez de carregar no acelerador, como de costume, veio muito devagarinho pela ria. Em Agosto voltamos.

Pedrinho, o falador

Uma semana de férias foi suficiente para destravar a lingua ao senhor Pedro, que dentro de pouco tempo estará certamente apto a discursar. Façamos então um balanço do recém adquirido vocabulário: Ma - Madalena Pê - Pedro Vô - avô Vó - avó Cau - água, mas também pode ser carro ou mesmo Calvin, dependendo da ocasião Tu - chucha Titi - Ritinha Tá - Tiago I....na - Inna E pronto, assim de repente é isto. Ah, e também canta muito bem a caminho da praia. E vem chamar a mãe quando a mana faz cocó e precisa de ajuda: mamã, Ma, cocó. Uma frase inteira, portanto.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Férias

Os senhores juizes do Tribunal Constitucional decidiram hoje, num acórdão salomónico, que a partir do ano que vem vamos todos perder os subsídios de férias e de Natal. Não foi bem isso que eles escreveram, mas o resultado é exactamente esse. Ou é para todos, ou entao nada feito, agora essa de serem só os funcionários públicos (caso dos próprios dos juízes) e os pensionistas a pagar a crise, isso é que não pode ser. Não têm duvidas que os cortes são inconstitucionais, mas além de abrirem uma excepção para este ano, não se lembraram de fundamentar a decisão dizendo por exemplo que os subsídios são direitos adquiridos. Ou que já se está a pedir mais do que a conta aos portugueses com esta história da austeridade. Nada disso. Resolveram tramar a vida a toda a gente e pronto. Assim sendo, e uma vez que para o ano é certinho como o sol nascer todos os dias que não há subsídio de férias, então vamos lá aproveitar e, sem medos, Algarve, aí vamos nós. E é já no sábado, de manhãzinha, com passagem prévia pelo Alentejo e banho de piscina marcado para o fim do dia. Para o ano logo se vê.