sábado, 27 de março de 2010

Coisas para contar às namoradas do Pedro

O Pedro faz hoje um mês. Trinta noites mal dormidas, olheiras até ao umbigo e maminhas bastante maltratadas de tanta solicitação que têm tido. Ora, meu menino, estas coisas pagam-se, portanto vou registar umas coisitas para contar às tuas namoradas, quando,daqui a uns aninhos, as trouxeres cá a casa. Sempre quero ver a cara delas quando lhes disser que na primeira vez que te mudei a fralda me brindaste com um vigoroso xixi, que saiu em arco e foi aterrar directamente na tua orelha esquerda. Eu, habituada aos hábitos recatados da tua mana, apanhei um susto valente, mas a partir daí nunca mais me deixei apanhar desprevenida e sem um dodot à mão. Um episódio engraçadito, mas nada que se compare com as noites que tenho passado desde que vim para casa. Começo a suspeitar que engoliste algum relógio suiço porque ainda estou para saber como é que consegues acordar religiosamente de duas horas e meia em duas horas e meia. Sempre e sem falhas. Salto da cama ao primeir buá, saco da maminha, dou um berro ao papá para que deixe de ressonar e depois vou dormitando enquanto tu vais petiscando. São dez minutos para cada lado, pelo menos, mais outro tanto para o belo do arroto e mais meia hora para voltares a adormecer, porque entretanto dormiste o dia inteiro e à noite preferes conversas um bocadito. Não tenho nada contra, mas preferia que começasses a dormir mais umas horinhas à noite e deixasses a converseta para durante o dia.
Mas há mais, como os beicinhos deliciosos quando te quero pôr a dormir e tu não estás para aí virado e tenho de ficar de mão dada contigo, porque assim te sentes mais protegido e aconchegado. Outro truque é ligar o rádio e deixar-te a ouvir a TSF até que te resignas e adormeces. Contigo não adianta impingir-te uma chucha a ver se te distras, porque te limitas a fazer uma careta e a cuspir a dita. Não sei se é sinal de que sabes bem o que queres, se é só para me irritares, mas o que é certo é que não te consigo convencer. Ou choras, ou ficas a olhar para mim, com os teus olhos muito abertos que agora, passado um mês, já seguem a minha voz de um lado para o outro.
E assim ficamos, a namorar um com o outro, eu a aproveitar que agora ainda te tenho só para mim, cheia de sono, mas muito, muito orgulhosa do meu rebento.

Ainda a MAC

Foram os primeiros amiguinhos do Pedro: Nicole, Kiara, Maria, João e mais dois rapazinhos de quem nunca soube os nomes, um porque se foi logo embora, outro porque a mãe não era lá muito comunicativa. Era a única, aliás, porque aqueles três dias na enfermaria 205, primeiro andar da Maternidade Alfredo da Costa, deram para fazer grandes amizades, daquelas que terminam mal temos alta e vimos para casa, mas que enquanto duram nos enchem a alma. Aquilo ali é solidariedade em estado puro, olhamos pelas crias umas das outras quando é preciso, emprestamos fraldas e dodots, trocamos conselhos e dicas sobre banho, cólicas e mais 520 outras coisas que apavoram quem se vê a braços com uma criaturinha tão frágil e tão dependente. Não importa se a mãe da Kiara é cigana e a da Maria é chiquérrima e dona de um caríssimo conjunto de malas Louis Vouitton. É irrelevante que a mãe da Nicole também seja cigana e a do João, com grande desgosto da própria, se chame Cátia Vanessa e implore a toda a gente que se esqueça do Vanessa. Isso são pormenores, porque ali estamos todas no mesmo barco e quando damos por nós já somos grandes amigas, unidas por uma causa comum, que são os nossos rebentos.
Fernanda, Cassandra, Alexandra, Cátia, as mães, é quase certo que nunca mais verei nenhuma delas, mas aprendi qualquer coisa com todas e não trocaria os três dias na MAC por nenhum quarto só para mim, num qualquer hospital privado.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Contra factos...

... parece que não há mesmo argumentos e portanto é bom que me habitue à ideia: deixei de ser uma rapariga S e passei definitivamente ao M. Eu, que sempre me gabei de conseguir encontrar coisas giras e de tamanho pequeno nos saldos, faço agora parte da grande multidão dos M, o que significa que a minha cinturinha de vespa, dos tempos AM (leia-se, antes da Madalena), foi definitivamente à vida. Sim, bem sei que pari duas crianças em menos de dois anos, que já não tenho propriamente 20 anos, etc. etc. Sei disto tudo, mas nem por isso me sinto mais animada. O lado bom da coisa é que não me apetece fazer compras e a minha veia consumista anda pelas ruas da amargura. Ainda ontem rumei ao Chiado, esse antro em que apetece entrar porta sim, porta sim, e voltei para casa com duas míseras camisas e uma t-shirt do mais baratito que encontrei e só porque realmente não tenho nada que vista. É que não tenho mesmo. E quem se atrever a dizer o contrário prepare-se, que eu ando com pouca paciência para brincadeiras parvas. Humpf.

P.S. Só para me lembrar daqui a uns tempos, quando tiver conseguido voltar ao tamanho S: ainda tenho de me livrar de três quilos para voltar ao peso que tinha antes de ficar grávida do Pedro. A distância até à era AM é de seis (seis!!!).

quinta-feira, 18 de março de 2010

Jet leg

O novo homem cá de casa dorme lindamente. Muito bem, mesmo. Com um pequeno pormenor: é assim só de dia, porque de noite a música é outra. Acorda de duas em duas horas para petiscar qualquer coisa e depois é vê-lo, acordadissimo, de olhos bem abertos para o mundo e a berrar a plenos pulmões mal tentamos colocá-lo no berço - e pulmões, acreditem, é coisa que ele já desenvolveu muito bem. Chucha nem vale a pena tentar, que é artefacto que não lhe interessa, e a maminha da mãe até é óptima para adormecer, mas não é suficiente para provocar um soninho profundo que resista a um regresso ao berço.
O resultado é uma mamã cheia de olheiras e com imensa inveja do papá, que consegue continuar a dormir olimpicamente mesmo no meio do maior berreiro da cria. É certo que o rapaz só tem duas semanas e meia e que estas coisas do jet leg são perfeitamente normais em que faz viagens desta dimensão, mas, por favor, alguém me sabe dizer quando é que é suposto passar? E, sendo certo que uma palmada no rabo de sua magestade está fora de questão - até porque não serviria de nada -, o que é que uma pobre mãe em desespero pode fazer? É que depois olho para ele, a fazer beicinho e só me dá para o encher de beijinhos e todas as tentativas de impor alguma disciplina vão imediatamente por água abaixo...

terça-feira, 16 de março de 2010

O bom gato à casa torna

Era uma vez um gato cinzento, de cauda torta, ideias fixas, guloso até mais não poder e conhecido em toda a vizinhança pelas asneiras que fazia, mas também pela meiguice que lhe valia sempre grandes prémios em forma de comida. O gato chamava-se Calvin e há muito que tinha esgotado as suas sete vidas: andou perdido nos jardins da Fundação Mário Soares, foi raptado por uma velhota carente que o fechou em casa dela, apareceu estropiado num veterinário, caiu de um segundo andar e partiu o queixo, perdeu-se e foi parar a uma morgue, de onde um senhor muito simpático telefonou ao dono a avisar, entre muitas outras coisas que nunca ninguém soube porque ele era um gato discreto que não gostava de se gabar das suas aventuras.
Um dia o Calvin não voltou a casa. Ele, que nunca falhava a hora do jantar mais do que dois ou três dias seguidos, pura e simplesmente, desapareceu. Os donos palmilharam o bairro, perguntaram a toda a gente, ficaram a conhecer mais alguns vizinhos de tanto bater às portas e acabaram por desistir, porque o Calvin desapareceu sem deixar rasto. Todas as noites a dona espreitava pela janela da cozinha, não fosse ele aparecer, e o dono dizia a quem o queria ouvir que o gato cinzento de cauda torta estava vivinho da silva e só não vinha para casa porque não o deixavam. Passaram os dias, as semanas, os meses, quatro, cinco, seis, os donos já nem se lembram, porque entretanto muita coisa aconteceu e até lhes nasceu um bebé. Até que ontem, de repente, o dono saiu de manhã para comprar o pão do pequeno almoço e quando voltou para casa, lá estava ele no patamar, à espera que alguém lhe abrisse a porta. Assim como se tivesse saido há dois dias para uma voltinha, como costumava fazer. Entrou em casa muito determinado, cumprimentou o Zorbas - o outro gato da casa - meteu o nariz em todo o lado e foi instalar-se, de ar feliz e regalado no seu canto preferido da marquise. Não contou a ninguém onde passou os últimos meses e os donos também não lhe perguntaram nada. Estão demasiado ocupados em mimá-lo e livrá-lo dos vários milhares de pulgas que lhe invadiram o pelo cinzento.

O que o avô António havia de ter gostado desta história...

segunda-feira, 15 de março de 2010

Manos

Quando a vi entrar no quarto da maternidade, casaco de lã da avó, muito despachada, com um desenho na mão, prenda para a mamã e para o mano recém-nascido, tão linda, tão linda, até se me esqueceram as dores todas porque se não a abraçasse rapidamente desmanchava-me ali mesmo em lágrimas. E isso é que não podia ser.


Fiquei três dias sem a ver, uma eternidade, nós que nunca tinhamos passado uma noite uma sem a outra, e dos relatorios que me iam fazendo, diziam-me que nem uma vez tinha perguntado pela mamã. Ela sabe que alguma coisa se passa e está a ser uma menina muito corajosa, garantia o pai e provavelmente com razão, porque ela olhou para mim na maternidade como se já soubesse muito bem que eu estava ali e aquilo fosse tudo muito normal. Ao mano, à parte uma rápida espreitadela para o berço, não ligou nenhuma.


Quando o trouxemos para casa, foi assim durante algum tempo, mas agora já começa a interessar-se mais por ele. Chama-me quando o ouve a chorar, vai espreitar o berço quando lhe digo que vá ver se ele está bem e ficou toda orgulhosa quando lho pusémos no colo, com direito a beijinho e tudo. "Mano Pedo", diz ela. "Mano quido", diz às vezes, porque percebeu que ficamos todos derretidos quando a ouvimos.


Ontem saímos os quatro pela primeira vez, para mostrar o rio ao Pedro. A minha pequena grande família e um amor tão grande, tão grande, que às vezes parece que não cabe todo aqui dentro e é preciso chorar um bocadinho.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Nasceu uma estrela

Desta vez tudo foi diferente. Eu queria um parto com história e queria saber o que é isso de parir uma criança sem ser por cesariana, que não é uma forma menor de o fazer, mas essa experiência já eu a tinha. Queria e tive. Fiquei mais de 24 horas no bloco, graças a uma médica demasiado picuinhas, mas o trabalho de parto propriamente dito durou umas sete horas, mais coisa, menos coisa, desde que uma sádica qualquer resolveu que estava na hora de romper as águas. A partir desse momento começou a tal "história" que eu queria e que incluiu de tudo, desde gargalhadas a gritos - muitos - com alguns insultos pelo meio. Não só ao pai de família cá de casa, que não arredou pé e não se deixou impressionar, mas também ao enfermeiro Pedro, homem de grande paciência e belo sorriso, que me trouxe uma anestesista logo que as regras me permitiram a epidural e que me deixou andar pelo chão nas horas de maior angustia, porque lhe falei na minha avó alentejana, que teve nove filhos e, muito provavelmente, nenhum lhe nasceu na cama.
Eram onze e cinco da noite quando o rapaz deslizou suavemente para fora - não sei se haverá sensação de maior alívio... - e o colocaram, finalmente, em cima da minha barriga. Para ser honesta, a única coisa que vislumbrei foi uma pilinha, porque o levaram imediatamente dali para fora, com o pai atrás, para averiguar o que raio lhe iam fazer ao herdeiro. Só voltaram quase uma hora depois, já eu suspirava por uma sandocha de fiambre e uma meia de leite, ainda indiferente às dores que durante mais de uma semana não haveriam de me deixar sentar decentemente. A única coisa que consegui foi um pacotito de leite e uma paposeco muito seco com manteiga, que afinal aquilo era a MAC e não um hotel de cinco estrelas. Pormenor sem importância, porque já tinha a minha criança no colo, lindo e maravilhoso apesar das ruguinhas todas, dos olhos inchados e do ar, em geral, de quem tinha acabado de fazer uma viagem longa e acidentada.Lá fora estava um sábado ventoso e chuvoso e à minha frente tinha um pai derretido de orgulho pelo seu feito. Na sala de espera, o tio Rui mais meia dúzia de amigos ainda a comemorar os quatro-zero do Leixões-Benfica dessa noite e uma família de ciganos, também a aguardar por um novo membro, deram as boas vindas ao Pedro.

domingo, 7 de março de 2010

Pedro

O rapaz nasceu a 27 de Fevereiro, quatro dias antes do esperado, com 3,380 kg e 50 centímetros de comprimento. É lindo e maravilhoso. Muito. Estamos cheios de histórias para contar e para guardar para a posteridade, mas entre fraldas, mamadas, banhos (a duplicar), mimos para a mana (também a duplicar), tudo sempre a arrastar uma boia comigo não vá precisar de me sentar, a vinda ao blog tem sido sempre adiada. Brevemente daremos mais notícias.