segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

serviço público para pais inexperientes

Voltou a ir para a cama sózinha, sem me pedir que fique com ela, que nos deitemos as duas na cama grande que está no seu quarto até que o sono lhe chegue. Hoje deitei-a, fechei a luz e lá ficou, de olhos ainda abertos, ainda a tagarelar com o ursinho e com a gatinha. Desde a semana passada que não era assim, chorava tanto que eu, contrariada, lá ia consolá-la, abraçá-la com força, ao mesmo tempo que fechava os olhos e me vinha à cabeça a minha filha desmaiada, sem eu lhe ouvir a respiração, os piores minutos de toda a minha vida. Ela já adormece novamente sozinha e eu já consigo - ainda a custo - escrever sobre isto e espantar os fantasmas do medo que de vez em quando ainda me assaltam. O desmaio foi da febre, mas nessa altura au ainda não sabia, não sabia que era o corpo dela a defender-se, que aquilo parece que é normal nos bebés, que o melhor que há a fazer é refrescá-los porque dentro de uns minutos passa, não sabia nada disso e o pai, que voou do trabalho até casa quando eu lhe telefonei em pânico, também não. Depois os senhores do INEM explicaram-nos, a médica do hospital da Estefânia também, a Madalena não voltou a ter febre e ficou apenas a lembrança feia do pior fim de tarde de que tenho memória. Se voltar a acontecer, espero ter a presença de espírito suficiente para me acalmar e enfiar a rapariga na banheira. Espero, mas não garanto, porque se a minha filha não está bem, o medo torna-se um bicho gigante e irracional, completamente impossível de controlar.

Explicação para pais inexperientes como nós: quando os bebés têm febre, por vezes esta sobe subitamente e atinge picos muito altos, provocando pequenos desmaios ou mesmo convulsões com espasmos. A receita é despi-los imediatamente, dar um banho morno e, sobretudo, não entrar em pânico, porque normalmente passa poucos minutos depois. Parece fácil, não é?...

domingo, 27 de dezembro de 2009

Madalena foi ao Zoo

Devia ter uns sete ou oito anos quando os meus pais me levaram ao Jardim Zoológico pela primeira vez, numas férias passadas em Lisboa em que viemos os quatro enfiados no Mini do primo António de Queluz. Nós e o primo, naturalmente. Fiquei com mais lembranças da viagem e da ida à Feira Popular do que da visita aos bicharocos do Zoo, mas sei que havia um elefante que tocava um sino quando lhe davam comida, montes de macacos enfiados em gaiolas e uma zona de cobras que eu e a mãe detestámos. Também havia um cemitério de cães, a imitar os cemitérios à séria, que me deixou muito comovida, apesar de o pai só dizer que aquilo era um perfeito disparate.
Depois disso devo ter voltado mais uma ou duas vezes, com um ou outro namorado, mas as visitas varreram-se-me da memória, por isso mal reconheci o Jardim Zoológico quando lá entrámos ontem. A desculpa era aproveitar o sol depois da tempestade dos últimos dias e levar a Madalena a ver os animais, mas na verdade ela não se entusiasmou assim muito. Entusiasmámo-nos nós, eu e o pai, belos cromos um e o outro, a ver a nova casa dos macacos, que já não estão enfiados em jaulas, os tigres brancos, os leões marinhos, os golfinhos. Dona princesa bateu palminhas, fez uma ou outra birra a pedir colo, assistiu impávida ao espectáculo da baía dos golfinhos, mas passou uma boa parte do tempo a dormir no seu carrinho.
Conclusão: temos de lá voltar. Os bilhetes são caríssimos (16 euros cada), a zona dos restaurantes precisa urgentemente de uma mudança radical, mas o Jardim Zoológico não perdeu a magia.

Natal da Madalena

Dois dias de maratona, mas cheios, muito cheios de emoção.

Com viagem relâmpago ao Alentejo;

Doces e comidinha da avó (demasiada para uma mãe grávida de sete meses);

Um avô vestido de Pai Natal deliciado com o seu papel e que se portou à altura mesmo quando a neta desatou num berreiro de susto;

Uma neta cheia de mimo que mal se habituou ao Pai Natal já só queria era rasgar papéis e abrir presentes;

Uma noite de consoada sem Missa do Galo, que estava demasiado frio, mas com visita ao presépio no dia seguinte mesmo com chuva;

Presentes, muitos, e uma bebé deliciada com o triciclo novo, o carrinho do nenuco, a camisola nova que insistiu em pôr imediatamente para a seguir se ir ver ao espelho, entre um montão de outras coisas que recebeu sempre com aquele sorriso tão lindo dela.

E depois, no dia seguinte,

Nova viagem, desta vez de regresso a Lisboa, debaixo de uma chuvarada imensa, que havia por cá mais festas à espera;

Com primos que a deixaram louca de excitação, a rir e a brincar que nem uma perdida;

Visita à avó Graça, com prendas;

Jantar na avó Gracinha (e mais comida boa para a mamã engordar);

Um avô que não esteve, mas foi como se estivesse;

Mais prendas, muitas prendas, algumas já guardadas para lhe dar daqui a uns tempos, porque agora não tem tempo para brincar com todas;

E um total de duas maratonas em que se deitou sempre já muito depois da meia-noite porque foi a estrela das festas e uma estrela não se retira antes do fim, pois claro.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

festa de Natal

Bem me custou não desatar logo ali a chorar, quando ela correu para mim, gorro de pai-natal na cabeça, linda, linda com aquele sorriso só dela. Bem sei que são as hormonas desarranjadas da gravidez, mas foi também o orgulho grande, enorme, que me bateu e que não tinha mais por onde sair. Orgulho da minha filha na sua primeira festa de Natal, excitadissima e ansiosa por nos mostrar, a mim e ao pai, tudo o que havia na sua sala. Sim, porque a nossa pequena maravilha, pouco mais que um ano e meio de vida, já tem festa de Natal da escola, ainda há uns meses mal gatinhava e agora já anda a fazer castiçais de gesso para oferecer de prenda aos pais.
Foi uma belíssima festa, multicolor, porque os coleguinhas da Madalena são assim mesmo, multilingue, porque os há dos vários cantos do mundo, com músicas natalícias, petiscos feitos pelos orgulhosos progenitores, toilettes de todos os géneros e feitios, penteados variados de carapinhas, rastas, cabeleiras loiras e morenas. Um conjunto único, ou não estivessemos nós na Pena, no melhor infantário da cidade. No meio da conversa de circunstância com a directora, aproveitei para lhe perguntar se seria fácil conseguir vaga para o Pedro. Será fácil, sim senhora, que os manos têm prioridade e a nossa princesa pode levar o dela. Para o ano há mais. Muito mais, tenho a certeza.

Conto da Pega

Era uma vez duas comadres que andavam brincando, uma Pega e uma Raposa. Mas a Raposa
rasgou o papo à Pega, esta ficou zangada e disse-lhe: agora tens que me coser o papo.
Responde a Raposa mas como? Se não tenho linha?!
Diz a Pega vai pedir à Égua que te dê uma seda do rabo e assim já tens linha.
A raposa lá foi: pediu à Égua que lhe desse uma seda para coser o papo à comadre Pega, responde a Égua Então dá-me erva, a Raposa Foi pedir ao Vale, Vale dá-me erva para eu dar à Égua. Para a Égua dar uma seda para eu coser o papo à comadre Pega, responde o Vale: então dá-me água: a Raposa foi pedir à Núvem, Núvem dá-me água, para eu dar ao Vale, para o Vale me dar erva para eu dar à Égua, para a Égua me dar uma seda para eu coser o papo à comadre Pega. Responde a Núvem: então dá-me uma borrega. A Raposa foi pedir ao Moiral, Moiral dá-me uma borrega, para eu dar à Núvem, para a Núvem dar agua, para eu dar ao Vale, para o Vale dar erva, para eu dar à Égua, para a Égua dar uma seda, para eu coser o papo à comadre Pega. Responde o Moiral: então dá-me um cão, a Raposa foi pedir à Cadela, Cadela dá-me um cão, para eu dar ao Moiral, para o Moiral dar uma Borrega, para eu dar à Núvem, para a Núvem dar água, para eu dar ao Vale, para o Vale dar erva, para eu dar à Égua, para a Égua dar uma seda, para eu coser o papo à comadre Pega. Responde a Cadela: então dá-me um pão. Foi pedir à Padeira, Padeira dá-me um pão, para eu dar à Cadela, para a Cadela dar um cão, para eu dar ao Moiral, para o Moiral dar uma borrega, para eu dar à Núvem, para a Núvem dar água, para eu dar ao Vale, para o Vale dar erva, para eu dar à Égua, para a Égua dar uma seda, para eu coser o papo à comadre Pega.
A Padeira foi sua amiga: deu-lhe o pão, doi dá-lo à Cadela, a Cadela deu-lhe o cão, foi dá-lo ao Moiral, o Moiral deu-lhe a borrega, foi dá-la à Nuvem, a Nuvem deu-lhe água foi dá-la ao Vale, o Vale deu-lhe erva, foi dá-la à Égua, a Égua deu-lhe a seda e ela foi coser o papo à comadre Pega.

(Contribuição da avó Fátima, que costumava contar esta história à mamã e agora o rebuscou na memória com a ajuda do avô Manuel. É o conto que a Madalena anda a ouvir nos dias em que acha que ainda é cedo para ir dormir. Fica muito quietinha, ouve a lenga-lenga do princípio ao fim, e depois vai calmamente para a cama, sem qualquer protesto. O mano, na barriga, também já se vai habituando. Espero eu...)

domingo, 13 de dezembro de 2009

método

As coisas têm regras. Método, portanto. Para comer o iogurte, de manhã, primeiro é preciso ir buscar a cadeirinha, sentar em frente ao papá, pousar a chucha (pode ser no chão mesmo) e então sim, que venha o iogurte. E as migalhinhas que há espalhadas pela cozinha? São para o lixo, claro. A porta do frigorífico é para fechar (logo depois de tirar lá de dentro a caixa dos ovos) e a do armário da cozinha também. Além disso, sabe sempre onde está tudo. Por exemplo, Madalena, sabes onde estão as botas da mamã? Sabe, sim senhora, lá vai ela toda despachada. E depois, enquanto eu as estou a calçar, pega nas pantufas e vai arrumá-las no sítio. Regressa muito satisfeita e sorridente: "já tá!" É o orgulho da mamã, esta menina...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

post à melhor amiga

É que não havia noite que fossemos dormir sem telefonarmos uma à outra. Ela sabia tudo sobre mim, eu sabia tudo sobre ela, chorávamos e riamos no ombro uma da outra, trocávamos roupa, trocávamos livros, só não trocávamos namorados, porque nunca tivémos os mesmos gostos. Mas trocávamos confidências. Muitas. Apanhávamos bebedeiras e faziamos telefonemas malucos a meio da noite, iamos aos fins-de-semana para a Kapital e na volta cantávamos as músicas do José Cid aos berros no carro dela, só porque era giro e tinha piada. E não houve namorado que nos afastasse, que, afinal, eramos melhores amigas, nesta nossa adolescência tardia (quase) sozinhas em Lisboa.
Ontem encontrei-a. Estava a atravessar uma rua e ela chamou-me. Abraçámo-nos e ficámos ali, à esquina, mas não houve aquela coisa do parece que foi ontem, parece que nunca deixámos de nos ver e de nos telefonar antes de ir dormir. Não houve nada disso, nem palavras que não fossem apenas de circunstência, como estás, o que tens feito, a tua miúda está enorme, com certeza, acho que já não a conheço, e a tua barriga também, qualquer dia és mamã outra vez. Não houve mais nada e em dois minutos despachámos a coisa e despedimo-nos, com ela a garantir que telefona, que vamos combinar um almoço, que temos muita conversa para pôr em dia, e eu fartinha de saber que nunca vai ligar e que também não vai atender os meus telefonemas, nem responder aos meus e-mails, que não vou ver a filha dela crescer e nem ela vai saber das gracinhas dos meus.
Como é que chegámos aqui? Não sei. Mas também não vale a pena saber.
Cheguei ao trabalho cheia de vontade de chorar, mas deve ser porque a gravidez me deixa as hormonas completamente indomáveis. Porque, querida Madalena, como tu um dia também hás-de descobrir, tudo isto faz parte dessa coisa maravilhosa que é... viver.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

vacina da gripe A

E lá fomos as duas à vacina. Centro de Saúde da Alameda, duas e meia da tarde, mais coisa menos coisa. Na sala de espera, umas dez crianças, com os respectivos acompanhantes, e mais outros tantos ilustres representantes da terceira idade, ansiosos por se imunizar do terrível virus que para aí anda. E eu e a Madalena, pois claro, a aguardar pacientemente a nossa vez e, depois, a aguardar já não tão pacientemente que passasse a meia hora que nos obrigaram a esperar a ver se aquilo fazia alguma reacção negativa. Entretanto, fomos travando conhecimento com a fauna circundante, que incluia desde vendedores de droga da Picheleira carregados de sacos de compras de marcas famosas, até avós com gravatas de seda e malas Luis Vuitton, à beira de uma apoplexia ao verem as crianças a rebolarem-se no chão pejado de bactérias. Ai querido, soluçava a dona da mala para o senhor da gravata de seda que corria atrás da neta, ai querido, tu não a deixes pôr a mão na boca, pela tua saudinha. Isto enquanto, no outro lado da sala, o traficante da Picheleira tentava, sem sucesso, salvar dos micróbios o seu Fábio de seis anos e brinco na orelha, engalfinhado numa pacífica luta com o único miudo negro da sala, cuja mãe assistia placidamente, só se levantando de vez em quando para limpar o ranho do rebento. Melhor do que ir ao cinema, portanto. Só tive pena de já não saber como terminou o episódio da terceira idade revoltada, encabeçada por uma senhora de calças pele de cobra e armação no cabelo, indignada por ver os pimpolhos todos a passar à frente, enquanto ela se arriscava a já não apanhar a bela da vacina nesse dia. Eu e a Madalena retirámo-nos quando começaram esses disturbios e fomos lanchar à primeira pastelaria que encontrámos. Foi uma tarde com demasiadas emoções e isso, como toda a gente sabe, dá muita fome.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Imeldinha

Não como sem as minhas galochas. Não como, não como, não como, prontos. Ou me pões as galochas, ou nada feito. Se ela falasse, teria sido assim. Como não fala, berrou a plenos pulmões e eu, se dúvidas tinha, fiquei a conhecer exactamente o sentido da expressão "chorar baba e ranho". Lá tive de lhe pôr as belas das botas de borracha com o Mickey, que felizmente lhe ficam grandes e por isso cabem bem com o pijama. Devidamente aperaltada, a nossa Imeldinha comeu o prato de arroz com galinha sem pestanejar e a seguir ainda deu umas belas dentadas na minha fatia de pizza. Isto vai ser bonito, vai...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Primos (ou A Tia Sofia Vai Ter Um Bebé)

Já os estou a ver aos dois, a correrem que nem uns malucos na relva da Varzea, a deixarem-nos a nós malucos que ainda se atiram para a piscina, ou aterram no meio das roseiras, ou fazem outro disparate qualquer, e a Madalena a comandar as hostes, com aquele arzinho dela de menina bem comportada mas sempre a inventar qual é que há-de ser a próxima brincadeira. Vão ser três, quase da mesma idade, mais mês menos mês não se nota diferença nenhuma, e hão-de ser amigos, como são a Aninhas e o Tiago e a Catarina, e são uns meninos cheios de sorte que isto de ter primos é mesmo muito, muito bom. Eu ainda me lembro dos verões com a Carla e de como sempre fomos melhores amigas e todas as referências que só nós duas temos, mesmo agora que já passaram estes anos todos e temos trezentos e tal quilómetros a separarem-nos. E o Sérgio ainda fala da Sandra e das brincadeiras e corridas na Praça Pasteur, apesar de já não se verem há que tempos. A Madalena, o Pedro e o No Name Boy da tia Sofia e do tio Bruno são uns meninos cheios de sorte e nós todos também, por eles fazerem parte das nossas vidas.

A Sofia, o Bruno e Tiago foram hoje espreitar o bebé na barriga. Está lindo e maravilhoso, com quase 13 semanas e, ao que consta, muito confortável e com um coração tão afinadinho como o do Pedro. Lá para Junho está cá fora.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Maria

Nasceu no Domingo, 29, no mesmo dia em que a mamã fazia anos e é linda, linda que se farta, que eu já vi uma fotografia. Parabéns, querida Blan. Parabéns a dobrar.