Quatro dias os dois, numa cidade desconhecida, um mapa e um
guia na mão, museus, jardins, ruas, lojas, cafés com bolos de reis e eu a
sentir-me uma princesa, não digo rainha que me faltava por lá a prole. Este ano
foi assim, em Viena, na Áustria, e foi muito bom. Uma viagem a dois pela
primeira vez em sete anos, mas com a decisão de lá voltar com eles, porque na
verdade é muito bom viajar a quatro e, apesar de a dois haver mais tempo para o
namoro, sobra-me uma pontinha de tristeza por não os levar comigo.
Num dos passeios, uma passagem por Hauptbahnhof, uma gigantesca estação de comboios
onde se juntam e esperam refugiados sírios. Não sei há quanto tempo lá estão e
são, seguramente, muito menos do que em Setembro ou Outubro, quando as Famíliascomo as Nossas lá foram e trouxeram uma família para Portugal. Mas continuam
lá, a dormir no chão da estação, crianças pequeninas a correr por ali, rapazes
sozinhos de mochila às costas e telemóvel na mão, famílias na fila na zona da
alimentação, onde voluntários distribuem fatias de pão, fiambre e fruta. À
espera de um bilhete para um futuro que demora em chegar.
Saímos dali rapidamente. Porque não tínhamos grande forma de
ajudar, embora nos apetecesse muito, e porque não queríamos que se sentissem alvos
da nossa curiosidade. Saí com um aperto no peito. Apetecia-me falar com eles,
ouvir as suas histórias, aplaudir a sua coragem e encorajá-los um bocadinho,
mas na verdade o que eles precisam agora – além de que os senhores que mandam
na UE se decidam a despachar, em vez de passarem o tempo com conversetas – é de protecção para o frio que aí vem. Roupas
quentes e, sobretudo, sacos-cama.
Entregámos a Mifi da Mada e o carrinho do Pedro a dois miúdos
que corriam por ali e saímos com o coração apertadinho, a pensar neles e a
pensar que podíamos ser nós, que podiam ser os nossos filhos a correr numa
estação de comboios, sem uma casa e sem um porto de abrigo.
[As Famílias como as Nossas vão voltar a meter-se à estrada
em direcção à Sérvia, Croácia, Eslovénia e Áustria e estão a fazer uma angariação de fundos e uma campanha de recolha de donativos. Uma ajuda pequena (eles são tantos, e precisam de tanto…), mas uma ajuda. ]
[A foto é da Visão, que fez belos trabalhos jornalísticos em
Viena]