terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ainda a visita à Laurinha

Sabes, mãe, eu tenho três amigas: a Beatriz, a gatinha e a Laurinha. Disse-me isto, mas depois ficou ali a matutar, qualquer coisa a preocupá-la. Mas se calhar a Beatriz [a amiga da escola preferida no momento] quando conhecer a Laurinha, fica zangada. Ora, zangada porquê? Porque ela não a conhece. Não fica nada, ela vai gostar da Laurinha, porque a Laurinha é tua amiga. Pois...

(Desconfio que não lhe consegui tirar as dúvidas. Compreensíveis, aliás, que isto de juntar amigos que não se conhecem uns aos outros pode muito bem dar confusão.)

Palavra nova

No fim-de-semana houve visita a casa da Laurinha. Mada primeiro não queria ir, depois não queria vir para casa, tal foi a animação. E agora, já passados vários dias, continua a falar no assunto. Sabes mãe, dizia-me, quando cheguei a casa da Laurinha fiquei "decepcionada". Ai sim, então? fiquei assim calada, percebes? Ah, ficaste nervosa, foi? Sim, foi isso, mas depois passou e gostei muito.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A minha querida chucha

Mada há já um bom par de meses que praticamente não se lembra da chucha durante o dia. Dorme sem ela na escola e só a pede já em casa, na hora de ir para a cama. Apesar disso, suspeito que a bela da chucha já fez alguns estragos na dentadura de dona princesa, que nos hão-de sair muito caros na factura do dentista daqui a uns anos. Isto para não falar na dependência que a coisa provoca e por ai fora. Em resumo, tenho andado a ver se a convenço a largar a chucha de uma vez por todas e agora concordámos que o grande dia chegaria quando ela fizesse quatro anos. Lá naquela cabecinha, ainda deve faltar uma eternidade para esse momento, porque, quando lhe falo na chucha, limita-se a olhar para mim e a estender a mão, com quatro dedinhos espetados e o ar de quem diz, não me chateies mais com isso.
Ontem disse-lhe que se calhar, quando ela fizesse quatro anos, podíamos chamar a fada das chuchas, uma senhora muito simpática que foi de grande ajuda à Laurinha, segundo me contou a Catarina, mamã da dita.
Mada pensou um bocadinho e achou que não era boa ideia. Então e o que fazes à chucha, perguntei-lhe. Ponho-a no lixo. E no lixo lá de fora, da rua? Não, no nosso aqui de casa. Mas olha que depois já não a podes tirar. Porquê? Porque as coisas do lixo estão sujas. A minha chuchinha não é suja, mamã, disse-me, muito ofendida e dando a conversa por terminada.
Moral da história: isto não vai ser nada fácil, não

Mada a negociadora

De manhã, como [quase] sempre, uma choradeira de todo o tamanho no momento de escolher a roupa. Recusa-se a pôr calças, mesmo que lá fora esteja um frio de rachar, porque agora só gosta de saia. E não é uma saia qualquer: é a de ganga ou a das flores, que ganhou no Natal. Vestidos, também não a animam muito e só se resigna nas escolhas nos dias que tem ginástica.
Hoje recusei-me a por-lhe a saia de ganga pela enésima vez mas concedi, então levas um vestido, pronto. Não queria, que não queria, e vá de desatar no choro do costume,a ver se me vergava. Se a coisa tivesse continuado na base da conversa, ainda vá, mas assim, com birra, não podia ser, por isso lá pôs o vestido, muito a contragosto e sempre sob protesto. Finalmente, resignou-se. Parou o choro e voltou a Madalena animada e bem disposta do costume. Tanto que já só queria brincar com tudo o que lhe aparecia à frente e que, logo por azar, foi um camião do Pedro, que anda sozinho e toca uma musica altíssima e absolutamente pavorosa. Era mesmo aquilo que ela queria e não admitia negas: oh mãe, eu já fiz a tua vontade, agora tens de fazer a minha. Vontade, qual vontade, perguntei eu, distraida, já esquecida da birra matinal. A vontade do vestido mamã. Ah, pois, ok. E tive de engolir os argumentos, que se quero que ela ceda, tenho de conseguir fazer o mesmo.
Ora bem, dona princesa tem três anos e meio, como ela anuncia orgulhosamente. Quando tiver sete ou oito, ou quando for uma adolescente na idade do armário, nem quero imaginar como será a argumentação...

domingo, 22 de janeiro de 2012

Pequeno momento de ternura

Tirou a chucha à irmã e fugiu com ela. Madalena, que é uma paz de alma e nunca se volta a ele, ficou chateadíssima e desatou a chorar. Pedrinho ainda hesitou um pouco, mas decidiu devolver o que tinha tirado ao mesmo tempo que mimava a mana com festinhas na cabeça. Depois foi à vida dele.

Dicionário do Pedrinho

Mama
Papa
Ma (mamã quando me chama e eu não lhe respondo logo)
Bebé
Ba (a avó Fátinha jura que é ele a dizer avó)
Ho, ho, ho (a gargalhada do pai Natal)

E pronto, assim de repente, não me lembro de mais nenhuma.
E só não desespero e vou a correr procurar um médico porque toda a gente diz que eu sou maluca, que ele lá tem os seus timings e que quando se decidir a falar a coisa há-de sair perfeitinha, as palavras todas que ele andou a aprender e a guardar durante todo este tempo.
Na escola, a Tina, a educadora, fez a primeira avaliação ao rapaz e a folha veio cheia da cruzinhas na coluna do "totalmente alcançado". Faltam algumas, naturalmente (ou, melhor, faltam todas) nos itens que têm, de alguma forma, a ver com a fala. Muito angustiada lá fui falar com ela que, do alto dos seus 30 anos de experiência como educadora de infância, me garantiu que não há nada de errado com senhor Pedro. E o que é certo é que ele comunica cada vez melhor connosco, percebe lindamente tudo o que lhe dizemos e mostra o que quer, lá à maneira dele. Está a crescer, o meu filho.

Pequeno relatório

Depois de mais de uma semana de ranho, tosse e noites mal-dormidas, os rebentos regressam amanhã à escola. Dona Madalena já anunciou que não lhe apetece e antecipo um pequeno drama matinal, mas não há-de ser nada.
Amanhã é um dia muito importante, em que retomamos a nossa firme decisão de acordar cedo e tomar o pequeno almoço em casa. Um pequeno almoço à séria, com cornflakes e sumo de laranja, uma decisão de ano novo que conseguimos cumprir, no máximo, durante a primeira semana de Janeiro. Mas desta é que é.
Também é o dia em que mudo para a nova redacção, que me vai obrigar a percursos mais longos de Metro e que me exigirá, também, mais disciplina na escrita, por forma a conseguir sair cedo.
Em suma, é todo um mundo novo que se abre, cheio de novidades palpitantes, ou não estivéssemos também a entrar no novo ano chinês, que por acaso até é o ano do dragão, coisa que não entusiasmou o homem cá de casa - qualquer coisa a ver com o futebol -, mas que me deixa a mim bastante animada. Afinal, parece que o ano do dragão é muito poderoso e costuma trazer coisas boas. Assim sendo, além de paciência para acordar cedo e me pôr a espremer laranjas, quem sabe se não é desta que os bons ventos orientais me fazem finalmente acertar no totoloto.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Conselhos de filha

Madalena já foi à escola e, sem febre, anda muito bem disposta. Pedrinho nem por isso. Continua ranhoso, ligeiramente febril e com uma respiração semelhante à do papá quando ressona à noite. Também não anda com muito apetite, recusa-se a comer sopa e só aceita o que bem lhe apetece, tal como salsichas, hamburgueres ou douradinhos e iogurte líquido de morando. Se por acaso me atrevo a insistir, abre a goela e desata num berreiro que se ouve no prédio todo e que, além disso, deixa a mana muito preocupada e pronta a saltar em sua defesa. Mamã, porque é que ele está a chorar? Porque não quer jantar, respondo eu, muito paciente, acabadinha de ser mimoseada com vários salpicos de sopa que senhor Pedro cuspiu. Sabes, mãe, as pessoas quando estão doentes não querem comer e as pessoas quando estão doentes só comem o que querem comer, sabias mãe? Pois, mas ele é pequenino, tem de comer para crescer e ficar assim grande como tu. Não faz mal, come amanhã, remata ela, no mesmo momento em que ele consegue deitar mão à chucha e a enfia na boca a servir de rolha.
Perante isto, desisti. Logo come amanhã...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Tareia

Estão os dois doentes. Pela primeira vez ao mesmo tempo. E a mim, se me tivessem dado uma tareia, o efeito seria o mesmo. Dói-me o corpo e dói-me o coração de os ver assim.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Lágrimas na escola

Hoje de manhã deixei a minha filha na escola e vi-me a mim própria, no recreio da Escola de Cima, a chorar compulsivamente, quero a minha mamã, quero a minha mamã. Acho que ainda me consigo lembrar das lágrimas na cara, do peito a subir e a descer com os soluços, da sensação de abandono, porque a minha mãe me tinha lá deixado. Eu tinha seis anos, estava na escola pela primeira vez. Nunca fui ao infantário, que em Castro Verde, no início dos anos 70, ainda não havia essas modernices, e a entrada na primária foi um choque. A escola era a mesma que é hoje, mas o jardim que lá está agora era, então, um descampado cheio de ervas no Inverno e pastos no Verão. O recreio, minúsculo, parecia-me enorme, enorme, e só há uns anos, quando lá voltei, lhe tirei as medidas reais. A escola foi um sofrimento que depois se tornou numa alegria, mas a lembrança daquele choro nunca mais me largou. E hoje voltou, de repente, quando a Lena me tirou do colo uma Madalena a soluçar quero a minha mamã, quero a minha mamã. Saí de lá com o coração nas mãos como há-de ter acontecido há trinta anos com a minha mãe. Mais tarde disseram-me da escola que ela estava óptima, mas hoje não descanso enquanto não a abraçar novamente.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Uma aventura à volta do mundo




Era uma vez uma família, um pai, uma mãe e uma filha, que resolveram ir dar um passeio à volta do mundo. A mãe largou o emprego, a filha despediu-se dos amigos do infantário, o pai continuou a fazer o que já fazia antes e que era dedicar-se a escrever sobre viagens, e lá foram os três.
Ou, melhor, lá vão os três. Partem amanhã, na primeira das muitas viagens de avião que têm planeadas para o próximo ano. E eu, que não os conheço a não ser pela internet, mas gostava de ser amiga deles, vou segui-los nesta aventura que gostaria de ser eu a fazer, que exige coragem e uns pozinhos de maluquice à mistura e que há-de ser, seguramente, uma coisa inesquecível e da qual não hão-de voltar as mesmas pessoas. Boa viagem. Afinal, como escreve a Luísa, "a nossa casa é onde estivermos juntos. Em qualquer lugar do mundo."

domingo, 1 de janeiro de 2012

2011 foi o ano em que...

... O euro entrou em crise.

A Grécia esteve quase para sair e Portugal a seguir-lhe as pisadas.

Angela Merkel provocou muitas dores de cabeça a toda a gente.

As agências de rating também.

Sócrates caiu e Passos Coelho chegou a primeiro (e o Portas a MNE)

Cavaco foi reeleito, para grande desgosto meu.

Houve uma mulher na presidência da AR (Assunção Esteves), outra à frente do FMI (Lagarde) e outra (Dilma) a liderar os destinos dos brasileiros.

A troika chegou cá e deu a volta a isto.

O país fez uma greve geral e o Pedro e a Madalena andaram nas manifes.

Houve uma Primavera Árabe que ainda não se sabe o que há-de dar, mas esperamos que tenha sido um pontapé de saída para um mundo melhor (senão para que terá servido a Praça Tahrir?).
O fado foi património cultural da humanidade.

O Benfica não ganhou o campeonato, mas devia ter ganho.


E assim de repente não me lembro de mais nada, a não ser que tenho os filhos mais lindos e maravilhosos do mundo e que tivemos os quatro as melhores férias de sempre.


Também houve muito trabalho. E chatices no trabalho. E momentos menos felizes. E pessoas de quem gostávamos que foram embora. Mas estivemos juntos e isso - desculpem lá o umbiguismo, queridos leitores - foi a coisa mais importante deste ano.