quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Uma pérola por dia # 7

À conversa comigo depois de um telefonema do avô:
- Eu gosto muito do meu avô Maneli, diz ela, numa bela pronuncia alentejana. O meu avô sabe muitas coisas.
- Que coisas, Madalena?
- Sabe muitas histórias.

(ai o avô babado, ai, ai...)

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Uma pérola por dia # 6

Dona Madalena já domina perfeitamente as relações familiares. Sabe quem é pai de quem, mãe, irmão, tio e por aí fora. Depois, quando brinca com a boneca favorita - o João - aplica os seus conhecimentos às histórias que inventa. Ela é a mãe do João, eu a avó do João, o pai o avô do João. O Pedro também entra e ontem, decidiu ela, era "o Rui do João".

(O Rui, para quem não sabe, é o tio da Madalena)

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Dez meses de Pedrinho

Dez meses de descobertas, o meu pequenino enrugado e vermelhusco tornou-se num menino lindo, com um sorriso maravilhoso, sempre atrás da mamã, a dar miminhos e beijinhos. Está grande, redondinho, come lindamente, e corre pela casa atrás da mana não vá ela fugir-lhe. Foram dez meses tão rápidos, tão rápidos que quando me ponho a pensar nisso ainda me parece que foi há dois dias que ele resolveu sair cá para fora. Anda tão excitado com o que pode fazer, agora que gatinha furiosamente por todo o lado, que se recusa a dormir mais do que o estritamente necessário. Por outras palavras, de vez em quando, a meio da noite, lá está ele de pé na caminha, a refilar connosco porque não lhe ligamos nenhuma. E o pior é que não adianta não lhe ligar. Isto vai ter de ser pago com juros, meu menino. Prepara-te!

domingo, 26 de dezembro de 2010

Natal

Foi primeiro no Alentejo, com direito a Pai Natal vestido a rigor, que trouxe um gorro e um cachecol da Kitty, mais o tão esperado cavalinho, mais jogos, livros, roupas, num carrossel de prendas para um e para outro, que até eu já estava pronta.
Depois foi em Lisboa, com mais jogos, roupas, livros, uma máquina de fazer café com água à séria e um adorado computador do Noddy que já deu origem a várias fraternais discussões. Mais uma inundação de presentes, dos quais uma boa parte já foi devidamente arrumada no cimo do roupeiro para voltar a ser distribuída em doses mais reduzidas e periódicas.
O Pai Natal não veio para Lisboa, mas dona Mada explicou muito bem à avó Gracinha que o tinha visto no Alentejo, que, aliás, toda a gente o viu menos o avô Manel, que nesse preciso momento estava na casa de banho por ter comido muitos doces.
Foi o terceiro Natal da minha pequenina, o primeiro do meu pequenino e um dos melhores da minha vida, porque tê-los comigo é a maior prenda que alguma vez eu poderia ter (vá lá, no meu papel de mãe destas duas criaturinhas maravilhosas, tenho o direito a ser um bocadinho pirosa, certo?...)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Pai babado

Anda a aprender as cores, mas ainda é um bocadito trapalhona. Hoje, a caminho da escola íamos a treinar com os carros estacionados. Este é verde, aquele é azul, aquele... aquele não lembro, diz ela. Vá lá, Mada, tu sabes. De que cor é aquele? insisto. Resposta airosa: aquele... é cor do Benfica.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Lição filial

Olha, papá, o livro da Kitty, para pintar!
Traz os lápis e pintamos aqui, responde o Sérgio, sentado no sofá, embrulhado numa manta.
Aqui não, papá. O sofá fica muito sujo! Pintar é na mesa. Ai, ai, ai papá!

Entretanto já pintaram, já fizeram bonecos de plasticina, e agora andam a correr pela casa a brincar às escondidas. Um, três, seis, catorze, conta ela, excitadissima, e lá vai, a correr pelo corredor fora, linda e maravilhosa.

Domingo em família

Domingo, nove da manhã. Madalena, com infecção respiratória, chora furiosamente porque não quer fazer aerossois, não quer antibiótico, não quer nada. Pedro acorda com o barulho e recusa-se a continuar na cama. Mamã deita-se mais um bocadinho com Dona Mada, a ver se a acalma. Pai levanta-se, trôpego e estremunhado, e vai para a sala fazer legos com Pedrinho. Mada Adormece, finalmente. Pedro desata aos berros porque quer mais leitinho e ainda continua com sono. Papá levanta-se do sofá, ainda trôpego e estremunhado, e vai fazer mais um biberão. Finalmente as duas crias adormecem. São dez da manhã e vamos finalmente tomar o pequeno almoço. As torradas e os corn flakes estão prontos e nós instalamo-nos no sofá a ver as manchetes de Domingo na Net. Passam cinco minutos, talvez dez, de puro sossego, até que uma vozinha ecoa pela casa: quero mamã, quero fazer cocó, quero, quero, quero...

sábado, 18 de dezembro de 2010

Coração de mãe

"E há um dia em que no coração de mãe nascem flores... Quando descobre que vai nascer outro filho"

(Para a minha amiga querida que descobriu que vai ser mãe e está em pânico. Isabel Minhós Martins, Coração de Mãe)

Uma pérola por dia # 5

Dona Mada, sentada no sofá a tentar encaixar uma peça mais difícil no seu puzzle de madeira, sai-se de repente com esta: Oh, não, caraças! Olho para ela e pergunto, muito suavemente: O que disseste, filha? Caraças, respondeu-me, já num tom informativo, uma vez que a peça tinha finalmente encaixado. A conversa ficou por ali.

E não, dona avó, a culpa não é minha, que nem tenho o hábito de usar tal expressão. E o pai ainda menos, que que nas três vezes por ano em que realmente perde a paciência usa outras bastante piores.


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Homo erectus

Agora, além de gatinhar a 200 à hora pela casa toda, senhor Pedro descobriu que, fazendo um bocadinho de força na pernoca, agarrando a mão ao que calha, consegue levantar-se e ficar de pé. O facto de já ter desandado para trás uma meia dúzia de vezes, batendo com a carola no chão, foi coisa que não o demoveu. Tanto que acorda a meio da noite e quando dou conta lá está ele, de pé, agarrado às grades da cama, em regra já a choramingar porque o leite está a demorar muito. Quando está de barriga cheia, brinda-me com um orgulhoso sorriso, como quem diz, estás a ver,mamã, o que eu já consigo fazer?
A vontade de estar de pé é de tal ordem que corre atrás de mim, trepa pelas minhas pernas acima e agarra-se com unhas e dentes. Literalmente, porque até fico com marcas dos dois dentinhos de baixo e dois de cima. Depois, quando lhe pego ao colo, dá-me beijinhos. Beijinhos a sério, com a boquinha aberta, daqueles que me deixam com a cara cheia de baba e o coração apertadinho de felicidade.
O meu homem pequenino está a crescer.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Uma pérola por dia # 4

Sérgio - Anda cá, filha, que eu ajudo-te a vestir o casaco.
Madalena vai, muito obediente, mas avisa: - A mãe e o pai estão cá para ajudar.

Ora toma, papá, para o caso de alguma vez te teres esquecido.

(A frase é da música do Ruca, os desenhos animados favoritos do momento)

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Uma pérola por dia # 3

Esta é para eu não me esquecer de ser sempre simpática e paciente para a minha filha linda, mesmo quando estou cansada e irritada e tenho de lavar um bacio todo sujo)

Eu, num tom ligeiramente esganiçado de quem está a sonhar com um sofá e tem de limpar cocó - Sai daqui, Madalena!
Ela, muito ofendida - Eu fui só ver, mamã, desculpa.
E foi-se embora para a sala. Logo a seguir, naturalmente, sofreu um violento ataque de beijinhos. Estava mesmo a pedi-las.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Uma pérola por dia # 2

Eu - Sérgio, este carro está cheio de merdas! (sim, dona Fátima, bem sei que não se dizem palavrões, mas um carro com os bancos cheios de terra da árvore de Natal justifica uma linguagem um bocadinho mais escatológica...)
Madalena, de imediato - Merdas mãe?
Eu - A mãe enganou-se. Queria dizer pedras. Pedras.
Ela, já instalada na sua cadeirinha, a saborear a palavra nova - Merdas. Merdas.
Achámos melhor fingir que não era nada connosco e ela não voltou a repeti-la. Sabe Deus até quando, que estas antenas, sempre ligadas, são um perigo ...