sábado, 27 de outubro de 2012

Mau feitio

Tudo começou com um apetitoso croissant a espreitar da caixa do pão mesmo antes de irmos jantar. Pedrinho viu e pediu, mamã recusou e começou aí uma das maiores birras de que há memória, com o meu bebé lindo e maravilhoso transformado num monstrinho furioso a quem nem o novo carrinho da avó Gracinha -com a sua música pavorosa, mas que já tem feito milagres - conseguiu acalmar. A coisa foi de tal ordem que senhor Pedro levantou a mão e pimba, bofetada na mamã. Seguiram-se dois segundos de silêncio, durante os quais se evitou o pior, ou seja, uma palmada na mão do Pedro. Em contrapartida, ficou de castigo, sem chucha e sem acesso ao carro da avo Gracinha até parar com a choradeira e pedir desculpa à mamã. Demorou bastante, mas lá se decidiu, já com a Madalena a anunciar que não aguentava mais tamanha gritaria e que ia contar tudo ao papá. Como lá em casa não gostamos de queixinhas, combinámos que seria o próprio Pedro a contar, coisa que ele fez, alegremente, no dia seguinte. Também disse que nunca mais se portava mal, promessa que entretanto já tratou de quebrar. E se isto é assim com dois anos, temo o pior quando tiver em casa um adolescente de voz fininha e barba a despontar, na idade do armário e teimoso que nem uma mula.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Na Floresta da Preguiça


É um livrinho maravilhoso, sobre uma floresta atacada por máquinas que tudo derrubam e levam pela frente, onde mora uma preguiça que dorme, dorme, dorme... Todos os dias o lemos. Primeiro eu, depois Madalena, que já sabe de cor o texto. Pedrinho vai passando as páginas.
E "tudo é verde, tudo é vida, na Floresta da Preguiça".
Obrigada, Ana.

sábado, 13 de outubro de 2012

Bruno

Quando conheci o Bruno ele ainda não era um actor famoso, não aparecia nas novelas da TVI nem se deixava fotografar à noite, no Bairro, com miúdas fãs dos Morangos com Açúcar. Foi há mais de dez anos e vivíamos numa casa que mais parecia um chalé, ali para os lados da Morais Soares. As reuniões de condóminos eram de chorar, às vezes a rir, às vezes nem por isso. Cada um com a sua pancada, cada um a puxar para seu lado, o Bruno sempre calmo e divertido e simpático para toda a gente, a aturar sem se queixar as maluquices das velhotas do prédio. Eu vivia no primeiro direito, ele no segundo. Um dia convidou-me para ir à estreia de uma das suas peças. Não fui, já não me lembro porquê, se calhar porque nessa noite estava a fechar. Ou era Outubro e havia orçamento do Estado. Ou andava tão cansada por fazer milhentas coisas ao mesmo tempo, que pura e simplesmente só me apetecia dormir. Quantas coisas boas já deixei de fazer por isso. Quantas horas não estive com os meus filhos porque me atrasei a escrever um texto e cheguei a casa muito tarde. Quantas vezes me deprimi porque não consegui uma notícia, porque uma outra não me saiu como eu queria, porque o tempo não me chega para tudo, porque me chateei com uma merda qualquer sem a menor importância. Quanto stress, quanta correria.
Ontem, num dia de particular stress - ou não estivéssemos nós em Outubro -, fiquei a saber que o Bruno morreu. Deu-lhe um fanico, o coração falhou-lhe e morreu. Ainda há dias falei com ele. Tem o mesmo nome de um colega meu e liguei-lhe por engano a pedir o contacto de um deputado qualquer. Ainda nos rimos um bocado com isso.
Às vezes penso que me pode acontecer o mesmo. Acho que todos pensamos. Antes punha-me a pensar que era uma chatice se acontecesse e não tivesse as minhas coisas todas organizadas. Agora já não sou só eu mais as minhas coisas desorganizadas e penso é que não posso deixar que uma coisa dessas me aconteça. E que obrigar-me a ter mais alguma qualidade de vida é meio caminho andado para o evitar.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

E quando é que Outubro chega ao fim?

Desde há uns bons anos, praticamente desde que começei a trabalhar e decidi mergulhar nesse maravilhoso mundo que é o jornalismo de economia, que Outubro é um dos meses mais complicados. E a razão, está-se mesmo a ver, tem a ver com o Orçamento do Estado, que é apresentado lá para dia15, dividindo o mês em antes do OE e depois do OE. São semanas muito sofridas, primeiro a antecipar o que ai vem, olhando todos os dias para a concorrência a ver o que descobriu que a nós nos passou ao lado, depois a esmifrar o projecto-lei, a descobrir o que muda, o que fica, e o que está nas entrelinhas. É um sofrimento, mas, ao mesmo tempo, uma excitação e uma animação. Ou seja, vendo a coisa do ponto de vista profissional não é necessariamente uma coisa má, pelo contrário. E no entanto, quando o mês chega ao fim, só apetece ir de férias ou, em alternativa, dormir vários dias seguidos.
Posto isto, eis-nos em pleno mês de Outubro. Ainda estamos na segunda semana e já ando com insónias, a ver as primeiras páginas do dia seguinte no jornal da meia-noite e, o pior de tudo, a chegar a casa a horas vergonhosas, ou seja, nunca antes das nove da noite. Miúdos já jantados, colados à televisão, cheios de birras porque ambos qurem os mimos e a atenção da mãe. Resta uma hora de brincadeira antes de, cheia de pesos na consciência, os enfiar na cama, no meio de muitos choros e protestos, e de os conseguir pôr a dormir, vencidos pelo cansaço.
Afinal, quando é que Outubro chega ao fim?

sábado, 6 de outubro de 2012

Pedrinho foi ao Benfica


Pedrinho lá foi ao Benfica. Cachecol, boné, a artilharia completa. Até a chucha, se bem que essa, mal saiu do carro, foi rapidamente entregue à mamã. Afinal, como lhe tínhamos explicado, meninos bebés não podiam entrar e só os bebés é que usam chucha. Ainda assim, foi preciso pregar uma mentirinha ao senhor da entrada, quando este lhe perguntou se já tinha três anos. Uma mentirinha que, aliás, a Madalena já previa - com ela aconteceu exactamente o mesmo - e que a preocupou durante toda a tarde. Ultrapassado o primeiro percalço, tudo correu sobre rodas. Até o Benfica fez o favor de ganhar, coisa que se impunha, uma vez que era o primeiro jogo de senhor Pedro no estádio. Ainda assim, tivemos uma primeira parte difícil, em que a equipa da casa sofreu um golo logo nos primeiros minutos e, depois, se viu às aranhas para dar a volta ao resultado. Lá se safaram, entre muitos assobios e palavrões, que aqueles adeptos não são para brincadeiras. Pedrinho e Madalena assistiram, impávidos e serenos, mamã a torcer para que não estivessem a juntar palavras novas ao seu vocabulário. No final, à saída do estádio e já de regresso a casa, ainda tivemos um encontro com um tal Ola John, que eu não fazia ideia, mas é uma das novas aquisições do Benfica e - isto é que interessa realmente - tem um Bentley descapotável quase tão giro como o próprio. Parou no trânsito mesmo ao nosso lado e, reconhecendo em nós entusiastas adeptos, baixou o vidro e cumprimentou-nos. E é que o raio do carro era mesmo giro...

P.S.: Para que fique para a história, o Benfica ganhou por 2-1 ao Beira Mar.