terça-feira, 3 de novembro de 2015

Em Viena

Quatro dias os dois, numa cidade desconhecida, um mapa e um guia na mão, museus, jardins, ruas, lojas, cafés com bolos de reis e eu a sentir-me uma princesa, não digo rainha que me faltava por lá a prole. Este ano foi assim, em Viena, na Áustria, e foi muito bom. Uma viagem a dois pela primeira vez em sete anos, mas com a decisão de lá voltar com eles, porque na verdade é muito bom viajar a quatro e, apesar de a dois haver mais tempo para o namoro, sobra-me uma pontinha de tristeza por não os levar comigo.

Num dos passeios, uma passagem por  Hauptbahnhof, uma gigantesca estação de comboios onde se juntam e esperam refugiados sírios. Não sei há quanto tempo lá estão e são, seguramente, muito menos do que em Setembro ou Outubro, quando as Famíliascomo as Nossas lá foram e trouxeram uma família para Portugal. Mas continuam lá, a dormir no chão da estação, crianças pequeninas a correr por ali, rapazes sozinhos de mochila às costas e telemóvel na mão, famílias na fila na zona da alimentação, onde voluntários distribuem fatias de pão, fiambre e fruta. À espera de um bilhete para um futuro que demora em chegar.

Saímos dali rapidamente. Porque não tínhamos grande forma de ajudar, embora nos apetecesse muito, e porque não queríamos que se sentissem alvos da nossa curiosidade. Saí com um aperto no peito. Apetecia-me falar com eles, ouvir as suas histórias, aplaudir a sua coragem e encorajá-los um bocadinho, mas na verdade o que eles precisam agora – além de que os senhores que mandam na UE se decidam a despachar, em vez de passarem o tempo com conversetas – é de protecção para o frio que aí vem. Roupas quentes e, sobretudo, sacos-cama.

Entregámos a Mifi da Mada e o carrinho do Pedro a dois miúdos que corriam por ali e saímos com o coração apertadinho, a pensar neles e a pensar que podíamos ser nós, que podiam ser os nossos filhos a correr numa estação de comboios, sem uma casa e sem um porto de abrigo.

[As Famílias como as Nossas vão voltar a meter-se à estrada em direcção à Sérvia, Croácia, Eslovénia e Áustria e estão a fazer uma angariação de fundos e uma campanha de recolha de donativos. Uma ajuda pequena (eles são tantos, e precisam de tanto…), mas uma ajuda. ]


[A foto é da Visão, que fez belos trabalhos jornalísticos em Viena]

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