sexta-feira, 17 de julho de 2009

Já bate um coração

Parece um coração, ainda que sejam apenas duas placas de células. Bate como um coração e já se vê perfeitamente dentro do saco onde está a placenta. Está lá no meio e parece uma mão a abrir e a fechar, num sorriso para a mãe que olha, deslumbrada, para o ecrã da maquineta.
"Confirma-se, está aqui e já bate", anunciou a Alice, bruta como sempre, porque eram quase quatro da tarde e ainda tinha mais 19 clientes à espera. "Já lhe dei uma filha", lembra-me de vez em quando, e vem-me à memória a imagem dela a fazer-me festas na cara, enquanto a Madalena nascia, por isso desculpo-lhe, mais uma vez, a brusquidão.
Despediu-me com um "vá para casa e seja feliz, não arranje problemas", e eu fui, obediente, ter com a avó Fátima que me esperava lá fora e que soube da novidade enquanto desciamos no elevador. Ficou tão embasbacada que não lhe saiu uma palavra e só mais tarde é que se lembrou de me abraçar.
Foi um dia triste iluminado por esta boa notícia. O avô António havia de ter gostado de saber que vem mais uma benfiquista a caminho. Ou um, que estas certezas que eu tenho têm muito pouco fundamento científico.

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