domingo, 26 de setembro de 2010

Novo amor

O Rui trouxe-lhe um filme da Hello Kitty e agora não quer outra coisa. Senta-se no sofá, o mano ao lado no bumbo, e devora a coisa, acaba e repete, acaba e lá vai ela de dedinho estendido para o play do dvd. Ninguém a ouve. E a ele também não, igualmente concentrado nos desenhos animados (horriveis, por sinal - só para terem uma ideia, o episódio chama-se "Kitty Branca de Neve").
Com tanta paixão televisiva, combinámos que não iriamos além da meia hora diária, depois do banho e enquanto eu e o pai preparamos o jantar.
Hoje a meio da tarde dona Madalena fez birra. Queria a Kitty, porque queria e porque queria. Como não lhe valeram de nada os gritos, resolveu mudar o ângulo de abordagem e fazer birra para... ir tomar banho. Foi uma bela tentativa, temos de concordar. Não estava mal pensado, não senhora.

sábado, 25 de setembro de 2010

Festa no bairro

Então havia uma festa aqui no bairro e nós não iamos? Ná, nem pensar. Até porque havia comida e cerveja alemãs e o homem cá de casa ainda não tinha jantado. Reunidas as condições, lá rumámos ao jardim do Campo dos Mártires da Pátria para a festa 'Munique em Lisboa'. Crianças no carrinho novo, casacos, mantinhas, boina, gatinha, chuchas, maluquice q.b., porque estava frio e já eram quase dez da noite. Afinal valeu a pena. As salsichas eram muito boas, a cerveja também, o Pedro fez um sucesso junto das miudas loiras com a sua boina, o carrinho de dois lugares também e conseguimos voltar para casa sem perder nenhum dos rebentos. Estamos a ficar peritos nestas saídas, por isso tomámos uma decisão importante: no próximo Verão retomamos os nossos planos de visitar todas as capitais europeias e avançamos para Berlim. Não é pela cerveja nem (seguramente) pela comida, é porque em Berlim as ruas são muito direitinhas e não há cá colinas como na nossa querida cidade, em que empurrar um carrinho com duas crianças é tão fácil como uma sessão de alterofilismo.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Primeiras frases

"Mamã, ajuda a abrir a cama pequenina."
A frase saiu-lhe assim, com as palavras e os artigos definidos na ordem certa.
A cama pequenina é a cama de gaveta, por baixo da cama dela, que abrimos todas as noites para o caso de dar meia volta e se estatelar lá em baixo.
Antes tinha pedido para ir à sanita fazer xixi e depois foi lavar os dentes.
É o meu orgulho, esta rapariga.

domingo, 19 de setembro de 2010

Dez coisas

Sobre o senhor Pedro

1. Tem o sorriso mais charmoso do mundo
2. Come sopa como se o mundo fosse acabar daí a pouco. Devora, mais exactamente. E isto depois de um começo difícil, em que achei que ele nunca na vida ia comer mais nada senão leite
3. Refila imenso antes de dormir, como quem acha que dormir é uma enorme perda de tempo com tantas coisas para ver e aprender
4. Adormece sempre para o lado esquerdo. Às vezes, durante a noite dá mesmo a volta completa e vou dar com ele de barriga para baixo, com o nariz completamente esborrachado e vermelho
5. Inunda o quarto de cada vez que toma banho, tal é a hidroginástica que faz na banheira. No fim acabo quase tão molhada como ele
6. Não gosta de água na cara
7. Com quase sete meses, continua a acordar pelo menos uma vez durante a noite para mamar
8. Tem um sono muito leve e mal acendemos a luz no quarto resmunga logo
9. Já consegue gatinhar um pouco, mas só se movimenta para trás, tipo caranguejo
10. Derrete-se todo com a mana e se a apanha desprevenida mimoseia-a com festinhas e puxões de cabelos. Lindos ao lado um do outro...
Senhor Pedro tem seis meses e três semanas

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Tal pai, tal filhos

O mais pequeno na sua espreguiçadeira, ela ao lado, sentada no tapete, e o pai devidamente refastelado no sofá. Na televisão está o Noddy, o mesmo filme, com a história da estrela cadente, a passar pela enésima vez. Não se ouve mais nada, tal é a concentração. São os trinta minutos diários de televisão a que estão autorizados e é preciso aproveitá-los bem. Papá e meninos, os três mergulhados nos desenhos animados. Apetece-e ir lá e abraçá-los aos três com muita força, mas não me atrevo porque provavelmente iam correr comigo dali para fora. Assim sendo fico aqui, de longe, a observá-los. Tão maravilhosos. Meus.

Quem é, mamã?


Praça de Londres e Jardim Zoológico de Lisboa, nos anos 70.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Dez coisas

Sobre dona princesa

1. Continua linda e maravilhosa
2. Está na fase do "qué isto,mamã?" e, cusca como é, repete a pergunta até à exaustão e por tudo e por nada
3. Come sozinha quando não lhe dá a preguiça e praticamente sem cair nada. O iogurte é o mais difícil, mas não se deixa intimidar
4. Faz xixi e cocó na sanita quando calha e não lhe dá a preguiça. Depois limpa conscienciosamente o rabiosque, puxa o autoclismo e diz adeus à coisa
5. Deixou de adormecer sozinha e agora obriga-me a mim ou ao pai a ficarmos com ela até lhe dar o sono
6. Acorda durante a noite com frequência, coisa que antes era raro acontecer, pede leitinho e insiste em vir comigo buscá-lo à cozinha: "Fica aí, Madalena", "Não, qué ir também", diz, e nada a demove
7. Não larga a gatinha nem por nada. Leva-a para todo o lado,inclusivé para a escola e não há maneira de a convencer que é preciso dar-lhe banho. Era branca, mas neste momento já adquiriu um belo tom de cinzento
8. Deixou de chamar "Body" ao Noddy e anda apaixonada por um filme do dito, oferta do Francisco que já é um menino crescido e agora prefere outras coisas
9. Anda obcecada pelo Mafarrico e pelo Sonso, os dois gnomos maus dos filmes do Noddy. Diz que são feios e quando aparecem salta rapidamente para o colo do pai
10. Anda sozinha no escorrega e está um mimo a subir e a descer escadas
Dona princesa tem 27 meses e uns pózinhos

domingo, 12 de setembro de 2010

É para que vejam, meninos...

Rita e Pedro
A Rita tem 34 anos. O Pedro tem 17. Conhecem-se desde sempre. Ela era amiga da mãe dele e fazia de baby sitter. Mas isso foi há muito tempo. O Pedro Cresceu e um dia caiu-lhe na cama. 16 anos, acabados de celebrar com bolo, velas, avós e tios. A Rita, que é casada há dez anos, deixou de ter dores de cabeça à noite e descobriu que está com muito menos rugas. Vai divorciar-se. Estão à espera que o Pedro faça 18 anos para comunicar ao mundo. Entretanto, ela passou a escrever SMS com "k" em vez de "que", ouve menos ópera, começou a comprar as últimas novidades do rock e leva a vida colada ao telefone, à espera de uma das 324 chamadas diárias. Também deixou de ser a melhor amiga da mãe dele.


Era 2004 quando escrevi este texto. A Rita e o Pedro, que não se chamam assim, naturalmente, ainda não viviam juntos. Ela continuava em casa, com o agora ex-marido, à espera do divórcio, ele continuava em casa dos pais, a ir todos os dias para a escola como qualquer outro adolescente.
Nos seis anos que entretanto se passaram aconteceu muita coisa. Aconteceu um divórcio, depois um casamento, uma casa nova, muita gente lhes virou as costas, muita gente comentou, muita gente ficou a falar na rua quando eles passavam, apaixonados, decididos a não se deixar intimidar.
Nestes seis anos, a Rita voltou a ser (quase) amiga da mãe do Pedro. Continuam a viver juntos. Estão felizes um com o outro. Ele tem 23 anos, está a terminar a faculdade. Ela também voltou a estudar e acabou o curso no ano passado. O filho dela é agora adolescente e vive com os dois.
A Rita e o Pedro têm muito para nos ensinar sobre como a vida é melhor se nos deixarmos de preconceitos bacocos.

Regresso - parte 2

Duas semanas depois de regressada ao trabalho, consegui ir ao ginásio uma vez. Consegui não telefonar mais do que duas vezes por dia para casa, uma antes do almoço, outra a meio da tarde. Consegui não passar o tempo todo a pensar nos meus bebés (o facto de ter escrito quase todos os dias há-de ter ajudado). Consegui sair metade dos dias por volta das sete, outra metade quase às oito. Menos mal, porque dei muitas vezes banho ao Pedro e como ainda é quase Verão consegui em muitos dias ir lá para fora para o jardim, assistir ao pôr-do-sol no baloiço.
Menos mal. Temi que fosse pior. Por outro lado, as coisas pouco mudaram por lá, tirando as caras novas dos estagiários, que são mais que as mães. As fontes são as mesmas, até as notícias são as mesmas. Enfim, pode dizer-se que é reconfortante. Seria (quase) perfeito se eu conseguisse ir três vezes por semana ao ginásio. Assim, e apesar de continuar a ir a pé e a duzentos à hora para não me atrasar, continuo com os mesmos 53 quilos. Blargh.