sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sabe-muito

 Pedrinho continua pouco falador, mas a nós nem nos passa pela cabeça a informação que já acumulou. Hoje descobri que conhece, um a um, todos os personagens do Noddy e que faz apenas uma pequena confusão, perfeitamente normal e compreensível, entre o Sonso e o Mafarrico, os "muito maus", como lhe explica a Madalena.

Também conhece tim-tim por tim-tim a história de "O Meu Balão Vermelho". E os bonecos do jogo dos animais, que tem um elefante, uma girafa, um macaco, entre vários outros, incluindo uma raposa.

Pedrinho gosta de livros e de televisão. E de se pôr à frente da televisão enquanto a mana vê as Winx. E até, mesmo, de vez em quando, de lhe desligar a televisão, o que a deixa chateadíssima.

Pedrinho faz desenhos e pinturas e pega nos lápis com todo o jeitinho. Também abre e fecha todas as portas e janelas que apanha. E os armários e gavetas. E o caixote do lixo, onde às vezes acha que é uma boa ideia guardar os brinquedos.

Também já aprendeu a lavar os dentes e esfrega até fazer espuma. Depois engole aquilo tudo, mas isso pouco importa, que o principal está feito. E a seguir é ir para a caminha. Enquanto eu ponho a fralda à mana e a deito, no meio de muita converseta, ele bebe o seu biberão sozinho, chama-me para que eu o arrume, vira-se para o lado esquerdo (sempre dormiu para o lado esquerdo) e adormece, com a luz acesa e a irmã ainda a tagarelar.

Pedrinho fez 19 meses e tem o sorriso mais doce, os beijinhos mais molhados e o abraço mais ternurento para a sua mamã.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

E ao 16º dia...

... Pedrinho ficou na escola sem chorar. Saiu do colo da mamã directamente para o da Marta, bracinhos estendidos e ar resignado. Dissemos-lhe adeus e, ao contrário dos dias anteriores, o seu choro não nos perseguiu enquanto descíamos as escadas. Gostei e não gostei ao mesmo tempo, feliz por o ver satisfeito, e um bocadinho receosa de tanta independência do meu rapazinho.

Mais em baixo, na sala azul, mais uma manifestação de independência. Dona Mada e seus amigos, equipados a rigor de bibes e chapéus iguais, preparavam-se para a primeira visita de estudo das suas vidas. Iam descer as escadinhas até aos Restauradores, para assistir a uma apresentação do Toy Story na estação dos CTT. Muito sérios e compenetrados, de mãos dadas numa fila organizadíssima, lá os vimos ir. Na volta, como ela me contaria mais tarde, já ao jantar, subiram "num eléctrico que era um elevador", almoçaram "peixinho com batatinhas" e dormiram "muito, muito", que isto de estar na escola às nove da manhã em ponto, mais as emoções fortes do passeio, há-de ter tido o seu efeito.



quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A escola, ai a escola...

Começou bem, mas acabou-se. Agora chora convulsivamente quando o deixamos na escola. Chora daquela maneira só dele, quase em silêncio, muito triste, muito triste, as lágrimas a escorrerem-lhe à cara abaixo. Depois, quando nos vimos embora, estende os braços e cai o carmo e a trindade. Saio com o coração nas mãos, a sentir-me horrível de o deixar ali e muito embora me garantam que o choro passa logo, que está bem, come bem, dorme a sesta que nem uma pedra.Lá o deixo com a Inês (a educadora) e com a Marta (a auxiliar), ainda sem saber se ele vai gostar delas e se elas lhe vão dar todos os beijinhos que ele precisa e que eu não estarei lá para lhe dar.
Desço as escadas e ainda espreito a sala azul, onde dona Madalena, já de bibe, brinca com os amigos. Feliz e cada vez mais independente. Deixar os filhos ir à vidinha deles não é fácil, não...

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

É óbvio, não é?

Família pronta para sair de casa, atrasada como sempre, e dona Madalena já vestida e calçada, mas ainda estendida na cana, revista das Winx na mão, a fingir que lê (e que bem que ela finge...). Mamã diz-lhe, pela enésima vez, que temos de sair, que já devia estar na escola há que tempos. Ela, já com um ar muito enfadado, responde, na sua lógica imbatível: "Mas tens de ver que eu não quero ir para a escola!"
Foi, naturalmente, mas, como sempre, alegrou o meu dia.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Coisas que ultimamente se ouvem muito cá em casa

"Olha, tu não vais acreditar" (Por tudo e por nada)
"Quero contar-te uma coisa a ti" (Quando a quero deixar no quarto a dormir e ela me quer lá mais um bocadinho)
"Eu não acho" (Também por tudo e por nada, quando me quer contrariar)
"Não é justo" (Quando a tento convencer a comer sopa, por exemplo)
"É uma supresa" (Diz muito baixinho, como se fosse contar um segredo)

terça-feira, 13 de setembro de 2011

1º dia de escola

 Pedrinho foi à escola. Ficou apenas duas horas, mas sentiu-se em casa. Apropriou-se logo de um carrinho, trocou brinquedos com os novos colegas, comeu bolacha maria, correu pelo terraço, e ficou apenas ligeiramente aflito quando se deu conta que nem eu nem o pai lá estávamos, mas não houve lágrimas. Saímos apenas por meia hora e quando voltámos já ele estava instalado à mesa, pronto a almoçar. Não almoçou, mas amanhã se calhar já fica mais tempo. E no dia seguinte fica o dia inteiro. E mais uns tempos e está a entrar no avião, rumo à universidade em Singapura ou noutro sítio esquisito qualquer. O meu menino...

domingo, 11 de setembro de 2011

2001

Há dez anos, Pedro e Madalena, vocês eram ainda apenas projectos. Projectos de futuro, mas de um futuro incerto, que eu não sabia quando aconteceria. Nesse tempo eu viajava, várias vezes por ano, sempre que o trabalho o exigia, saía de casa dois dias ou duas semanas e para trás ficavam apenas os gatos. E aquela era só mais uma viagem ao Brasil, uma semana no Rio de Janeiro a acompanhar os novos investimentos de uma empresa qualquer da qual já me esqueci o nome. Saí de Lisboa no último avião que levantou voo antes de fecharem o espaço aéreo, ainda sem saber que nos Estados Unidos o céu estava a cair em cima da cabeça de toda a gente. Ainda nas salas de espera do aeroporto, vira um pequeno avião a embater contra uma torre e achei que era um daqueles que transportam executivos sem tempo ou sem pachorra para estar nas filas de trânsito. Já no autocarro, em direcção à pista, um amigo telefonou-me a contar que qualquer coisa se passava, mas nessa altura ninguém sabia ainda o que era. Depois, entrei num voo de sete ou oito horas onde só as caras de choro das hospedeiras deixavam antever que alguma coisa de grave se tinha passado. À chegada ao Rio, a aterrar no cockpit, o piloto apontou para um Boeing estacionado na pista e falou-me dos aviões caídos, mas já  só no hotel, de nariz colado à CNN, percebi a dimensão da coisa. E disparei para o telefone, a ligar à minha mãe, que do lado de cá do Atlântico me atendeu num enorme choro de alívio.
Dez anos depois, não se pode dizer que muita coisa tenha mudado no mundo, mas o meu mundo, esse é novo.  Já não viajo como dantes, nem pouco mais ou menos, e vocês são agora os meus principais projectos. Sem vocês nada faria sentido e percebo agora plenamente o choro da minha mãe quando naquele dia 11 de Setembro lhe liguei do Rio de Janeiro.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Um bairro que é uma aldeia

Hoje foi dia de vacina para o Pedrinho. Antes de irmos para o centro de saúde, uma passagem pela farmácia, para comprar a Prevenar, que o nosso sistema nacional de saúde não comparticipa, e mais uma conversa surreal sobre o Calvin. Não tem passado por lá ultimamente, não senhor - costuma esgueirar-se pela porta e passar a noite no escritório, na cadeira da doutora -, mas já tinham tido notícias dele: "esteve cá hoje uma médica do hospital dos Capuchos, que nos disse que ele tinha lá estado".
O nosso gato é assim. Ele é conversa de café, ele é conversa de farmácia, ele é conversa de leitaria... A leitaria da dona Elvira, aqui à frente de casa, é, aliás, o local onde se concentra a maior fatia dos admiradores do Calvin. "É o gato mais inteligente aqui do bairro", comentava hoje o sr. Ramos - o cliente mais assiduo, sempre a dar na cervejola. "E é que é mesmo", concordava outro vizinho, que eu nem conhecia, mas que me contou que o Calvin já tem ido à casa dele, um segundo andar no outro lado da rua.
E pronto, é assim. Eu, que detesto viver numa cidade em que as pessoas não se cumprimentam umas às outras, ando feliz da vida: graças ao meu adorado gato, toda a gente me conhece e mete conversa. Mesmo que não seja pelos meus lindos olhos, mas sim graças às aventuras malucas do Calvin, este bairro já me parece uma aldeia.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Calvin na neurocirurgia

"Está? Daqui fala do Hospital dos Capuchos."
"De onde?"
"Do Hospital dos Capuchos, serviço de neurocirurgia"
"Ah..."
"Queria falar com o dono do Calvin."
"Sou eu..."
"Pode vir buscá-lo?"
"Bem... sim, eu vou. Acha que posso entrar com o carro?"
"Pode, pode, diga ao segurança que vem buscar um gatinho à cirurgia"
E o gatinho lá estava, muito satisfeito consigo próprio, vigiado por duas enfermeiras. Ainda refilou um bocadinho, mas depois acomodou-se no carro e aceitou vir para casa. E desconfio que ainda acenou amavelmente ao segurança quando saiu do hospital.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Vocabulário

A novidade é que ele agora diz mamã. E diz muito bem dito. Ma-mã. E repete, repete, saboreando a palavra. Mas, naturalmente, só diz quando lhe apetece. Depois de um período em que praticamente só dizia carro, foi um grande avanço linguístico. Também diz Á quando quer água, mas na verdade não sabemos se está mesmo a querer dizer água, ou apenas a reclamar por não lha darmos rapidamente. Antes dizia Calvin, mas perdeu o interesse, embora continue em grandes brincadeiras com o gato, ao mesmo tempo que lhe vai perturbando o sono. E pronto, está feito o balanço do riquíssimo vocabulário de senhor Pedro ao completar 18 meses de idade.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Regresso às aulas

Logo no primeiro dia e já fomos de táxi. Madalena e mamã, atrasadíssimas como sempre, ela de vestido branco e sapato azul, roupa toda queque escolhida pela própria, gatinha e chucha que a ansiedade era muita. Quase um mês e meio depois, o regresso à escola, aos amigos de quem ela andava há que tempos a dizer que tinha saudades, à Susana e à Paula, que este ano foi substituída pela Bela, a nova auxiliar. Mudou da sala amarela para a sala azul, tem 24 coleguinhas em vez de nove, já vai fazer as refeições ao refeitório e está a aprender a comer de faca e garfo. Continua a dormir a sesta mas prescindiu definitivamente da fralda durante o dia, agora que foi para uma sala de meninos crescidos. Ainda fez um beicinho quando a deixei lá, mas o desgosto ficou-se por aí. Dona Mada entrou oficialmente no jardim de infância.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Pedrinho, o provocador

Está na fase das provocações. Dizemos-lhe que não, que não pode, e ele olha-nos pelo canto do olho e faz o que bem lhe apetece, com um sorrizinho maroto na cara. Quase sempre finjo que não vejo, ou olho para o outro lado, a fugir à provocação, que isto de estar sempre a dizer que não acaba por banalizar a coisa. Às vezes, porém, lá tem de ser e hoje levou mesmo um piparote na mão porque insistia em mexer na porta do forno, onde eu tinha acabado de enfiar um bolo. Fiquei à espera que desatasse no berreiro do costume, mas não. O rapaz ficou ofendido. E a soluçar baixinho. O queixo a tremer, as lágrimas a escorrerem-lhe à cara abaixo, mas nem um pio, só um olhar zangado e tão infeliz, tão infeliz, que me deu uma dorzinha no peito e tive de o mimar até mais não. Passou-lhe o choro, mas também não voltou a tocar no fogão. E eu lembrei-me das descrições que a avó Gracinha faz do pai dele bebé, que se escondia atrás do sofá para ninguém o ver chorar.