terça-feira, 24 de junho de 2014

Querida tia Júlia

Os primos estavam todos ali, no álbum de fotografias da tia Júlia. Naquele tempo éramos pequenos, viamo-nos muitas vezes nas férias e a Macheira era uma visita obrigatória, mesmo para os que vinham de França ou da Alemanha. Crescemos e foi cada um para seu lado, mas a tia manteve-nos ali a todos, por isso espreitar agora o álbum dela foi também um regresso muito bom àquelas férias. Foi um regresso triste, porque não a voltaremos a ver a acenar-nos no seu pátio cheio de vasos de flores, mas as lembranças são muito boas. As lembranças do terraço dela, de onde se via a serra, dos figos secos e do folar algarvio e das brincadeiras com as meninas da Macheira que também só voltei a ver agora, passados mais de trinta anos. As lembranças das quadras sobre a família que escrevia para o Campaniço e para o jornal de Alte, dos livros que me deu e que ainda guardo lá em casa,  do saco do Algarve e do vestido bordado para a pequena Madalena, que ela via tão poucas vezes, mas de quem falava como se a visse a crescer todos os dias. E, também, as memórias das suas visitas ao Alentejo na Feira de Castro, com a sua filha tão bonita, loirinha e de olhos azuis, e das cartas que trocava com a minha mãe, nos tempos em que ainda se escreviam cartas, querida irmã, como tens passado, eu cá vou como Deus quer, na apanha do figo, da alfarroba, do que fosse, que era preciso ganhar a vida para criar a filha. Uma vida de canseiras, um amor encontrado tarde e perdido cedo. Era uma das minhas tias mais queridas e é lá, no seu pátio cheio de flores, a acenar-me, que a quero recordar sempre.

3 comentários:

graça anibal disse...

Tão lindo, Filomena. Beijo

Catarina Delduque disse...

:) muitos beijinhos

FatimaLança disse...

Obrigada,a minha filha sabe o quanto eu era amiga da tia Julia,ela partiu mas vai estar sempre presente na minha memória.Beijinhos