segunda-feira, 13 de outubro de 2008

amiga

Quando a Luisa a trouxe era apenas uma bolinha de pelo branco, encolhida no fundo de uma cesta. Estávamos em Agosto de 1995 e eu tinha acabado de me mudar para a Rua dos Açores, para a primeira casa só minha, onde podia finalmente ter um gato. Foi uma gatinha, arraçada de siamês e com o mau feitio dos seus antepassados, que logo no primeiro dia mostrou que tencionava ser muito independente e fazer só o que lhe desse na real gana. A casa era um rés-do-chão, com uma pequena varanda que dava para uns telhados e eu, acabada de me mudar para lá, tinha ainda caixotes espalhados por todos os lados. A gatinha fez a sua exploração, foi espreitar a caixa da areia e o prato da comida e depois desapareceu. Procurei nos caixotes todos, na varanda, na rua, e no fim do dia já chorava de infelicidade e frustração quando de repente a vi a sair calmamente de trás do frigorifico, onde passara a tarde a dormir.
Foi a primeira aventura da Mafalda que logo nessa primeira noite saltou para a minha cama e dormiu na almofada, colada ao meu pescoço. Passou a faze-lo todas as noites e no inverno, quando me apanhava a dormir esgueirava-se para dentro dos lençois e lá ficava, a aquecer e a aquecer-me.
A outra grande aventura veio com o primeiro cio. Bastou uma janela aberta, um passeio pelos telhados e um encontro com o vistoso rapaz da vizinhança, que havia vários dias a andava a espreitar. Só se separaram à força de mangueiradas, mas o servicinho já estava feito e dois meses depois nasceram os cinco meninos da minha menina, três gatos e duas gatas.
Um ou dois dias antes ela começou à procura do sítio onde queria parir. Recusou educadamente o ninho que eu lhe fiz e escolheu a prateleira das toalhas, na casa de banho. Não a consegui convencer a mudar de ideias, por isso mudei eu de lá as toalhas e fiquei à espera. Quando chegou o momento, ficámos as duas histéricas. Ela com miados lacinantes, eu que nem uma louca a ligar para os veterinários que tinham o telemóvel nas páginas amarelas e a perguntar se aquilo era normal e o que raio havia eu de fazer àquelas bolinhas ensanguentadas. Que sim, que era normal e que não fizesse nada que ela trataria de tudo. E tratou. Foi quase a noite inteira em trabalho de parto e no dia seguinte lá esta a orgulhosa mamã, já com os seus filhotes muito limpinhos, a amamentá-los com aquele ar muito entendido de quem sabe tudo o que tem a fazer.
Durante dois meses tive seis gatos num T0 e não me atrvia a abrir a porta da varanda não fosse algum deles escapar-se para o telhado. No final ficou só um, o Zorbas, que era igualzinho ao pai e que ficou a fazer companhia à mãe, para que não se lhe voltasse a meter na cabeça fazer mais uma visita ao gatarrão tigrado. E ela, liberta do fardo da maternidade, voltou a dormir na minha cama e a seguir-me para todo o lado. Quando eu chegava a casa lá estava, a esperar-me à porta, e quando eu saía ficava muitas vezes na janela, a miar para a rua que não me demorasse. Às vezes tinha a certeza que me falava com os olhos e não o fazia só para pedir comida. Se eu chorava deitava-se ao meu lado e batia-me com a patinha, se eu me zangava com alguém zangava-se ela ainda mais e mordia-me nas pernas a mandar-me parar. Quando o Rui ficou doente trocou a minha cama pela dele e quando ela própria ficou doente e teve de ser operada, foi ele que ajudou a cuidar dela.
Às vezes dou por mim a olhar para a porta da sala à espera de a ver entrar. Imagino-a ainda a andar pela casa, a sentar-se no tapete enquanto eu tomo duche, a saltar para a bancada enquanto eu faço o jantar ou a pedir que lhe abra a torneira da casa de banho. Tenho saudades da minha gatinha.


Mena, Madalena na barriga e Mafalda

3 comentários:

Unknown disse...

Um grande beijinho

Sofia

Unknown disse...

os amigos não partem, estão sempre vivos no nosso coração.
bj

Blue disse...

Pois...para mim ainda são 10 anos de companhia...Não há nada te diga...nem a mim...