Quando a Luisa a trouxe era apenas uma bolinha de pelo branco, encolhida no fundo de uma cesta. Estávamos em Agosto de 1995 e eu tinha acabado de me mudar para a Rua dos Açores, para a primeira casa só minha, onde podia finalmente ter um gato. Foi uma gatinha, arraçada de siamês e com o mau feitio dos seus antepassados, que logo no primeiro dia mostrou que tencionava ser muito independente e fazer só o que lhe desse na real gana. A casa era um rés-do-chão, com uma pequena varanda que dava para uns telhados e eu, acabada de me mudar para lá, tinha ainda caixotes espalhados por todos os lados. A gatinha fez a sua exploração, foi espreitar a caixa da areia e o prato da comida e depois desapareceu. Procurei nos caixotes todos, na varanda, na rua, e no fim do dia já chorava de infelicidade e frustração quando de repente a vi a sair calmamente de trás do frigorifico, onde passara a tarde a dormir.
Foi a primeira aventura da Mafalda que logo nessa primeira noite saltou para a minha cama e dormiu na almofada, colada ao meu pescoço. Passou a faze-lo todas as noites e no inverno, quando me apanhava a dormir esgueirava-se para dentro dos lençois e lá ficava, a aquecer e a aquecer-me.
A outra grande aventura veio com o primeiro cio. Bastou uma janela aberta, um passeio pelos telhados e um encontro com o vistoso rapaz da vizinhança, que havia vários dias a andava a espreitar. Só se separaram à força de mangueiradas, mas o servicinho já estava feito e dois meses depois nasceram os cinco meninos da minha menina, três gatos e duas gatas.
Um ou dois dias antes ela começou à procura do sítio onde queria parir. Recusou educadamente o ninho que eu lhe fiz e escolheu a prateleira das toalhas, na casa de banho. Não a consegui convencer a mudar de ideias, por isso mudei eu de lá as toalhas e fiquei à espera. Quando chegou o momento, ficámos as duas histéricas. Ela com miados lacinantes, eu que nem uma louca a ligar para os veterinários que tinham o telemóvel nas páginas amarelas e a perguntar se aquilo era normal e o que raio havia eu de fazer àquelas bolinhas ensanguentadas. Que sim, que era normal e que não fizesse nada que ela trataria de tudo. E tratou. Foi quase a noite inteira em trabalho de parto e no dia seguinte lá esta a orgulhosa mamã, já com os seus filhotes muito limpinhos, a amamentá-los com aquele ar muito entendido de quem sabe tudo o que tem a fazer.
Durante dois meses tive seis gatos num T0 e não me atrvia a abrir a porta da varanda não fosse algum deles escapar-se para o telhado. No final ficou só um, o Zorbas, que era igualzinho ao pai e que ficou a fazer companhia à mãe, para que não se lhe voltasse a meter na cabeça fazer mais uma visita ao gatarrão tigrado. E ela, liberta do fardo da maternidade, voltou a dormir na minha cama e a seguir-me para todo o lado. Quando eu chegava a casa lá estava, a esperar-me à porta, e quando eu saía ficava muitas vezes na janela, a miar para a rua que não me demorasse. Às vezes tinha a certeza que me falava com os olhos e não o fazia só para pedir comida. Se eu chorava deitava-se ao meu lado e batia-me com a patinha, se eu me zangava com alguém zangava-se ela ainda mais e mordia-me nas pernas a mandar-me parar. Quando o Rui ficou doente trocou a minha cama pela dele e quando ela própria ficou doente e teve de ser operada, foi ele que ajudou a cuidar dela.
Às vezes dou por mim a olhar para a porta da sala à espera de a ver entrar. Imagino-a ainda a andar pela casa, a sentar-se no tapete enquanto eu tomo duche, a saltar para a bancada enquanto eu faço o jantar ou a pedir que lhe abra a torneira da casa de banho. Tenho saudades da minha gatinha.
Mena, Madalena na barriga e Mafalda
3 comentários:
Um grande beijinho
Sofia
os amigos não partem, estão sempre vivos no nosso coração.
bj
Pois...para mim ainda são 10 anos de companhia...Não há nada te diga...nem a mim...
Enviar um comentário