Sonos difíceis

Nas últimas noites decidiu que não queria adormecer na cama dela. Desconfio que, durante o dia, a Elena nem a contraria e a deixa, pura e simplesmente, dormir a sesta na nossa cama. Nós tentamos contrariá-la, seguindo a receita Brazelton, que consiste basicamente em deixar a criança guinchar um bocadito, levantá-la, voltar a deitá-la, ir dando umas palmadinhas, e por aí fora. Não resultou. A Madalena não só guinchava como se esforçou meticulosamente para acordar os vizinhos brasileiros do quarto andar. E toda a gente do prédio a ouviu, de certezinha absoluta, tirando aquelas meninas que vivem com os brasileiros e que, pelos horários a que saem devem trabalhar numa padaria. A gritaria foi de tal forma, que eu achei que aquilo não podia ser só birra, que ela estava de certeza com uma dor horrivel nalgum sítio que eu não conseguia identificar e pronto, mandei à fava as regras do Brazelton e tirei-a da cama. A dor horrivel parou imediatamente, tal como o choro, e a rapariga enroscou-se calmamente no meu colo e toca de adormecer. O pai começou também a roncar poucos minutos depois e eu lá fiquei, às voltas na cama, a meditar sobre essa grande tarefa que é conseguir educar uma criança. Não é fácil, não...

Hoje acabou de adormecer, verdadeiro anjinho, na caminha dela e rodeada com os seus bonecos. Quem disse que os livros têm sempre razão?