Era uma vez um gato cinzento, de cauda torta, ideias fixas, guloso até mais não poder e conhecido em toda a vizinhança pelas asneiras que fazia, mas também pela meiguice que lhe valia sempre grandes prémios em forma de comida. O gato chamava-se Calvin e há muito que tinha esgotado as suas sete vidas: andou perdido nos jardins da Fundação Mário Soares, foi raptado por uma velhota carente que o fechou em casa dela, apareceu estropiado num veterinário, caiu de um segundo andar e partiu o queixo, perdeu-se e foi parar a uma morgue, de onde um senhor muito simpático telefonou ao dono a avisar, entre muitas outras coisas que nunca ninguém soube porque ele era um gato discreto que não gostava de se gabar das suas aventuras.
Um dia o Calvin não voltou a casa. Ele, que nunca falhava a hora do jantar mais do que dois ou três dias seguidos, pura e simplesmente, desapareceu. Os donos palmilharam o bairro, perguntaram a toda a gente, ficaram a conhecer mais alguns vizinhos de tanto bater às portas e acabaram por desistir, porque o Calvin desapareceu sem deixar rasto. Todas as noites a dona espreitava pela janela da cozinha, não fosse ele aparecer, e o dono dizia a quem o queria ouvir que o gato cinzento de cauda torta estava vivinho da silva e só não vinha para casa porque não o deixavam. Passaram os dias, as semanas, os meses, quatro, cinco, seis, os donos já nem se lembram, porque entretanto muita coisa aconteceu e até lhes nasceu um bebé. Até que ontem, de repente, o dono saiu de manhã para comprar o pão do pequeno almoço e quando voltou para casa, lá estava ele no patamar, à espera que alguém lhe abrisse a porta. Assim como se tivesse saido há dois dias para uma voltinha, como costumava fazer. Entrou em casa muito determinado, cumprimentou o Zorbas - o outro gato da casa - meteu o nariz em todo o lado e foi instalar-se, de ar feliz e regalado no seu canto preferido da marquise. Não contou a ninguém onde passou os últimos meses e os donos também não lhe perguntaram nada. Estão demasiado ocupados em mimá-lo e livrá-lo dos vários milhares de pulgas que lhe invadiram o pelo cinzento.
O que o avô António havia de ter gostado desta história...
4 comentários:
fico feliz pelo Calvin!!! E por voçês claro, mas ele é um felizardo!!
Alguma coisa lhe disse que lá em casa tinha nascido mais uma estrela. Não podia faltar.
Quantas aventuras terá vivido.
Ana Cristina
Por onde terá andado...
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