sábado, 30 de abril de 2011

Ai, ai, ai avó...

- Mamã, estes ténis ficam mesmo bem com esta saia. E os ganchinhos também.
- Tantos ganchos, Madalena! Pareces uma árvore de Natal, digo eu.
- Sou uma Barbie, diz-me ela, toda satisfeita e ignorando as críticas.
- E quem te disse isso?
- Foi a avó Gracinha.

(Dona Princesa não tem uma única Barbie e que eu saiba nunca brincou com nenhuma...)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Roupas usadas

Há dias conheci no Metro a Ângela e a Solângela. Eram duas bebés gémeas, com 23 dias, cada uma no seu ovinho, que viajavam para Loures em hora de ponta com uma mãe a cair de cansaço e aflita para as transportar às duas. Dei-lhe uma ajuda a mudar de linha, fomos falando um bocado e, num impulso, perguntei-lhe se não queria roupas de bebé, que tenho imensas cá em casa que já não servem à Madalena nem ao Pedro. A mãe das gémeas disse que sim, que queria, que com duas as roupas nunca chegam, que é tudo muito caro. Deu-me o telemóvel, pediu-me que lhe desse um toque porque não tinha saldo e combinámos que havíamos de nos encontrar na semana seguinte.
Mandei-lhe um toque e uma mensagem, mas a mãe das gémeas nunca mais me disse nada. É muito provável que nunca venha a saber porquê. Se calhar arrependeu-se. Se calhar pensou que eu era uma maluca a preparar algum golpe. Ou que me estava a armar em boa por ela ser africana. Se calhar o marido não quis. Se calhar o meu impulso foi mesmo uma precipitação da minha parte. Nunca saberei, mas a verdade é que nestas coisas não perco muito tempo a pensar nos meus impulsos e sigo sempre a intuição. Desta vez, pelos vistos, falhou redondamente.

As roupas de bebé, essas continuam aqui, muito bem arrumadas e guardadas. Não gosto da ideia de as levar para a igreja ou para uma instituição qualquer. Preferia oferecê-las a alguém que precise delas e que tenha um rosto e um nome, porque todas as coisas dos meus filhos são preciosas. E porque não acho que seja vergonha nenhuma vestir roupas usadas - o Pedro e a Madalena já o fizeram muitas vezes e nunca lhes fez mal nenhum.

(Se alguém tiver uma sugestão, se conhecer alguém, mande um mail, por favor.)

O meu mês

- Um dia destes vais fazer anos e fazemos uma grande festa, digo-lhe eu para fazer conversa e a ver se a convenço a comer a sopa toda.
- Eu sei, responde-me. É em Maio. E a tia Xanda também. É o meu mês. Qual é o teu mês, mamã?
- É Dezembro, digo-lhe.
- Ai, é muito frio, explica dona princesa, a fingir que se arrepia.
- Quem te ensinou isso tudo?
- Foi a tia Xanda.

domingo, 17 de abril de 2011

Aventura a três

Papá em Frankfurt e senhor Pedro com um peripapo assim por volta das três da manhã. Coisita pouca, vista agora à distância de vários dias, mas um pavor para a mamã, sozinha em casa com as crias, que o vê de repente começar a tremer furiosamente, olhos meio fechados meio abertos, com uma pontinha de febre, mas nada que justificasse aquilo.
Vai daí, ala que se faz tarde e lá vamos nós para o hospital. Nos planos iniciais, dona princesa ficava entregue à vizinha de cima, que, coitada, ainda foi acordada, mas cedo se percebeu que seria impossível convencer a rapariga a ficar na cama. Assim sendo, lá rumámos todos à Estefânia, pijama por baixo, casaco por cima, a dizer ao senhor do táxi que passasse os vermelhos que o miúdo não parava de tremer e ele, muito calmamente, a parar a cada amarelo.
Saímos do hospital às sete e meia da manhã, depois de uma bateria de análises, um Rx, e consultas com dois médicos. Diagnóstico: uma infecção viral, vá para casa, dê-lhe uns supositórios e volte daqui a três dias se entretanto não passar. A temedeira era a febre a subir e os olhos meio fechados, meio abertos, claro, era o sono que o rapaz tinha, em plena madrugada, mas agora é fácil ver as explicações óbvias.
Dona Princesa, entretanto, portou-se à altura e foi vê-la a andar pelos corredores, gatinha numa mão, chucha na outra, a cantar o "balão do João" enquanto esperávamos que o Pedrinho decidisse fazer chichi para a análise.
Foi muito bom. Às oito da manhã estávamos de novo na caminha, eu aliviada, ela toda satisfeita porque tinha andado de taxi duas vezes numa mesma noite e o Pedrinho sem febre.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Ma-ma-ma-ama

Quando está para aí virado, senhor Pedro fala pelos cotovelos. Faz brruuummm. Diz qualquer coisa que se assemelha muito a "água", mas ainda sai um bocadinho diferente e quando quer muito alguma coisa, ou quando está chateado, ou quando faz uma birra, diz Mamã. Ou, mais exactamente, ma-ma-ma-ma. Assim mesmo, repetindo as sílabas, para que não restem dúvidas.

Também começou a bater palminhas, coisa que nunca o tínhamos convencido a fazer. Agora, basta ouvir a palavra e já está. Também repete a gracinha quando está muito excitado com qualquer coisa, por exemplo ir passear à rua ou ver a Galinha Pintadinha no computador.

À noite, na hora de dormir, temos o momento de paz do dia. Sento-me no sofá do quarto, ele aninhado ao meu colo, a mana instalada na cama dela, e conto-lhes a história da noite. Depois uma canção para adormecer, Pedro na caminha dele, beijinho ao mano, beijinho à mana, durmam bem e até amanhã. Pedrinho, que tantas noites mal dormidas me deu, adormece quase de imediato e, tal como dona Madalena, só acorda nove ou dez horas depois.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Tempo

Uma hora. Foi quanto passei hoje à noite com os meus filhos. Cheguei às nove, eles deitam-se às dez, é fazer as contas. A Madalena já tinha jantado, o Pedro ainda não e devorou um prato de sopa em menos de nada. Enquanto ele comia, ela chorava, porque queria colo, porque estava "triste" porque a Inna se tinha ido embora. Acalmou quando me sentei com eles no chão da sala dos livros e com dois brinquedos novos, um para cada um, resgatados da colecção do Natal que ainda estava guardada em cima do armário. Brincámos, lemos histórias, cantámos a canção do sport lisboa e Benfica, fizemos puzzles e de repente estava na hora.
Foi uma hora pequenina, mas foi uma hora boa.
A Madalena faz puzzles a alta velocidade.
O Pedro arruma as peças do lego na caixa uma a uma e depois volta a tirá-las meticulosamente. E rouba os brinquedos à mana. E vai buscar o outro comando da televisão para substituir aquele que eu acabei de lhe surripiar.
Se calhar fazem coisas que eu nem imagino. Se calhar há coisas sobre eles que eu não sei.
Passam mais tempo na escola, ou com a Inna do que comigo.
Os meus filhos pequeninos precisam de mim, eu preciso deles e não tenho mais tempo para lhes dar...

domingo, 3 de abril de 2011

Fim-de-semana no Alentejo

Dona Madalena foi ao parque com o Rui, brincou com a Cláudia e com a Inês, teve miminhos de toda a gente, muitos miminhos, tomou banho na banheira com o Pedro e inundou a casa de banho perante o olhar de desvelo dos avós, brincou às escondidas no quintal com o avô, ajudou a apanhar as alfaces na horta, foi à missa com a mãe e a avó, brincou com a Joana, telefonou para a avó Gracinha, ganhou bolachas da prima Silvina, comeu paio e quijinho fresco até fartar, teve mais miminhos de toda a gente e depois, na hora de vir embora, chorou durante dez minutos, até finalmente adormecer no carro, porque não queria vir para Lisboa, queria era ficar em Castro Verde com a avó e com o avô e, claro, com a mãe.

Senhor Pedro subiu e desceu várias vezes a Ladeira da Carreira, agarrou-se de pé ao galinheiro para espreitar as galinhas, desceu de cabeça o (enorme) degrau da cozinha sem se magoar, quase rasgou as calças de tanto gatinhar pelo quintal, deu voltas e voltas à casa, abriu todos os armários que havia para abrir, andou ao colo de toda a gente, tomou banho de banheira com a Madalena e ajudou a inundar a casa de banho, foi mimado e beijocado até dizer chega (ou não fosse aquele pescocinho completamente irresistível), jogou à bola com o Pedro e depois, na hora de vir embora, sentou-se na sua cadeirinha do carro e adormeceu ao fim de dois minutos.

Moral da história: temos de arranjar tempo para ir mais vezes ao Alentejo. Muitas mais.