domingo, 8 de março de 2009

Dia da Mulher

"As mulheres são diferentes em ciência como são diferentes na vida, nada que influencie o resultado final para melhor ou pior. Se há alguma área onde se destacam será obra do acaso. Mas temos um problema nas carreiras. No início há muitas mulheres e poucos homens e no final as proporções invertem-se. Há uma disparidade enorme. É inaceitável. Têm de conseguir conciliar a vida familiar com as carreiras e, neste caso, acho que são diferentes dos homens. Pesa mais nelas. Primeiro pelo facto biológico de serem elas a ter um filho. Mas há também um facto social. Vejo o enorme stress em que ficam. Sentem que estão a ser más mães. Vejo o pânico quando me vêm dar a notícia de uma gravidez. Os homens são capazes de ser mais desprendidos. Perco pessoas no grupo por causa disso. Perco mulheres. Há soluções imediatas, remendos, que podem ter impacto, como criar uma creche nos institutos. Não tenho dúvidas de que a vida delas seria mais fácil e com menos stress. É claro que o ideal é mudar isto na base cultural, mas essas mudanças demoram gerações. Vivemos uma realidade pragmática. E, agora, elas desaparecem-nos das mãos. As mulheres na ciência que chegam ao topo e que conseguem conciliar a investigação de alto nível com a vida familiar são mulheres milagre. Não tem de ser assim. Elas não deviam precisar fazer milagres."

Miguel Soares
Investigador, Instituto Gulbenkian de Ciência, 41 anos
in: Público, edição de 8 de Março de 2009

1 comentário:

Unknown disse...

pura verdade!!!!!