
Claro que eu reclamava, mas, vista a coisa agora à distância, se calhar era mesmo um bocadito tagarela. E, se calhar, já que o pai é tudo menos falador, a Madalena herdou o meu gene da tagarelice. Deve ter herdado mesmo e de tal forma que, (quase) aos quatro anos, ninguém a pára. A rapariga tem sempre qualquer coisa para dizer, para comentar, para perguntar, para anunciar, e só se cala quando está a ver alguma coisa que gosta na televisão. Mesmo quando está a brincar sozinha, continua a dar à tramela, inventa histórias, inventa diálogos entre as bonecas e as gatinha e até entre os carros do Pedro, se por acaso estiver a brincar com eles. E também fala com o irmão, quando ele está de maré e a deixa chefiar a brincadeira.
Fala, mas fala bem. Sem grandes erros de gramática, tirando um verbo ou outro, que, como toda a gente sabe, os verbos portugueses são quase tão complicados como os franceses. Às vezes fico muito sossegada, em silêncio, só a ouvi-la, e nesses momentos os meus dias melhoram sempre um bocadinho.