quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

post à melhor amiga

É que não havia noite que fossemos dormir sem telefonarmos uma à outra. Ela sabia tudo sobre mim, eu sabia tudo sobre ela, chorávamos e riamos no ombro uma da outra, trocávamos roupa, trocávamos livros, só não trocávamos namorados, porque nunca tivémos os mesmos gostos. Mas trocávamos confidências. Muitas. Apanhávamos bebedeiras e faziamos telefonemas malucos a meio da noite, iamos aos fins-de-semana para a Kapital e na volta cantávamos as músicas do José Cid aos berros no carro dela, só porque era giro e tinha piada. E não houve namorado que nos afastasse, que, afinal, eramos melhores amigas, nesta nossa adolescência tardia (quase) sozinhas em Lisboa.
Ontem encontrei-a. Estava a atravessar uma rua e ela chamou-me. Abraçámo-nos e ficámos ali, à esquina, mas não houve aquela coisa do parece que foi ontem, parece que nunca deixámos de nos ver e de nos telefonar antes de ir dormir. Não houve nada disso, nem palavras que não fossem apenas de circunstência, como estás, o que tens feito, a tua miúda está enorme, com certeza, acho que já não a conheço, e a tua barriga também, qualquer dia és mamã outra vez. Não houve mais nada e em dois minutos despachámos a coisa e despedimo-nos, com ela a garantir que telefona, que vamos combinar um almoço, que temos muita conversa para pôr em dia, e eu fartinha de saber que nunca vai ligar e que também não vai atender os meus telefonemas, nem responder aos meus e-mails, que não vou ver a filha dela crescer e nem ela vai saber das gracinhas dos meus.
Como é que chegámos aqui? Não sei. Mas também não vale a pena saber.
Cheguei ao trabalho cheia de vontade de chorar, mas deve ser porque a gravidez me deixa as hormonas completamente indomáveis. Porque, querida Madalena, como tu um dia também hás-de descobrir, tudo isto faz parte dessa coisa maravilhosa que é... viver.

2 comentários:

Unknown disse...

tu és uma amiga muito especial,nunca mais mandei diarios a ninguém.
bj

Unknown disse...

Pois é, é a vida... mas é triste, dói, e dá de facto vontade de chorar...
Texto lindo.
Rita